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Ensaio - Roberta Smith

ARTE & ESTILO

Uma bienal com cores diferentes

LIBRADO ROMERO/THE NEW YORK TIMES
"From the Canyons to the Stars", de Joanna Malinowska
"From the Canyons to the Stars", de Joanna Malinowska

A bienal deste ano no Museu Whitney de Arte Americana, em Nova York, pode ou não conter muito mais obras de arte notáveis que suas antecessoras, mas não é isso o que interessa. É uma das melhores bienais na memória recente e é uma forma de exposição nova e instigante.

Esta bienal tacitamente separa objetos de arte do mercado e os aproxima mais do lugar de onde vieram: os artistas. Os processos criativos de artistas e sua paixão pelo trabalho de outros artistas estão entre os temas não declarados, mas evidentes, da mostra, ao lado de documentários, cores, colagens, identidade sexual e abstração.

A Bienal Whitney é uma exposição em movimento contínuo e, até certo ponto, estará diferente a cada vez que for visitada, até seu encerramento, em 27 de maio.

Pelo menos duas das obras mais importantes da bienal são filmes: "Boxing Gym" (2010), a excursão de Frederick Wiseman na seara do documentário não narrado, e "Los Angeles Plays Itself", de Thom Andersen, com três horas de duração, uma meditação sobre a discrepância entre o cinema e a vida real, conduzida em termos arquitetônicos e tão fascinante quanto desanimador.

Outro cineasta que se destaca é Werner Herzog, que contribuiu "Hearsay of the Soul", uma projeção digital em cinco telas que combina close-ups das voluptuosas gravuras de paisagens do artista holandês Hercules Segers (1589-1638), visto por Herzog como "pai da modernidade na arte".

Na galeria do quarto piso do museu, o palco é ocupado por vários artistas. Trabalhando com um misto de dançarinos profissionais e amadores, o coreógrafo Michael Clark, britânico radicado em Nova York, vai fazer duas semanas de ensaios abertos seguidas por duas semanas de apresentações.

Há performances também nas galerias do segundo e do terceiro pisos, onde trabalhos artísticos mais tradicionais formam a maioria. Georgia Sagri, que parece se especializar em arte da palavra falada, com jeito dadaísta, fará 16 performances em sua instalação no mezanino do quinto andar.

No terceiro piso, Dawn Kasper, cuja sensibilidade tende para o beat, encheu uma galeria com a maioria de seus pertences, incluindo uma cama, pilhas de livros, vários aparelhos pequenos, obras de arte e materiais para fazer arte. O trabalho é intitulado "This Could Be Something if I Let It" (Isto Poderia Ser Alguma Coisa se Eu Deixasse).

É uma exposição que acolhe artistas, convidando-os a organizar minifestivais de cinema ou de música dentro da exposição.

Uma empreitada desse tipo é uma mostra das telas pequenas, visionárias e semiabstratas de Forrest Bess (1911-77), pescador texano que pintava motivos que via em seus sonhos e que tentou trazer à tona a mulher que existia em seu interior, através de atos cirúrgicos que o converteram em um quase hermafrodita.

Bess queria expor a documentação de suas cirurgias, ao lado de suas pinturas, mas sua marchand em Nova York, Betty Parsons, lendária defensora dos expressionistas abstratos, recusou-se a fazê-lo. O desejo dele é atendido na bienal.

Wu Tsang tem uma instalação de vídeo que assume a forma de uma sala verde a ser usada por artistas no quarto piso. Quando não está sendo usada para isso, os vídeos levam o visitante a um passeio pela Silver Platter, uma boate latina de Los Angeles frequentada por travestis.

Vários artistas empregam mais de um meio. Em vídeo, Joanna Malinowska converte uma performance famosa de Joseph Beuys em ritual indígena americano e traduz a prateleira de garrafas de Duchamps em uma amálgama de falsas presas de bisão que forma a maior escultura da bienal.

Os curtas-metragens do cineasta underground Luther Price, um dos astros da bienal, fazem parte do programa de filmes. Mas, em uma das galerias do terceiro piso, Price também traz algo do que a bienal tem de melhor em matéria de arte pictórica: projeções de seus slides escarificados, compostas de filmes encontrados, manchados com bolor.

As imagens de Price travam um diálogo animado com suas vizinhas: as imagens, que também mudam de forma, de um conjunto de 44 monotipos e 1 pintura fantástica de Nicole Eisenman, e as iridescentes instalações abstratas de Kate Levant e de Sam Lewitt.

A exposição poderia se beneficiar de uma porcentagem maior de objetos de arte fortes. Trata-se, afinal, de uma Bienal Whitney. E ela tem momentos irritantes de preciosismo e pontos vazios em que vai minguando até virar inconsequente.

Com vários trabalhos artísticos de base temporal ainda aguardando para ser expostos -filmes de Mike Kelley e George Kuchar, uma obra de teatro de Richard Maxwell, uma performance multimídia de Charles Atlas-, esta exposição é uma celebração em andamento e que, de muitas maneiras, é impossível de ser contida.

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