São Paulo, domingo, 20 de setembro de 2009


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DINHEIRO DIFÍCIL

Durante crise, crédito concentra-se em grandes montantes

Pequena firma tem menor fatia no BNDES em 10 anos

Fred Chalub/Folha Imagem
DE CARONA
Cleber Petroni comprou uma Kombi via leasing para fazer as entregas de sua serralheria, a Sercont; "Para capital de giro, uso o desconto de duplicatas Äa taxa melhorou na crise"

ANDRÉ LOBATO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

De setembro de 2008, quando estourou a crise financeira nos Estados Unidos, a junho deste ano, o bolo do crédito brasileiro cresceu. O objetivo foi suprir a escassez internacional de grandes empréstimos.
A fatia dos valores menores, no entanto, alterou-se pouco no período. A crise desacelerou os empréstimos pequenos (de até R$ 100 mil) e médios (de R$ 100 mil a R$ 10 milhões) e acelerou aqueles com valores acima de R$ 10 milhões, segundo informações do Banco Central.
Embora o BC não registre o porte do tomador, especialistas concordam que a fatia de até R$ 100 mil equivale à realidade dos pequenos negócios.
"O crédito [para a pequena empresa] ficou mais difícil na ponta. O cobertor cresceu, mas ainda não é o suficiente", avalia Carlos Alberto dos Santos, diretor de administração e finanças do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).
De setembro de 2008 a junho de 2009, dados do Banco Central mostram crescimento de 8% nos empréstimos pequenos e queda de 1% nos montantes médios. O aumento nos empréstimos de mais de R$ 10 milhões, no entanto, foi de 23%.
Com isso, pela primeira vez na série histórica do BC -iniciada em dezembro de 2004-, a fatia dos grandes empréstimos superou a dos médios.
Já os pequenos mantiveram a tendência de queda lenta que apresentam desde 2006 (veja gráfico nesta página).
Reconhecidos pelos produtos voltados a micro e pequenas empresas, Caixa Econômica Federal e BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) também viram as grandes companhias puxarem o crescimento do crédito de junho de 2008 a junho de 2009.
A participação na carteira de crédito destinada às pequenas empresas continuou igual apenas no Banco do Brasil. Em valores emprestados pela instituição, houve aumento de 35% para os pequenos e de 30% para os demais.

BNDES e CEF
Já no BNDES, o financiamento das grandes foi 16 vezes maior do que o das pequenas empresas. No banco, o primeiro semestre de 2009 foi de extremos na participação das menores no crédito total: 2,6% em junho (o menor desde 1999) e 15,3% em janeiro (uma das maiores da década).
Na Caixa, a carteira de crédito das pequenas cresceu 17%, metade do aumento do total concedido à pessoa jurídica.
Para especialistas ouvidos pela Folha, a desproporção se deve aos empréstimos feitos por BNDES e Caixa a grandes empresas, como a Petrobras.
Com a retomada gradual de mecanismos de financiamento das grandes empresas, como o mercado de capitais, o cenário de concentração deve voltar ao do período pré-crise, analisa Rubens Sardenberg, economista-chefe da Febraban (federação dos bancos).
Para Santos, os bons indicadores das pequenas empresas durante a crise, como a manutenção do emprego, sinalizam para a "necessidade de mais políticas públicas e privadas".


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