São Paulo, domingo, 19 de setembro de 2004


Próximo Texto | Índice

ESCAMBO PÓS-MODERNO

Feito com cautela, sistema aumenta fluxo de caixa e poder de compra

Permuta deixa dinheiro em 2º plano

Fernando Moraes/Folha Imagem
José Eduardo Rivero, diretor da Tradaq, faz a intermediação entre empresas interessadas em permutas


LARISSA CORRÊA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Se, para alguns, escambo é uma palavra que remete apenas às aulas de história sobre o Brasil Colônia, quando índios e portugueses trocavam objetos entre si, para outros, esse é o princípio da lição de que, às vezes, é preciso retomar antigas práticas comerciais para melhor se adequar ao mercado.
Sob o título de permuta, as trocas que não envolvem dinheiro são utilizadas com freqüência por empresas que, entre outros objetivos, buscam aumentar o seu poder de compra, diminuir a sua capacidade ociosa e aumentar o seu fluxo de caixa.
Assegurada pelo artigo 533 do novo Código Civil (em vigor desde janeiro de 2003), a permuta é responsável por boa parte da atual movimentação do mercado e faz com que o produto ou o serviço adquiram valor de moeda. "É um processo muito mais antigo do que se pensa", afirma Marcos Campomar, 59, diretor da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP de Ribeirão Preto, especialista em marketing e serviços.
"É uma volta ao escambo, que foi o início de todo o comércio. E, dependendo do rumo da economia, essa prática pode aumentar ainda mais", afirma Campomar.

Interesse mútuo
Empresas de serviços e de bens de consumo, segundo o especialista, são as que mais utilizam o recurso. E da forma mais comum -por meio da permuta bilateral.
Por esse sistema, basta que duas empresas se interessem mutuamente por seus produtos e façam um acordo de troca, a partir de um valor atribuído às mercadorias. Já o multilateral, mais complexo, exige que uma empresa faça a intermediação do processo entre as partes interessadas.
Embora pareça simples e vantajosa para ambas as partes, a negociação bilateral deve ser feita com cautela. "Faço permutas dentro de uma base normal e quando há realmente interesse. Não a tenho como um princípio", pondera Edgar Radesca, 57, proprietário do clube paulistano de jazz e blues Bourbon Street. "Não dá para aceitar a permuta total. Precisamos ter dinheiro para pagar as contas", justifica.
Denise de Camargo, 42, diretora de marketing da Gráfica Bandeirantes, utiliza os serviços de uma gerenciadora de permutas multilaterais há dois anos. "Apesar de não depender disso para o meu faturamento, permuto tudo o que posso nesse sistema", revela. "Por não se tratar de uma troca concentrada, você não corre o risco de ficar sem usar o crédito", explica a executiva, que já recebeu em troca de vinhos e computadores a móveis de escritório.

Repasse
A diferença entre a permuta multilateral e a bilateral é que, na primeira, parte do montante negociado será repassado à gerenciadora. A Tradaq, por exemplo, recebe uma comissão em dinheiro de 10% a 14% (dependendo do plano) da venda do item posto à disposição para a troca.
Já na Permute a comissão é de 5%. Com a gerenciadora focada principalmente em empresas de pequeno e médio porte, Flávio Zaclis, dono da empresa, que tem cerca de 200 afiliados, afirma tentar manter sua rede de permutas equilibrada quanto ao tipo de produto ou de serviço oferecido, para que o leque de opções ao cliente seja variado.
"Temos desde serviço de dedetização até bares e hotéis. Assim como existem alguns tipos de empresas que são muito procuradas para a permuta, como as de informática, outras não têm tanta demanda", explica o empresário.
"Buscamos fazer uma avaliação antes de afiliá-las", emenda Zaclis, cujo próprio escritório foi totalmente montado por meio do sistema de permuta multilateral.
E engana-se quem pensa que apenas empresas em situação financeira desfavorável optam pela barganha. Segundo José Eduardo Rivero, diretor da Tradaq no Brasil, além dos benefícios próprios das trocas, como aumento do poder de compra -uma vez que, apesar dos custos de produção ou de prestação de serviço, não é preciso desembolsar dinheiro- e do fluxo de caixa, a permuta multilateral, em especial, oferece serviços diferenciados ao associado.
"Estabelece valores de troca compatíveis e proporciona menor tempo para a utilização do crédito", afirma Rivero.


Próximo Texto: Troca com contrato afasta problemas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.