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Gary Locke

Embaixador "comum" incomoda chineses

Por SHARON LaFRANIERE

GUANGZHOU, China - No começo de novembro, enquanto o poderoso chefe do Partido Comunista na província de Guangdong esperava pela chegada do novo embaixador americano, Gary Locke, a conversa desviou para as origens chinesas do diplomata. Locke pararia na cidade para conversar com o dirigente partidário Wang Yang, a caminho de uma visita à aldeia dos seus ancestrais.

Wang tratou de encerrar o assunto. "Ele não é gente daqui", afirmou a assessores. "Ele deveria perceber que é um americano."

Há poucos meses, parte da imprensa chinesa apresentava Locke como um modelo para os pomposos políticos da China - um americano de verdade, que viaja de classe econômica e evita andar com um séquito de subordinados.

Mas esses dias ficaram para trás. As autoridades de propaganda, temerosas de que Locke faça os líderes chineses parecerem alheios ao povo, impuseram restrições à cobertura midiática do diplomata, primeiro embaixador sino-americano em Pequim.

Alguns meios de comunicação têm sugerido que seu estilo é uma encenação, um complô americano para atiçar o sentimento dos cidadãos contra seus próprios líderes.

Dois jornalistas chineses que acompanhavam a visita de Locke a Cantão e à aldeia dos seus antepassados disseram ter recebido das autoridades a orientação de não "bombar" a viagem.

"[As autoridades de propaganda] não gostam dele", comentou um dos repórteres. "Acham que ele aparece demais e está constrangendo os líderes chineses."

Mas os chineses comuns não foram avisados. Quando Locke, 61, visitou Taishan, terra de centenas de milhares de pessoas que emigraram para os EUA, centenas se reuniram nas ruas para vê-lo parar numa escola local.

Em geral, o diplomata não se esquivou de posar para fotos. "Ele gosta de estar com pessoas comuns", disse o operário Wu Qiang. "Ele tem sangue chinês, mas características americanas."

Quando ele desembarcou em Pequim, em agosto, os microblogs chineses fervilhavam com relatos de como ele havia comprado seu café, carregado sua mochila e andado de carro em vez de limusine.

Os chineses comuns continuam fascinados pelo fato de um deles ter se tornado poderoso em uma nação ainda vista com respeito.

Seu avô emigrou para os EUA na década de 1880, lavando pratos e esfregando pisos em troca de aulas de inglês, e levou um a um seus parentes para a América. Locke diz que seu pai labutava todos os dias do ano e o ensinou a respeitar a família e o trabalho árduo.

Um dos melhores momentos nos discursos de Locke é quando ele diz que sua família levou cem anos para andar uma milha -da casa onde o avô trabalhava até a mansão do governador do Estado de Washington, cargo que ele ocupou por dois mandatos.

A trajetória profissional de Locke é tipicamente americana - para alguns, uma rejeição explícita das afirmações de Pequim de que as massas não estão preparadas para a democracia.

Ele se diz tributário de ambas as culturas. Na China, afirmou, espera mostrar que "os americanos são gente muito tranquila". "Se a atenção adicional e a maior visibilidade que eu tenho sido capaz de gerar puderem ajudar a abrir portas e a expor mais chineses aos valores americanos e ao estilo de vida americano, será ótimo."

Mas sua nomeação não foi bem recebida na China.

O influente "Diário de Guangming", comunista, afirmou que a indicação de Locke "revela a desprezível intenção dos Estados Unidos de usar um chinês para controlar os chineses e para incitar ao caos político na China".

"Não sei o que passa pela cabeça dos jornais do governo", afirmou Locke. "Não estou aqui para fazer nenhuma afirmação a respeito do estilo de vida dos líderes chineses."

"Se a atenção adicional [...] ajudar a abrir portas e a expor mais chineses aos valores americanos e ao estilo de vida americano, será ótimo."

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