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São Paulo, domingo, 28 de dezembro de 2003


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FÉRIAS DA EMPRESA

Quando viajam, empresários levam celular até para a praia e checam seus e-mails sempre

Pequenos evitam fazer as malas

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Dono de estúdio fotográfico, Antonio Carlos Monici, o Cacalo, diz que férias são período sem faturar


BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Há dez anos, o economista Raymond Taufik Hollo, 49, afrouxou a gravata e trocou uma grande empresa em São Paulo por um negócio próprio -um spa localizado na serra do Japi, em Cabreúva (a 76 km da capital paulista). Nunca mais tirou férias. "Achei que ia montar um negócio para descansar. Mas eu mesmo não tenho descanso", conta.
O empresário afirma que não fecha nem no Natal nem no Réveillon e explica que, apesar das seis pessoas de confiança que tem na recepção do estabelecimento, muitos clientes insistem em falar diretamente com ele. "Fiquei no Guarujá três dias no ano passado. Deu problema, tive de voltar. É um sacerdócio", define.
Segundo o Sebrae-SP (Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo), como Hollo, muitos pequenos empresários têm convicção de que seu negócio não sobreviveria sem eles e consideram arriscado se afastar da empresa para tirar férias.
Medo de perder clientes, de ser vítima de algum tipo de furto e de ter prejuízos em razão de erros de funcionários são os fantasmas que mais convencem empresários a abrir mão do descanso.
Para os que conseguem escapar por alguns dias, o desafio é conseguir relaxar e descansar de verdade. Apesar de ser preciso tentar conter o desejo de controlar tudo e saber de todos os detalhes, a recomendação é que o empresário não fique incomunicável.

"Malabarismo"
"Em novembro, fiquei uma semana em Porto de Galinhas [PE]. Foi um malabarismo", descreve Vinicius Soderi Camargo, 41, dono da escola de informática Treinasoft, que também tem franquias de métodos de ensino.
Ele conta que, para viajar, deixou duas pessoas bem treinadas na secretaria da escola e ainda preparou modelos de propostas para serem enviadas por e-mail aos eventuais interessados em franquear o método.
Na hora de escolher o hotel, saber se havia internet foi crucial -a caixa de e-mails precisava ser visitada quase todos os dias, confessa. E o planejamento não evitou que o trabalho o encontrasse na praia. "Fiquei falando com uma pessoa de Brasília que tinha urgência no contato. Mas o interesse é meu. Não é por 20 minutos que vou deixar de fechar um negócio", argumenta.

Celular
Já no estúdio Nuevo Produções Fotográficas nenhum trabalho termina antes de passar pelo dono da empresa, o fotógrafo publicitário Antonio Carlos Monici Barrionuevo, 48, o Cacalo.
Ele revela que, por causa disso, 30 dias de férias significam 30 dias sem faturar, o que dificulta a decisão. "Quando há clientes, você não pode deixar de atender. Quando não há trabalho, não tenho cabeça para tirar férias."
No ano passado, o fotógrafo diz ter "fugido" do estúdio para viajar por apenas uma semana. "Ligou um cliente no celular e acabei voltando antes. Fiquei só cinco dias."
A alternativa tem sido adotar um recesso coletivo de 15 dias no fim do ano, período em que os serviços são escassos. "Mas não são exatamente férias", adverte.
Para o consultor empresarial Luciano Pacheco, o primeiro passo para conseguir tirar férias é conhecer melhor a sazonalidade do negócio. "O empresário da pequena empresa não consegue tirar 30 dias de férias, mas não deve deixar de tirá-las." Segundo ele, muitos dos que não tiram férias não valorizam a importância do descanso e não priorizam isso. "Não fazem porque não colocam isso entre as prioridades. Sempre é possível tirar férias", afirma.



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