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Entrevista - Edu Rocha
Para arquiteto, decoração influencia a produtividade
Pessoas produzem muito melhor em lugares bem planejados, bem pensados, agradáveis. Achar que conforto é lixo significa jogar dinheiro fora
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Já que muitos empresários e
profissionais passam hoje mais
tempo no trabalho do que em
casa, é importante que a empresa seja um local confortável
-e favorável à produtividade.
É o que defende o arquiteto
Edo Rocha, 57, especialista em
arquitetura corporativa e responsável por projetos como os
da sede da Vivo e da Serasa.
Rocha lançou na última terça-feira o livro "Edo Rocha: Arquiteto" (editora Bei, 208 págs.,
R$ 120). Com soluções que levam em conta aspectos como
acústica, funcionalidade, temperatura, ergonomia e luminosidade da empresa, Rocha busca otimizar desempenho de
funcionários e produtividade.
Em entrevista à Folha, o arquiteto faz recomendações aos
empresários de pequeno porte.
(DIOGO BERCITO)
FOLHA - O que é arquitetura em
empresas?
EDO ROCHA - As pessoas passam
muito mais tempo da vida no
escritório do que em casa, e
aparentemente acham que é
em casa que precisam ter conforto, um lugar agradável.
Mas o escritório também deve ser agradável. A maior diferença é que o escritório tem
grande concentração de pessoas por metro quadrado e lá
existe grande consumo de
energia. É importante que esse
espaço seja otimizado de uma
forma extremamente eficaz.
FOLHA - O que é essencial levar em
conta quando se faz o projeto de
uma empresa?
ROCHA - O primeiro aspecto
importante dentro do projeto
comercial é conseguir um lugar
onde o usuário se sinta bem.
A segunda parte é o zoneamento lógico -ou seja, a distribuição dos espaços e das suas
funções. Salas de reunião, por
exemplo, costumam ficar próximas da entrada. Dessa forma,
é possível fazer com que os
visitantes não circulem dentro
do escritório e não perturbem
o seu funcionamento.
Dentro do "sentir-se bem"
abre-se um leque de opções, como ergonomia, qualidade do ar,
de iluminação e acústica.
São itens considerados fatores de conforto. No caso do ar-condicionado, as normas dizem
que a temperatura em dias
quentes deve ficar sempre entre 23C e 27C e, em dias frios,
entre 20C e 25C.
Pessoas produzem muito
melhor em lugares bem planejados, bem pensados, agradáveis. Achar que conforto é lixo
significa jogar dinheiro fora.
FOLHA - De que forma a tecnologia
pode auxiliar a arquitetura de uma
empresa?
ROCHA - Há várias vantagens
tecnológicas. A tecnologia é algo que tem de estar em função
do homem. Toda tecnologia
agregada ao escritório e que de
alguma forma faça sentido otimiza o resultado das pessoas.
Sou contra tecnologias que
criam comprometimento e escravidão de funcionamento.
FOLHA - Como é possível fazer uso
de soluções tecnológicas em pequenas e médias empresas?
ROCHA - Não existem restrições nesse aspecto. Grande
parte dos materiais pode ser
usada em escritórios pequenos.
Obviamente, em determinadas situações, a escala faz com
que o projeto não faça sentido
para uma empresa menor.
Mas isso não significa que a
empresa não possa ter determinados produtos inteligentes.
FOLHA - Que produtos inteligentes
são esses?
ROCHA - São determinados
produtos que agregam soluções
à empresa. Por exemplo, quando o ambiente tem um sensor
de presença que detecta as pessoas e, com isso, apaga as luzes
quando não há ninguém no escritório. O empresário, nesse
caso, está agregando a um item
um determinado serviço e vai
poder dispensar a idéia de ligar
e desligar o interruptor.
Existem também sistemas
que fazem com que a luz do seu
escritório seja dimmerizada, ou
seja, que as lâmpadas regulem a
sua luminosidade por meio de
um sistema automático. Com
isso, o empresário consegue reduzir os gastos com energia.
É um serviço inteligente que
qualquer estabelecimento, de
qualquer porte, pode ter.
FOLHA - No caso de uma empresa
com espaço físico fixo e cujo número
de funcionários aumentou, como
organizar essas pessoas de forma a
não prejudicar a produtividade?
ROCHA - Não existe solução
mágica. Existe um tamanho
mínimo e um máximo que as
construções suportam em termos de número de pessoas por
metro quadrado. Isso inclui
itens como ar-condicionado,
carga térmica e iluminação.
Existe também um limite físico que permite que uma pessoa trabalhe sem prejudicar as
outras. De nada adianta eu conseguir reunir muitas pessoas
em um lugar pequeno se ninguém vai trabalhar direito.
Esses aspectos de produtividade ou de adensamento não
dependem de um milagre da arquitetura. Dependem da racionalidade e do limite do projeto.
FOLHA - Que tipo de erro o empresário costuma cometer na arquitetura da sua empresa?
ROCHA - Há um ditado que não
é meu e que todos conhecem: o
barato sai caro. Na maior parte
das vezes, as pessoas querem o
máximo pelo mínimo, e isso é
impossível de ser obtido.
Ou se faz o mínimo ou o máximo. Conseguir o máximo pelo preço do mínimo é uma pretensão que geralmente acaba
levando a erros de todos os tipos. Há uma quantidade enorme de projetos que ficam tão
ruins que precisam ser refeitos.
A cadeira tem que ser confortável, por exemplo. Não adianta
querer encontrar atalhos.
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