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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003


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Em SP, convênio para driblar a crise já reúne 62 escolas; encaminhamento é recompensado com seis primeiras mensalidades

Colégios se unem para dar e receber alunos

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Para tentar escapar da crise, 62 escolas particulares do munícipio de São Paulo e de cidades em um raio de até 100 km da capital paulista aderiram a um convênio para "comprar" e "vender" alunos.
A idéia é aproximar as escolas que fecham as portas ou interrompem as atividades em algum período das que podem receber essa demanda. Quem for "doar" alunos recomendará aos pais os demais colégios do convênio, abrindo espaço, inclusive, para que eles façam "propaganda" de seus serviços dentro da escola. Quem for receber repassará ao colégio de origem valor equivalente às seis primeiras mensalidades pagas pelo novo aluno.
A matemática do convênio faz sentido, dizem as escolas. Nesse negócio, o número de alunos por classe é o que determina o sucesso do empreendimento. Como o número de escolas cresce bem mais rapidamente do que o de alunos, praticamente todas as instituições operam com espaço ocioso.
A diminuição do número de escolas é tida como inevitável, por razões de mercado. O objetivo do convênio, batizado de "Negócio" (representando a idéia de combate ao ócio), é tornar esse processo menos doloroso. As operações devem começar em setembro.

Papel higiênico e água
A definição do número máximo de alunos por classe depende ao mesmo tempo de critérios pedagógicos e administrativos. Cada classe deve ter contabilidade em separado: sem comprometer a qualidade do ensino, precisa ter número de alunos suficiente para pagar as próprias despesas, contribuir para o pagamento dos gastos gerais e, é claro, dar lucro.
Para explicar por que vale a pena abrir mão de seis meses de mensalidade, as escolas "brincam" que, ao ocupar uma carteira disponível em uma sala já em funcionamento, o novo aluno só aumenta os gastos com papel higiênico e água. A lógica é a do avião que voa com poltronas vazias.
"Um novo aluno na educação infantil pode ficar na escola por 13 anos", diz Úmile Calasso, diretor do colégio Quarup Novo Mundo, que buscou o convênio para aumentar em até 20% seu alunato.
O Cidade de São Paulo, que iniciou suas atividades neste ano, após a fusão dos tradicionais Logos, Mater Dei e Bem Me Quer, também integra o convênio.
Com cerca de 900 alunos, diz ter espaço para 1.500. Nas classes de 1ª a 4ª séries, onde caberiam 25, há em média 18 alunos; nas turmas de 5ª a 8ª, estudam 27 onde seria possível acomodar 32 ou mesmo 35, sem comprometer a qualidade, explica Sylvio Gomide, do conselho diretor do colégio.
Várias escolas, sobretudo as que vão "vender" alunos, não quiseram dar entrevistas -temem que sua presença no convênio seja vista como sinal de que vão fechar. "Estar no grupo não significa estar mal", lembra João Paulo Nogueira, administrador do convênio e consultor da Ipso Dados.



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