São Paulo, domingo, 18 de julho de 2004


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RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Até a década de 80, cidade era considerada a mais poluída do país

Cubatão abraça causa pró-fauna e flora

Fernando Moraes/Folha Imagem
Com a recuperação da mata, Cubatão é palco de trilhas com direito a cachoeiras


TATIANA DINIZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Foco no ambiente. Depois da badalação em torno da responsabilidade social, engajar-se na proteção à natureza pode ser a próxima febre a contaminar os modelos de gestão empresarial no país.
Cumprir a lei não é mais a única questão. O interessante é ir além e abraçar causas como monitoramento da fauna e da flora da região em que se atua, reflorestamento de áreas devastadas ou educação ambiental da população local, apenas para citar alguns exemplos adotados hoje pelas grandes. As pequenas devem ser as próximas a aderir à tendência.
Exemplo da proposta, Cubatão (58 km a sudoeste de São Paulo) aderiu em massa à estratégia para, literalmente, limpar-se do estigma de cidade mais poluída do país. Até a década de 80, as indústrias da região lançavam no ar, diariamente, quase uma tonelada de poluentes, segundo diz a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Mangues e rios recebiam outra quantidade sem cálculos oficiais. O ecossistema original foi arruinado; plantas e animais sumiram.
A devastação conduziu a cidade a um estado de emergência generalizado. No episódio mais famoso, todos os moradores da Vila Parisi, apelidada de Vale da Morte em 1983, tiveram de ser removidos devido ao alto risco de intoxicação a que estavam sujeitos.
O Vale da Morte foi a mola que impulsionou a união entre a prefeitura, as indústrias e a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Industrial) para desenvolverem o Projeto Cubatão, com o objetivo de controlar a poluição.

A volta do guará-vermelho
Duas décadas depois, a prefeitura diz que a cidade controlou 98% das fontes poluidoras. Cubatão adotou o guará-vermelho -pássaro freqüentador dos manguezais que havia sumido da paisagem- como símbolo municipal. E quer se converter em um modelo mundial de pólo empresarial ambientalmente responsável.
"A conscientização se multiplicou, e a qualidade do ar já é melhor do que a de São Paulo", diz o secretário de Meio Ambiente, coronel Eduardo Belo. O dado é confirmado por Jesuíno Romano, 56, gerente da divisão da qualidade do ar da Cetesb.
"Cabe na comparação das duas regiões metropolitanas. Mas a área da Vila Parisi, em Cubatão, continua sendo a que tem o pior ar do Estado", lembra Romano.
Vale ressaltar que, entre os motivos da consciência, estão multas altas a devastadores previstas na legislação municipal. "Querer recuperar é positivo, embora o ecossistema jamais volte a ser o que foi. Parar de destruir é obrigação, não bondade", enfatiza Dora Canhos, 50, gerente de projetos da associação sem fins lucrativos Cria (Centro de Referência de Informação Ambiental).

Mangue "recauchutado"
Na Cosipa, gigante do setor de aço instalada em Cubatão, uma equipe de 12 pessoas se dedica a ações ambientais. Depois de conquistar a certificação ISO 14000, específica para o cumprimento de normas ambientais, a empresa monitora animais nativos e freqüentadores do mangue.
"Uma pesquisa descobriu cem ninhos de guarás-vermelhos aqui. Antes, a ave estava em risco de extinção", conta a estudante de biologia Beatriz Prol Otero, 22, cujo estágio na empresa é decorrente da guinada no modelo de gestão.
Na Copebrás, que produz ácidos, uma ação interna batizou todas as vias com nomes de animais nativos. A empresa diz já ter plantado 28 mil mudas de árvores num reflorestamento e afirma dar treinamentos a pequenos empresários sobre gestão ambiental.
Já a Carbocloro construiu um minizoológico e um aquário por onde passa a água que será devolvida ao rio Cubatão. A presença de peixes vivos assegura que ela não é poluída.

Pequenas
Para o secretário do Meio Ambiente, estimular as pequenas e médias a aderir a causa é a próxima etapa. "Elas já cumprem a lei, mas queremos que também se interessem em ir além", comenta.
Com esse propósito, a cidade realizou, no mês passado, a primeira edição da Eco Week, evento direcionado às empresas menores. A RTA, que tem 12 funcionários e atua no ramo de destinação de resíduos industriais, foi uma das que estiveram presentes.


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