São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004


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SELVA TECNOLÓGICA

Abundância estimula pesquisadores a criar espécies de olho nas prateleiras

Genética diversifica floresta nativa

DA ENVIADA ESPECIAL A CUIABÁ

Raiz, flor, fruto, semente. Da vastidão de espécies que compõem a flora nativa do território nacional rebentam inspirações ao empreendedorismo. Técnicas de manipulação superam limitações de cultivo, somando apelos rentáveis a plantas que já possuíam atrativos naturais. É a floresta reinventada para conquistar espaço nas prateleiras mundiais.
A maioria dos projetos que estão sendo desenvolvidos ainda busca parceiros que apostem na sua comercialização. No laboratório cearense da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), por exemplo, a multiplicação de base genética de plantas já é prática adotada regularmente.
Abacaxi ornamental, banana, orquídea, gérbera e mandacaru são algumas das plantas que já têm clones produzidos a partir de "gemas" -células extraídas de uma matriz rigorosamente selecionada para essa finalidade.
"Ainda temos dificuldade de logística para distribuir em grande escala, o que também requer melhor planejamento de produção. Mas já fornecemos para vários empresários da região", comenta Ana Cristina Carvalho, bióloga responsável pela coordenação do laboratório.

Multiplicação
Apenas para ter uma noção do quanto a clonagem pode impulsionar o volume de produção de vegetais, a pesquisadora indica que, enquanto pelo método tradicional de reprodução em campo chega-se a uma média de cinco mudas de abacaxi ornamental por ano, a multiplicação em laboratório permite elevar esse número para cerca de 4.000 mudas.
"Caso a prática se dissemine para as plantas amazônicas, teremos um novo filão", observa Carvalho. Entretanto, segundo ela conta, os hormônios usados nos processos de clonagem podem levar a mutações. "É preciso conduzir a pesquisa com atenção, principalmente no que diz respeito às plantas medicinais, que precisam ter seus princípios ativos mantidos."
Na Paraíba, as pesquisas da Embrapa possibilitaram chegar ao algodão naturalmente colorido. Atualmente disponível nas cores verde, marrom e vermelha, a próxima etapa é tentar chegar à variante azul. Além do apelo ecologicamente correto, a solução concentra propriedades antialérgicas e começa a gerar demandas em berçários e em hospitais.

Cereais
A partir da observação da alegria, planta popular na região dos Andes, o cultivo do amaranto desponta como fonte de matéria-prima para empreendedores interessados em introduzir no mercado produtos similares às barras de cereais.
"Altamente nutritivos, podem ser feitos misturando a pipoca feita com amaranto ao melado", diz Carlos Spehar, da Embrapa.
Quem olha pela primeira vez para a knaf, planta desenvolvida para a produção de fibras usadas no revestimento interno de automóveis, não pode deixar de notar o parentesco visual com a folhagem da maconha. "Mas ela está mais próxima do algodão do que da Cannabis", explica Spehar. "Não tem propriedades entorpecentes", ressalta.
E, para quem costuma associar os girassóis ao amarelo, vale saber que já existem no país flores de várias outras cores, como em tonalidades avermelhadas e arroxeadas. Todas as variações vieram do laboratório.
Além do potencial para o mercado de plantas ornamentais, ele também pode ser inserido na apicultura, pois as flores atraem grande volume de abelhas.


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