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Líder de seita inspira novo filme

Por MICHAEL CIEPLY

VALLEJO, Califórnia - Em algum lugar de Los Angeles, Paul Thomas Anderson está terminando o que será seu sexto longa-metragem. Fortemente protetor de seu processo, ele se negou a falar publicamente sobre o filme. Mas os detalhes sugerem uma história inspirada na fundação da cientologia e isso vem provocando polêmicas em Hollywood.

Com os vínculos complicados que a Igreja da Cientologia tem com Hollywood, e seus adeptos famosos como Tom Cruise, mesmo um filme apenas a grosso modo baseado nela será garantia de burburinhos.

Paul Thomas Anderson disse ao "New York Times" que dirigir um filme é apenas metade do trabalho. "Os outros 50%", disse ele, "são esse gene de proteção, de cuidar como pai e resguardar seu filme."

Anderson evitou publicidade e deixou poucas pistas do filme "The Master", que promete ser um trabalho notável de cinema de época. Com Joaquin Phoenix, Amy Adams, Laura Dern e Philip Seymour Hoffman no elenco, o filme fará sua estreia nos Estados Unidos em 12 de outubro.

"The Master" é um trabalho ambicioso, mas não vasto. Custou cerca de US$ 30 milhões, segundo parceiros comerciais de Anderson. Portanto, talvez seja um filme mais caro que "Sangue Negro", seu trabalho de 2008 sobre o boom do petróleo na Califórnia.

O filme se integra bem no conjunto da obra de Anderson. "Boogie Nights", "Magnólia" e "Embriagado de Amor" descreveram a vida no vale de San Fernando, onde Anderson foi criado numa família que misturou nove irmãos de dois casamentos.

"Sangue Negro" ampliou o leque com sua trama histórica, baseada no romance "Oil!", de Upton Sinclair. Mas não deixou de ser uma história sobre a Califórnia e californianos, como se Anderson usasse o cinema para examinar sua própria vida e, camada por camada, as vidas que o cercam.

Com "The Master", ele contará uma história dupla. A primeira é de um veterano beberrão da Marinha, representado por Joaquin Phoenix, que compartilha o que os parceiros de Anderson dizem ser semelhanças acidentais com o pai do cineasta, morto em 1997. A segunda história é de Lancaster Dodd, descrito no roteiro que Anderson escreveu inicialmente para a Universal Pictures apenas como "O Mestre" ou "Mestre de Cerimônias". Representado por Hoffman, ele é o carismático e ruivo fundador de um fenômeno profundamente californiano: uma seita psicologicamente sofisticada e manipuladora.

Dodd foi inspirado por L. Ron Hubbard, fundador da cientologia, mas não o emula integralmente.

"Acredite, não é sobre a cientologia", falou Hoffman ao jornalista Jeffrey Wells quando foi perguntado sobre "The Master" numa festa em setembro passado.

A primeira Igreja da Cientologia foi fundada em dezembro de 1953. A história de Anderson acontece nos anos precedentes, quando Dodd difunde uma filosofia que se assemelha à dianética, desenvolvida por Hubbard antes da fundação formal de sua igreja.

Enquanto "The Master" foi tomando forma, Paul Thomas Anderson, roteirista e diretor do filme, estudou as personalidades por trás de seitas e movimentos religiosos e de psicologia pop que têm raízes na Califórnia. Estas incluem Aimee Semple McPherson, que usou a rádio para evangelizar nos anos 1920; Werner Erhard, cujo movimento "est" varreu a Califórnia nos anos 1970, e Jim Jones, de San Francisco, 918 de cujos seguidores morreram em 1978 depois de tomar Flavor Aid batizado com cianeto.

Um olhar rápido para as muitas fotos de Ron Hubbard no início dos anos 1950 revelam uma semelhança marcante com Philip Seymour Hoffman, que tem as mesmas feições suaves e cabelos claros.

Tanto Hubbard quanto Dodd, o personagem de "The Master", gostam de barcos e nutrem uma desconfiança quase paranóica em relação à Associação Médica Americana. Os seguidores de Hubbard esperam tornar-se "claros" e os do Mestre buscam atingir o estado "ótimo". Ambos escreveram seus maiores segredos num livro que supostamente mataria ou enlouqueceria seus leitores. Seus acessos de raiva são monumentais. Cada um tem uma mulher chamada Mary Sue.

A Igreja da Cientologia tem fama de policiar sua imagem com determinação. Mas pessoas ligadas a Anderson disseram que os criadores do filme não foram contatados por representantes da cientologia. Um amigo de Anderson disse que o tema do filme "estava na cabeça dele há provavelmente 12 anos". Pessoas envolvidas no projeto dizem que o filme evoluiu enquanto Anderson o rodava.

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