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Minha história Paulo Xu, 40

Da panela ao tablet

(...) Consegui um emprego em um restaurante, trabalhava 18 horas por dia (...) Abri a DL em 2004 e devo vender 1 milhão de tablets neste ano

Lucas Lima/Folhapress

ANA MAGALHÃES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

RESUMO O chinês Paulo Xu chegou ao Brasil em 1994 com algum trocado no bolso. No dia seguinte, conseguiu emprego como auxiliar de cozinha. Hoje, 18 anos depois, Xu é presidente da DL, empresa de produtos eletrônicos para as classes C e D. Neste ano, já vendeu 420 mil tablets e deve chegar a 1 milhão de unidades comercializadas até dezembro.

Meu nome verdadeiro é Xu Wei, que, no chinês, significa "fazer devagar". Houve uma revolução cultural na China entre 1966 e 1976 e muitos inocentes foram presos. Um deles foi o meu pai, preso um mês depois que nasci. Quem deu o meu nome foi o meu avô.

Nasci em Nantong, uma cidade famosa porque o primeiro museu da China está lá. Meus pais são de classe média, mas nunca fiz faculdade -terminei apenas o colegial.

Quando eu tinha 24 anos, um amigo do meu pai me ofereceu uma viagem para o Brasil. Eu aceitei. Na época, a China estava começando a se abrir e não era fácil viajar para o exterior.

Cheguei em São Paulo e fiquei impressionado porque o Brasil tem uma coisa muito boa: os brasileiros. São muito simpáticos. Lembro a minha primeira manhã aqui. Fui comprar pão e um senhor falou: "Bom dia". A cultura chinesa é muito fechada, ninguém cumprimenta na rua uma pessoa desconhecida.

A minha imagem do Brasil foi positiva e comecei a querer ficar. Meu amigo sugeriu que eu mudasse meu nome para Paulo Xu.

Com um dia em São Paulo, consegui um emprego em um restaurante. Fiquei muitos anos lá, mas depois aluguei uma lanchonete pequenininha e montei meu próprio restaurante, em Santo Amaro, em 1997.

Eu e minha namorada trabalhávamos 18 horas por dia para termos um diferencial. E tivemos sucesso, conseguimos juntar dinheiro. Virou um dos melhores restaurantes da região.

Se você quer ser uma pessoa de sucesso e quer ter o próprio negócio, tem que buscar um diferencial e tem que trabalhar: enquanto o seu concorrente está tomando cerveja, na praia ou dormindo, você tem que trabalhar.

Antes de montar o seu negócio, é preciso aprender a entender o ser humano. E, se você estiver só pensando em dinheiro, é grande a chance de não dar certo.

Quando eu trabalhava no restaurante, dormia às 2h da manhã e levantava às 5h. O resto do tempo era só trabalho. Hoje tenho um ritmo mais tranquilo aos fins de semana, mas ainda trabalho muito, acima de 18 horas por dia. Ontem eu dormi às 3h e acordei às 6h30. Sinto sono, mas já me acostumei.

Há alguns anos, só encontrávamos a panela de arroz japonesa em lojas especializadas e comecei a pensar em popularizar esse item na família brasileira. Abri, então, a DL em 2004 para importar panelas. Dois anos depois, vendíamos 10 mil panelas por mês. Só que enfrentamos muita dificuldade no início, porque não vendíamos apenas um produto -estávamos querendo mudar a cultura das pessoas.

No final de 2004, quando percebi que não ia vender a panela tão rápido quanto esperava, comecei a produzir reprodutores de MP3 em uma fábrica em Santa Rita do Sapucaí (MG). Hoje, vendemos entre 80 mil e 120 mil aparelhos por mês.

No ano passado, começamos a produzir tablets voltados para as classes C e D. Temos tablets 3D, com GPS e com TV.

Empresas de tecnologia falam que, neste ano, serão vendidos 2,5 milhões de tablets no Brasil, mas eu acho que esse número vai para 5 milhões. Só eu devo vender 1 milhão de tablets até o final do ano -no primeiro semestre, vendemos 420 mil.

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