São Paulo, domingo, 24 de outubro de 2004


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TENTATIVA E ERRO

35% já fecharam mais de uma firma; mesmo com fracassos sucessivos, esperança resiste

Insistente "caça" sucesso financeiro

BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Uma pequena construtora, uma firma de comida industrial, uma academia de ginástica, uma empresa de representação e -ufa!- uma agência de turismo. Essa é a trajetória do empresário Márcio Antônio de Oliveira, 59, que agora, na quinta tentativa, diz ter encontrado o negócio ideal. Como ele, outros empreendedores pulam de negócio em negócio à caça de sucesso financeiro.
Detalhamento da pesquisa "Fatores Condicionantes e Taxa de Mortalidade de Empresas no Brasil", do Sebrae Nacional, feito especialmente para a Folha, mostra que 35% dos empresários que fecham as portas já atuaram como empresários antes, ou seja, já enfrentaram, pelo menos, duas experiências de fechamento. A entidade entrevistou 5.727 firmas.
Se o comportamento é ruim? Depende, dizem os especialistas. A explicação é que fechar as portas nunca é bom, mas trocar de negócio pode ser positivo. Se, de um lado, a persistência é característica essencial ao empreendedor, de outro, saber a hora de recuar também é uma habilidade imprescindível para vencer.
Uma história como a de Oliveira é recheada de sucessos e fracassos. Ele vendeu sua parte na construtora porque identificou um nicho de mercado para fornecer comida industrial. O negócio foi muito bem durante cinco anos -até que tomou um calote de uma cliente estatal e não conseguiu mais pagar os fornecedores.
"De todos esses negócios, o que deu mais certo, no longo prazo, foi o primeiro, o que abandonei. A construtora deslanchou, e meu sócio ficou rico", revela Oliveira. "Mas não me arrependo. Era algo em que eu acreditava. Quando vendi minha parte, achei que estava fazendo o melhor."
A lucrativa academia, que tinha aproximadamente mil alunos, ficou com pouco mais de cem, após o bloqueio financeiro do governo Fernando Collor, em 1990. Já a firma de representação, explica ele, foi um erro de planejamento. "Eu tenho facilidade de enxergar oportunidades e de lidar com pessoas, mas não sou tão bom com números", confessa.
Há dois anos com uma agência de viagens especializada na terceira idade, ele diz que vai muito bem. "No susto, aprendi muita coisa e agora também tenho um sócio que entende de gestão."

Erro recorrente
Desistir ao encontrar as primeiras dificuldades e cometer sempre os mesmos erros administrativos (trocando apenas de ramo) são, na análise dos consultores, as duas principais explicações para os fracassos sucessivos.
Há ainda uma terceira razão, positiva: faz parte da personalidade do empreendedor gostar de descobrir oportunidades e iniciar negócios -manter as empresas, entretanto, pode parecer bem menos interessante. Como o conquistador para quem a musa deixa de ter graça após o primeiro encontro, o empreendedor corre o risco de perder a paixão pelo negócio "conquistado".
"Meu negócio é criar negócios", anuncia o engenheiro mecânico Roberto Carlos Dantas, 46, que se classifica como "empreendedor de carteirinha". "Quando a empresa está no auge, pego e vendo por um bom preço. Não tenho do que me queixar."


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