São Paulo, domingo, 14 de outubro de 2007


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Entrevista - Edu Rocha

Para arquiteto, decoração influencia a produtividade

Pessoas produzem muito melhor em lugares bem planejados, bem pensados, agradáveis. Achar que conforto é lixo significa jogar dinheiro fora

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Já que muitos empresários e profissionais passam hoje mais tempo no trabalho do que em casa, é importante que a empresa seja um local confortável -e favorável à produtividade.
É o que defende o arquiteto Edo Rocha, 57, especialista em arquitetura corporativa e responsável por projetos como os da sede da Vivo e da Serasa. Rocha lançou na última terça-feira o livro "Edo Rocha: Arquiteto" (editora Bei, 208 págs., R$ 120). Com soluções que levam em conta aspectos como acústica, funcionalidade, temperatura, ergonomia e luminosidade da empresa, Rocha busca otimizar desempenho de funcionários e produtividade.
Em entrevista à Folha, o arquiteto faz recomendações aos empresários de pequeno porte. (DIOGO BERCITO)

 

FOLHA -

O que é arquitetura em empresas?
EDO ROCHA -
As pessoas passam muito mais tempo da vida no escritório do que em casa, e aparentemente acham que é em casa que precisam ter conforto, um lugar agradável. Mas o escritório também deve ser agradável. A maior diferença é que o escritório tem grande concentração de pessoas por metro quadrado e lá existe grande consumo de energia. É importante que esse espaço seja otimizado de uma forma extremamente eficaz.

FOLHA - O que é essencial levar em conta quando se faz o projeto de uma empresa?
ROCHA -
O primeiro aspecto importante dentro do projeto comercial é conseguir um lugar onde o usuário se sinta bem. A segunda parte é o zoneamento lógico -ou seja, a distribuição dos espaços e das suas funções. Salas de reunião, por exemplo, costumam ficar próximas da entrada. Dessa forma, é possível fazer com que os visitantes não circulem dentro do escritório e não perturbem o seu funcionamento.
Dentro do "sentir-se bem" abre-se um leque de opções, como ergonomia, qualidade do ar, de iluminação e acústica. São itens considerados fatores de conforto. No caso do ar-condicionado, as normas dizem que a temperatura em dias quentes deve ficar sempre entre 23C e 27C e, em dias frios, entre 20C e 25C.
Pessoas produzem muito melhor em lugares bem planejados, bem pensados, agradáveis. Achar que conforto é lixo significa jogar dinheiro fora.

FOLHA - De que forma a tecnologia pode auxiliar a arquitetura de uma empresa?
ROCHA -
Há várias vantagens tecnológicas. A tecnologia é algo que tem de estar em função do homem. Toda tecnologia agregada ao escritório e que de alguma forma faça sentido otimiza o resultado das pessoas. Sou contra tecnologias que criam comprometimento e escravidão de funcionamento.

FOLHA - Como é possível fazer uso de soluções tecnológicas em pequenas e médias empresas?
ROCHA -
Não existem restrições nesse aspecto. Grande parte dos materiais pode ser usada em escritórios pequenos. Obviamente, em determinadas situações, a escala faz com que o projeto não faça sentido para uma empresa menor. Mas isso não significa que a empresa não possa ter determinados produtos inteligentes.

FOLHA - Que produtos inteligentes são esses?
ROCHA -
São determinados produtos que agregam soluções à empresa. Por exemplo, quando o ambiente tem um sensor de presença que detecta as pessoas e, com isso, apaga as luzes quando não há ninguém no escritório. O empresário, nesse caso, está agregando a um item um determinado serviço e vai poder dispensar a idéia de ligar e desligar o interruptor.
Existem também sistemas que fazem com que a luz do seu escritório seja dimmerizada, ou seja, que as lâmpadas regulem a sua luminosidade por meio de um sistema automático. Com isso, o empresário consegue reduzir os gastos com energia. É um serviço inteligente que qualquer estabelecimento, de qualquer porte, pode ter.

FOLHA - No caso de uma empresa com espaço físico fixo e cujo número de funcionários aumentou, como organizar essas pessoas de forma a não prejudicar a produtividade?
ROCHA -
Não existe solução mágica. Existe um tamanho mínimo e um máximo que as construções suportam em termos de número de pessoas por metro quadrado. Isso inclui itens como ar-condicionado, carga térmica e iluminação.
Existe também um limite físico que permite que uma pessoa trabalhe sem prejudicar as outras. De nada adianta eu conseguir reunir muitas pessoas em um lugar pequeno se ninguém vai trabalhar direito. Esses aspectos de produtividade ou de adensamento não dependem de um milagre da arquitetura. Dependem da racionalidade e do limite do projeto.

FOLHA - Que tipo de erro o empresário costuma cometer na arquitetura da sua empresa?
ROCHA -
Há um ditado que não é meu e que todos conhecem: o barato sai caro. Na maior parte das vezes, as pessoas querem o máximo pelo mínimo, e isso é impossível de ser obtido.
Ou se faz o mínimo ou o máximo. Conseguir o máximo pelo preço do mínimo é uma pretensão que geralmente acaba levando a erros de todos os tipos. Há uma quantidade enorme de projetos que ficam tão ruins que precisam ser refeitos.
A cadeira tem que ser confortável, por exemplo. Não adianta querer encontrar atalhos.


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