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Exílio birmanês teme esquecimento

Por THOMAS FULLER

MAE SOT, TAILÂNDIA - Pobres dissentes birmaneses no exílio.

Por mais de duas décadas, eles foram símbolo do desafio à ditadura militar de Mianmar, levando a países estrangeiros sua incansável campanha por uma mudança de regime.

Agora que o governo de Mianmar recebe elogios por suas reformas, centenas de dissidentes radicados no exterior talvez precisem mudar de ramo.

"Está ficando difícil encontrar coisas das quais se queixar", disse Aung Naing Oo, diretor do Instituto Vahu de Desenvolvimento, criado na Tailândia por estudantes birmaneses que fugiram do seu país no fim da década de 1980.

Esses exilados assistiram à distância nos últimos meses à libertação de centenas de presos políticos, ao abrandamento da censura e ao início da campanha eleitoral de Aung San Suu Kyi, o ícone da democracia birmanesa.

"As coisas estão se mexendo pelo lado de dentro", disse Aung Naing Oo, que esteve em Mianmar no começo de fevereiro. "Todo mundo está basicamente torcendo para que eles possam voltar."

Os exilados birmaneses pressionavam os governos ocidentais a punir o regime birmanês com sanções econômicas.

Várias publicações do exílio forneciam informações valiosas, ainda que carregadas de opinião, de fontes dentro do país.

Mas o negócio global da dissidência birmanesa pode em breve fechar as portas.

As verbas para seminários estão minguando e diplomatas estrangeiros preferem viajar para Mianmar a se reunirem com dissidentes no exílio.

A cidade tailandesa de Mae Sot, na fronteira com Mianmar, se tornou uma espécie de principal quartel-general dos dissidentes birmaneses no exílio.

"Passei metade da minha vida com a revolução", disse Myat Thu, que chegou à Tailândia mais de duas décadas atrás. Ele e sua esposa, a tailandesa Khemitsara Ekkanasingha, têm um bar enfeitado com adesivos "Birmânia Livre" e fotos de Aung San Suu Kyi.

No ano passado, Khemitsara participou da bem-sucedida campanha pela libertação de 200 presas políticas em Mianmar. Agora, ela disse que cogita defender outras causas, como a desigualdade econômica global.

A diáspora birmanesa é planetária, com forte presença sobretudo nas cidades de Londres, Washington e Nova Déli.

A Voz Democrática da Birmânia, uma organização que foi crucial na coleta e difusão de imagens da repressão militar de 2007 em Mianmar, tem sede na Noruega. Agora, Aye Chan Naing, diretor-executivo e editor-chefe do grupo, diz estar negociando com o governo a abertura de um escritório oficial dentro do país.

Mas muitos dissidentes ainda se convenceram das mudanças.

"Eu não acredito", afirmou U Bo Kyi, cofundador de uma entidade em Mae Sot que mantém um cadastro de presos políticos.

Bo Kyi, que fugiu de Mianmar há 13 anos por ter sido vítima de perseguição política, diz esperar que os líderes reparem as prisões, torturas e outros abusos.

Ele espera, acima de tudo, um pedido de desculpas. "A confissão é muito importante para a reconciliação nacional", disse.

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