São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006


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Renato Stockler/Folha Imagem
O franqueado Fernando Lino Cardoso (à esq.), que precisou de ajuda extra do franqueador Elisio Joffre


QUEDA-DE-BRAÇO

"Franquia-analgésico" inexiste

Creditar ao modelo de negócio a função de blindar o empresário de problemas é erro tático

MARIANA BERGEL
DA REPORTAGEM LOCAL

Se você é empreendedor de primeira viagem e pretende aderir ao sistema de franquia para isentar-se de dificuldades na condução do negócio, saiba que o modelo não é -nem pretende ser- um escudo infalível.
Falhas de comunicação, distanciamento da rede, falta de comprometimento, insuficiência de suporte, análise incorreta de mercado, escolha inadequada do ponto comercial e desmotivação: não faltam exemplos de problemas apontados por franqueados. A grande questão é como evitá-los.
É muito comum que as expectativas de ambos acabem desniveladas, segundo Ana Vecchi, consultora de empresas especializada em gestão de negócios. "Uma das grandes queixas dos franqueados é a falta de estrutura do franqueador em termos de equipe", exemplifica a consultora.
Para viabilizar sua franquia, o administrador de empresas Fernando Lino de Vasconcelos Pereira Cardoso, 53, proprietário de uma loja da rede Mundo Verde na zona sul de São Paulo, precisou investir cerca de 50% a mais do que havia previsto.
"O meu franqueador fez estimativas de evolução de faturamento e previsão de alcançar o ponto de equilíbrio que não se concretizaram", diz Cardoso. A expectativa era que os objetivos fossem alcançados em dez meses, mas, na prática, foi necessário o dobro desse tempo.
"Fiquei em uma situação financeira muito delicada. Tive de recorrer a empréstimos bancários e pagar juros", conta.
Para solucionar o problema, Elisio Joffe, franqueador da Mundo Verde, concedeu para aquela unidade alguns benefícios que viabilizaram o progresso do empreendimento. "No período em que eu não podia pagar tudo certinho, eles me ajudaram", afirma Cardoso.

Antecedentes
Em geral, os problemas entre franqueados e franqueadores se repetem, segundo o advogado especializado em litígios de franquias Gustavo Viseu.
"É muito importante verificar antes [na Justiça] se existem ações movidas contra o franqueador e qual é o objeto delas", sugere o especialista. "Há a obrigação de a informação constar da circular de franquia, mas é recomendável fazer uma checagem dupla."
Para evitar problemas futuros, a sugestão é consultar a opinião de terceiros antes de assinar o contrato e conversar com atuais ou ex-franqueados. "É obrigatório fornecer os contatos de todos os franqueados que se desligaram da rede nos últimos 12 meses. Vale a pena contatá-los", diz Viseu.
Na hora de resolver os dilemas entre a rede e o empresário, dificulta a falta de uma jurisprudência específica para resolver as questões de relacionamento (leia mais à pág. 3). Nesses casos, o Judiciário utiliza como base a Lei de Franquia.
"Por ser matéria complexa tanto do ponto de vista jurídico como da perspectiva comercial, relativamente nova e com lei específica que não regula o contrato em si ou as obrigações de franqueados e franqueadores, os juízes costumam aplicar os princípios gerais do Direito", explica a advogada especializada em franchising da Menezes e Lopes Advogados, Patrícia Gonzalez Baubeta.


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