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As riquezas escondidas de Mianmar

Por THOMAS FULLER

YANGON, Mianmar - Com um ano de reformas políticas abrangentes, esta cidade há muito tempo negligenciada já apresenta alguns indícios de pujança.

Empresários estrangeiros são conduzidos por ruas esburacadas com prédios decrépitos para encontrar potenciais parceiros. Os donos de hotéis, cujas empresas sofreram durante anos de regime militar e má gestão econômica, estão aumentando os preços dos poucos quartos disponíveis. E os valores dos imóveis em áreas da cidade de Yangon, a capital econômica do país, e de seus arredores triplicaram no último ano.

"Mianmar tem um grande potencial de crescimento e poderá se tornar a próxima fronteira econômica da Ásia", disse Meral Karasulu, diretor do Fundo Monetário Internacional em Washington que conduziu uma missão a Mianmar em janeiro.

De fato, para os investidores estrangeiros e bancos de investimentos que ignoraram o país durante décadas de regime militar, Mianmar é um mercado potencial onde apenas 4% da população têm celulares e poucas pessoas possuem máquinas de lavar, ar-condicionados ou carros.

E, conforme o país se abre, muitos em Mianmar estão preocupados com o risco de que os problemas do país possam limitar o crescimento. A lista de obstáculos é longa, incluindo antigos problemas -a ausência de um sistema jurídico sólido, a corrupção profundamente enraizada e a infraestrutura dilapidada- e outros novos, que incluem preços surpreendentemente altos.

Uma das preocupações mais perturbadoras, segundo empresários, é a falta de mão de obra qualificada. Embora o governo de U Thein Sein, o presidente de Mianmar e principal promotor da liberalização, esteja no cargo apenas desde março de 2011, já há escassez de algumas categorias de trabalhadores.

"Muitas empresas estão pedindo diretores de vendas e marketing", disse U Ko Lin, diretor da Career Development Consultancy, uma importante agência de recursos humanos em Mianmar. "Não consigo encontrar as pessoas certas. É muito difícil."

Durante os anos de ditadura militar, houve um êxodo de talentos birmaneses, principalmente para Malásia, Cingapura, Tailândia e para os países do Golfo. O governo disse que espera atrair de volta os trabalhadores. Mas, para os birmaneses que ganham bons salários no estrangeiro, voltar para Mianmar pode ser uma questão basicamente financeira.

Os altos salários que as empresas devem pagar em Mianmar para atrair trabalhadores experientes prejudicam algumas das vantagens tipicamente associadas aos países menos desenvolvidos. Isto está sendo agravado pelos preços inflados por um aumento acentuado da especulação. Em um dhoteld e luxo de Yangon, The Strand, o quarto mais barato custa US$ 430 a diária. Mianmar é em certa medida mais caro e menos eficiente que seu vizinho muito mais desenvolvido, a Tailândia.

Um aluguel médio de escritório na Sakura Tower, no coração do bairro comercial de Yangon, custa o dobro da média pelo espaço no bairro comercial central de Bangkok, disse Surachet Kongcheep, gerente da filial tailandesa da firma imobiliária Colliers International. Mas, ao contrário de companhias em muitas outras grandes cidades asiáticas, as de Yangon têm de enfrentar cortes de energia, serviço de internet falhos e conexões telefônicas pífias.

De muitas maneiras, Mianmar é um país que espera ser construído. Setenta e cinco por cento de seus 55 milhões de habitantes não têm acesso à eletricidade, segundo o Banco Asiático de Desenvolvimento.

U Soe Aung, diretor da construtora Aung Thukha, disse que espera mais negócios nos próximos anos. Mas ele também advertiu que o velho sistema político de clientelismo, em que os generais e seus parceiros empresariais dominavam a economia, permanece parcialmente intacto.

Na velha Mianmar, os empresários sem conexões com os militares sempre temeram as autoridades. Fazer negócios "era como bater a cabeça contra um muro de pedras gigantesco", disse Soe Aung. "O muro está sendo derrubado -mas apenas até certo ponto."

Com tanto em jogo, alguns empresários birmaneses afoitos recorrem aos tradicionais adivinhos para prever a sorte. "O sabor do mel será delicioso", disse a advinha Daw Saw Yu Nwe, "mas se você não for hábil poderá se machucar."

Poypiti Amatatham Colaborou, de Bangkok

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