São Paulo, domingo, 02 de junho de 2002


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FINANÇAS

Criatividade é saída para enfrentar grandes redes

Setor de alimentação vive "duelo" de preços

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Presença maciça nos anúncios de publicidade, lojas espalhadas por toda parte e, agora, preços na casa dos centavos. Não está nada fácil para uma empresa de médio porte competir com as grandes redes no setor de alimentação.
Com uma política de "popularização" dos produtos, o McDonald's reduziu os valores de dois sanduíches em certos dias da semana. O hambúrguer é vendido a R$ 0,79 às terças-feiras, e o cheeseburger, a R$ 0,99 às quintas.
A rede de fast food árabe Habib's já abriu 180 unidades no país apostando na economia de escala. As esfihas, seu principal item, são comercializadas a R$ 0,29 em alguns de seus restaurantes.
Essa estratégia pode fazer com que caia a demanda pelos produtos das empresas concorrentes, avalia Heron do Carmo, 52, economista da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).
Para lojas menores, fica difícil seguir a redução de preços. "O grande engole o pequeno. É o que ocorre também em setores como o de supermercados", diz Alencar Burti, 71, presidente da Associação Comercial de São Paulo.
Tânia Kulb, 40, diretora de marketing do McDonald's, informa que os preços populares "vieram para ficar". Em restaurantes da região do ABC, 16 itens têm sido testados com valores reduzidos em horários específicos.
Para José Augusto Penna, 53, diretor de operações do Habib's, parte do segredo está nos números: a rede demanda 250 mil toneladas de carne e 300 mil toneladas de farinha por mês. "O consumo de matéria-prima nesse volume torna os preços dos nossos "parceiros" mais acessíveis", explica.

Capricho
Como consequência, muitos pequenos comerciantes podem migrar para a informalidade, na opinião de Percival Maricato, 57, presidente do conselho da Associação de Bares e Restaurantes Diferenciados. "O ambulante leva vantagem por não pagar tributo."
Qual é, então, a saída para sobreviver no mercado formal? Heron do Carmo, da Fipe, aponta um caminho: a melhora do produto e a diferenciação do serviço.
"Deve haver investimento em questões triviais, como qualidade do atendimento, capricho no cardápio e limpeza dos banheiros."
Burti, da associação comercial, concorda. "O dono do estabelecimento precisa ser criativo, lançar um novo tipo de sanduíche com um tempero diferenciado", diz.
Ele recomenda ainda a associação entre os pequenos, para obter força de compra e de divulgação.

R$ 0,50
Mas há quem combata as grandes redes com a mesma tática, como a Big Daddy, lanchonete do centro de São Paulo. "Vendemos nosso hambúrguer por R$ 0,50", conta Geovani Romano, gerente.
A rede Tio Mega, com seis lojas na capital, aposta na conjugação de itens variados e preços menores. "Oferecemos 50 tipos de salgado e uma boa diversidade de doces", conta um dos donos, Diógenes Galvão, 53. Os hambúrgueres também saem por R$ 0,50.
A rede diz que compra matéria-prima nas fábricas, em grande quantidade, e paga à vista. Reduziu a margem de lucro por unidade para ganhar no volume total.
Para neutralizar a nova política de preços do McDonald's, uma "operação emergencial" foi efetivada. Diógenes mandou distribuir 30 mil folhetos, que poderiam ser trocados nas suas lanchonetes por uma bola de sorvete. "A resposta foi imediata", diz ele.
(EDSON VALENTE)


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