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Russos vão às compras nos EUA

Na América, russos ricos compram imóveis de luxo

POR ALEXEI BARRIONUEVO

O mercado imobiliário nos Estados Unidos ainda está em queda, mas seu segmento de luxo experimenta uma alta notável, impulsionado pelo dinheiro que chega de todos os cantos do globo, incluindo países em desenvolvimento como o Brasil, a China e a Índia. Mas nenhum grupo tem assinado cheques maiores do que os russos.

Num seminário para advogados e corretores imobiliários no mês passado em Nova York, um painel de advogados e um banqueiro repassou algumas das maiores vendas para os russos. Elas incluem os US$ 188 milhões gastos em imóveis na Flórida e em Nova York por fundos ligados a Dmitri Ribolovlev, que ganhou bilhões fabricando fertilizantes; os US$ 48 milhões que o compositor Igor Krutoi pagou num apartamento no Plaza Hotel e os US$ 37 milhões desembolsados pelo ex-ministro das Finanças Andrei Vavilov por uma cobertura no Time Warner Center.

Nos últimos quatro anos, russos e outros cidadãos da ex-União Soviética assinaram contratos para adquirir mais de US$ 1 bilhão em imóveis residenciais nos EUA, segundo advogados e corretores.

Essa gastança pode estar só começando, já que US$ 84 bilhões deixaram a Rússia no ano passado e o governo russo estima que até 5% desse capital tenha ido parar no mercado imobiliário dos Estados Unidos. O número de bilionários na Rússia e Ucrânia mais do que triplicou desde 2009, chegando a 104, segundo a revista "Forbes". "O fato de todos reconhecerem que o mercado de luxo atualmente está sendo controlado pelo comprador definitivamente alimenta esse interesse", afirmou o advogado Edward Mermelstein, do escritório Rheem Bell & Mermelstein, um dos organizadores do seminário.

Os bilionários compradores estão com os bolsos cheios por causa das privatizações de estatais russas e dos preços elevados do petróleo e de outras commodities e se mostram ansiosos por guardarem uma boa parte dessas fortunas fora do alcance do governo de Vladimir Putin. Em fevereiro, Putin sinalizou sua frustração com isso ao dizer que a Rússia "precisa acabar com esse período", e aludindo às "injustas" privatizações da década de 1990.

Mesmo antes da eleição de Putin para um novo mandato presidencial, no mês passado, muitos russos ricos já vinham tomando providências para transferir suas famílias para Nova York, em alguns casos usando vistos do tipo EB-5 [especial para investidores] em troca de realizarem investimentos aprovados pelo governo.

"Acho que eles morrem de medo de Putin", disse a russa Victoria Shtainer, corretora imobiliária em Nova York. "Não haveria tanta gente comprando aqui com tal velocidade se as coisas estivessem bem."

Muitos russos parecem determinados a ficar famosos como consumidores vorazes. Após comprarem imóveis cobiçados, eles gastam milhões de dólares a mais em reformas. Também colecionam obras de arte raras e compram iates personalizados.

Ribolovlev, dono de uma fortuna estimada em US$ 9 bilhões, se envolveu em duas das maiores vendas. Em 2008, um fundo ligado a ele adquiriu por cerca de US$ 100 milhões uma casa de 6.400 m2 pertencente a Donald Trump -então um recorde nos Estados Unidos. Em fevereiro, um fundo ligado à filha mais velha dele, Ekaterina, 22, comprou por US$ 88 milhões uma cobertura de quatro dormitórios do banqueiro Sanford Weill, junto ao Central Park, no maior valor já pago por um apartamento em Nova York.

A venda atiçou a imaginação dos corretores de Manhattan e animou as incorporadoras a aumentarem o preço dos imóveis de luxo. Nos últimos quatro meses, a Extell Development Company aumentou entre 5% e 15% o valor das unidades naquele que será o mais alto edifício residencial de Nova York, na rua 57 West. A cobertura dúplex passou de US$ 98 milhões para US$ 115 milhões.

O presidente da Extell, Gary Barnett, disse que os russos já compraram dois apartamentos no novo prédio, ambos na faixa dos US$ 25 milhões a US$ 30 milhões. Alguns outros russos desistiram por não conseguirem bons descontos, segundo ele.

Os russos geralmente sabem o que querem -vista para o Central Park, em edifícios modernos e com serviço de hotelaria-, mas costumam pagar até o dobro do seu orçamento original, segundo Jacky Teplitzky, da imobiliária Prudential Douglas Elliman.

Alguns russos ricos passeiam pela cidade em Rolls Royces customizados, acrescentou Teplitzky, cuja clientela russa inclui Vladislav Doronin, magnata da construção que namora a modelo Naomi Campbell. Doronin gastou US$ 20 milhões para reformar a casa de Miami Beach que ele comprou por US$ 16 milhões do ex-jogador de basquete Shaquille O'Neal, em 2009. "Quando estou com eles, eu me sinto em um filme", disse Teplitzky. "É um mundo completamente diferente."

Quando os russos compram imóveis, dizem os corretores, eles gastam fortunas com a mesma rapidez com que as acumulam.

O patrimônio de Ribolovlev se espalha pelo mundo, incluindo bancos em Londres e em Cingapura. Sua coleção de arte, avaliada em até US$ 1 bilhão, inclui obras de Monet, Van Gogh e Picasso. Todas fora da Rússia.

Seus imóveis incluem uma casa em Paris, residências em Dubai, em Genebra e em Gstaad, na Suíça. Ele também divide com a filha um apartamento em Mônaco. Usando um fundo criado por seu pai para a filha e futuros netos, Ekaterina Ribolovleva comprou seu apartamento de Nova York com dinheiro vivo.

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