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Dupla apoia mais impostos aos ricos

Por ANNIE LOWREY

WASHINGTON - Emmanuel Saez e Thomas Piketty analisaram a renda dos pobres, da classe média e dos ricos em países do mundo inteiro.

Seu trabalho mostra que os que ganham mais nos Estados Unidos adquiriram uma parcela cada vez maior da renda total do país nas últimas três décadas e que a desigualdade é quase tão acentuada quanto foi antes da Grande Depressão.

Conhecida em Washington pela abreviatura "Piketty-Saez", a dupla de economistas foi destaque na página editorial do conservador "The Wall Street Journal" e ganhou menção em documentos da Casa Branca sobre o orçamento.

Saez, 39, professor na Universidade da Califórnia em Berkeley, ganhou a medalha John Bates Clark, um prêmio econômico considerado inferior apenas ao Nobel, assim como uma bolsa da MacArthur Fellowship.

Piketty, 40, da Escola de Economia de Paris, ganhou o prêmio do jornal "Le Monde" como melhor jovem economista.

Ambos dizem admirar os EUA por seu impulso empreendedor, espírito inovador e excelência acadêmica. Mas também manifestam incredulidade diante da conversa atual sobre se os ricos, que receberam a maior parte das receitas dos Estados Unidos nos últimos 30 anos, deveriam pagar impostos mais altos.

"Os Estados Unidos estão se habituando a um nível completamente maluco de desigualdade", disse Piketty. "As pessoas dizem que reduzir a desigualdade é radical. Eu acho que radical é tolerar o nível de desigualdade que os EUA toleram."

Assim como o trabalho de Piketty e Saez influenciou o debate nacional sobre rendimentos e justiça, a correção que eles propõem fica totalmente fora dos limites do diálogo político educado: alíquotas muito mais altas para os mais ricos, de 50%, 70% ou mesmo 90%, em vez da alíquota máxima atual de 35%.

Os dois economistas afirmam que até os planos mais ousados dos democratas para aumentar os impostos para os ricos -a Lei Buffett, um imposto mínimo de 30% sobre rendas de mais de US$ 1 milhão- pouco fariam para reverter os ganhos dos ricos.

Os conservadores respondem que altos impostos abafariam o crescimento econômico, no mínimo, e fariam algumas empresas e trabalhadores de alta renda fugirem para outros países.

Mas Piketty e Saez afirmam que a história está do seu lado: muitos países têm alíquotas de impostos mais altas -e os EUA também já tiveram- sem sufocar o crescimento.

"De certa maneira, os EUA estão se tornando como a velha Europa, o que é muito estranho em perspectiva histórica", disse Piketty. "Os EUA costumavam ser muito igualitários, não apenas em espírito mas na realidade. A desigualdade de riqueza e renda costumava ser muito maior na França. E impostos muito altos para os muito ricos -isso foi inventado nos EUA."

O projeto dos dois economistas de mapear a desigualdade de renda começou há duas décadas, quando Saez lecionava na Universidade Harvard e Piketty no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).

O que eles descobriram os surpreendeu. Como em outros países industrialmente avançados, a desigualdade de renda nos EUA diminuiu depois da Segunda Guerra Mundial e permaneceu estável até a maior parte dos anos 1970.

Mas então a desigualdade começou a aumentar de novo. O gráfico que mostra a tendência ficou muito conhecido: um profundo U, com a desigualdade tão aguda hoje quanto era antes da Depressão.

Peter R. Orszag, ex-diretor de orçamento do presidente Obama, disse que o trabalho da dupla de economistas "ajudou a indicar o caminho para o governo em sua promessa de reequilibrar o código fiscal".

De 2000 a 2007, a renda dos 90% que ganham menos aumentou apenas cerca de 4%, ajustados pela inflação. Para o 0,1% no topo, a renda aumentou cerca de 94%.

Dados que os dois economistas divulgaram em março mostraram que o 1% da camada de maior renda conseguiu quase todos os dólares dos ganhos de renda obtidos no primeiro ano de recuperação. Em 2010, os 10% da faixa superior recebiam cerca da metade de toda a renda, no país.

"O debate em Washington é entre os índices de impostos da era Bush e da era Clinton", disse Peter Diamond, professor emérito no MIT e prêmio Nobel. "Nossa conclusão é que o debate deveria ser entre os impostos de Reagan antes de 1986, que eram de 50%, e as alíquotas que existiram de Johnson até Reagan", que eram mais altas.

"Trinta por cento são três vezes menos que os 91% de Roosevelt", disse Piketty, referindo-se à Presidência de Franklin D. Roosevelt, que criou o New Deal. "E a desigualdade hoje é maior que na época de Roosevelt."

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