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Ensaio - Steven M. Davidoff

Amizades influentes rendem bons negócios

Se você quer ganhar bilhões de dólares fazendo negócios, não vá para Wall Street.

Hoje em dia, o governo é o caminho mais rápido para a riqueza -se você for um negociante com estreitas ligações com quem está no poder nos mercados emergentes.

Uma recente disputa judicial em Londres entre os bilionários russos Roman Abramovich e Boris Berezovski ilustra como essas relações podem ser muito lucrativas.

Berezovski afirma que Abramovich o forçou a vender por uma bagatela suas ações da Sibneft, hoje parte da petrolífera russa Gazprom. Abramovich descreveu negócios em que Berezovski recebia milhões de dólares como "padrinho político", para oferecer proteção e acesso ao governo.

Abramovich aparentemente usou esse acesso para se tornar íntimo do presidente Vladimir Putin e para arrebanhar uma fortuna estimada pela "Forbes" em US$ 12,1 bilhões.

Quase todos os nomes na lista da "Forbes" sobre as pessoas mais ricas da Rússia chegaram lá graças às privatizações e aos estreitos vínculos com o governo.

Tais vínculos são frequentemente o denominador comum entre as fortunas no Brasil, na Rússia, na Índia, na China e em outras nações emergentes. Embora alguns desses países tenham mercados de capitais robustos e organizações econômicas semelhantes às da Europa e da América do Norte, eles carecem das mesmas tradições e instituições políticas e jurídicas. Negociantes e empresários podem se aproveitar dessas lacunas para construir relações com o governo que lhes garantam acesso privilegiado a contratos ou mesmo o controle de mercados inteiros. Na China, essas preferências chegam a ser formalizadas, já que o governo escolhe vencedores e perdedores numa forma de capitalismo patrocinado pelo Estado.

E os filhos de funcionários do Partido Comunista rapidamente alcançam posições industriais importantes. Quando Wen Yunsong, filho do primeiro-ministro Wen Jiabao, foi recentemente nomeado presidente da Companhia da China de Comunicações por Satélite, as ações da empresa tiveram alta imediata de quase 50%.

Os vínculos beneficiam não só parentes como também as próprias autoridades. A Bloomberg recentemente noticiou que os 70 delegados mais ricos do Congresso Nacional do Povo, na China, tinham uma fortuna somada de US$ 89,8 bilhões. Na África, Uhuru Kenyatta é um dos 40 residentes mais ricos do continente. Ele foi vice-premiê do Quênia e é filho do primeiro presidente do país, Jomo Kenyatta. No Oriente Médio, a família Bin Laden construiu sua fortuna graças a contratos de construção para o governo saudita, decorrentes da sua estreita ligação com a família real.

Para os negociantes de Wall Street, esse é um mundo novo. Muitos se formaram como primeiros da classe nas escolas americanas de gestão, acreditando que a inteligência e o trabalho árduo são requisitos para o sucesso.

Mas no exterior muitas vezes eles só se dão bem se tiverem as suas próprias relações pessoais com funcionários públicos. E essas nações usam uma mistura de exigências para dificultar os investimentos estrangeiros.

Na Índia, o governo recentemente anunciou que irá adiar a autorização para que redes estrangeiras do varejo possuam e operem lojas sem sócios locais.

Os americanos tentam jogar o jogo das conexões. Mas essas relações não surgem naturalmente. E é tênue o limite entre influenciar autoridades e desrespeitar a lei que proíbe americanos de subornarem autoridades estrangeiras.

A moral da história para os negociantes de Wall Street é que, se eles quiserem ter sucesso fora da Europa e dos EUA, um casamento oportuno, um parente ou um amigo no governo ajudam bastante.

Steven M. Davidoff é comentarista de fusões e aquisições do DealBook

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