São Paulo, domingo, 31 de outubro de 2004

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Fraudes eleitorais são comuns na história dos EUA

DA REDAÇÃO

"MUITOS DAQUELES CARAS no governo devem tudo a mim. Eu os fiz. Sim, eu os fiz da mesma maneira que um alfaiate pega panos e faz um terno... Pego meus rapazes para conseguir os votos. E eles contam e recontam os votos até a conta ficar certa e ele se eleger." Essa frase, dita pelo personagem de Edward G. Robinson no filme "Paixões em Fúria" ("Key Largo", 1948), dá um pouco da idéia da tradição americana de fraudes eleitorais.

A mais famosa das chamadas "máquinas políticas" foi a Tammany Hall, que controlou o Executivo e o Legislativo de Nova York do fim do século 18 até a metade do século passado. Com William Marcy Tweed (1823-78), ou simplesmente "Boss Tweed", como seu mais importante chefe, essa máquina mantinha o domínio da cidade, numa organização hierárquica que ia da prefeitura até o nível de bairros e ruas, por meio de corrupção e concessão de favores, contratos, cargos e empregos em troca de votos.
O último grande representante dessa linhagem de chefes foi Richard J. Daley, prefeito de Chicago entre 1955 e 1976, quando morreu. Historiadores o apontam como um dos maiores responsáveis por John Kennedy ter tornado-se presidente, vencendo Richard Nixon na mais apertada das eleições americanas modernas (apenas 113 mil votos de diferença), em 1960. Kennedy teria ganhado em Illinois, com a ajuda de Daley, e no Texas por meio de fraudes.
Os republicanos chiaram, mas, segundo se diz, o roubo de votos aconteceu por meios que não apareciam em recontagens (por exemplo, colocando-se cédulas a mais nas urnas).
O conservador jornal "Chicago Tribune" chegou a afirmar em suas páginas: "Uma vez que uma eleição foi roubada em Cook County [um dos locais onde houve denúncias], ela permanece roubada".
O respeitado jornalista Seymour Hersh, que em 1998 lançou o livro "The Dark Side of Camelot", uma exposição do "lado negro" de John Kennedy, afirma que um ex-promotor do Departamento da Justiça que ouviu fitas com gravações de escutas telefônicas feitas pelo FBI chegou à conclusão de que Nixon foi roubado em Illinois. Segundo Hersh, essa também era a convicção de J. Edgar Hoover, o poderoso chefe do FBI por quase cinco décadas.
Nixon, que renunciou à Presidência em 1974 por causa do escândalo de Watergate (um caso iniciado com a instalação, por parte dos republicanos, de escuta ilegal na sede do Partido Democrata), em sua autobiografia disse que não contestou a derrota para não criar uma crise institucional.
Um dos maiores ícones da política americana, Kennedy acabou tendo as partes menos nobres de sua biografia apagadas pelas imagens mais impactantes de sua juventude e de seu trágico assassinato. Na sua primeira eleição para um cargo público, o seu poderoso pai tentou afastar os demais candidatos por todos os meios.
Depois que a oferta de dinheiro para que desistissem da candidatura não deu certo, a família Kennedy encontrou uma pessoa que tinha o mesmo nome de um dos candidatos e a inscreveu na eleição (dividindo, assim, os votos entre os dois). O outro rival de peso teve sua campanha inviabilizada depois que os Kennedys fizeram um acordo com o dono do "Boston American" para que o jornal não fizesse nenhuma menção ao candidato nem vendesse a ele espaço para anúncios.
Lyndon Johnson, que herdou a Presidência após o assassinato de Kennedy em 1963, começou a sua carreira no Senado por vias tortas. O biógrafo do político, Robert Caro, cujo trabalho foi premiado com um Pulitzer, apresenta em seu livro até uma foto dos apoiadores de Johnson ao lado de uma urna que foi "extraviada" e permitiu a vitória do futuro senador na prévia que indicou o candidato do Partido Democrata à eleição.
Nos EUA não há as inúmeras exigências que existem no Brasil para a comprovação de identidade -os americanos sequer são obrigados a ter um documento como o RG. Eles partem do saudável princípio de que na maioria dos casos a palavra da pessoa basta. Porém isso facilita bastante na hora das fraudes. São inúmeros os casos de repórteres que, para mostrar a deficiência do sistema eleitoral, registraram animais para votar. A mesma facilidade encontram estrangeiros que residem no país: sabe-se que ao menos oito dos 19 seqüestradores do 11/9 haviam se registrado como eleitores americanos.(VP)

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