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Vizinhos da Mongólia cobiçam seus minérios

Por DAN LEVIN

TAVAN TOLGOI, Mongólia - "Para garimpar aqui, você só precisa de uma pá", disse com assombro um gestor de investimentos indiano, olhando, na companhia de dezenas de executivos internacionais, para a imensa mina de carvão a céu aberto.

A Mongólia, um país de pastores, tem carvão suficiente para abastecer por 50 anos a demanda chinesa. Além disso, tem filões de cobre, ouro, urânio e outros minerais cobiçados pelo mundo todo.

Os 3 milhões de habitantes da Mongólia enfrentam um dilema geopolítico: sem acesso ao mar, todos os caminhos para a prosperidade passam pelo território dos poderosos dois únicos vizinhos do país, a China e a Rússia, que estão dispostos a cobrar caro por isso.

Tal realidade fica clara aqui em Tavan Tolgoi. Seu subsolo abriga o maior depósito inexplorado de carvão do mundo, a apenas 225 km da fronteira com a China.

Temendo que Pequim obtenha uma influência política indevida, o governo mongol há anos faz uma dança diplomática para decidir quem irá desenvolver uma parcela desse depósito estimada em 816 milhões de toneladas, no qual grande parte é de carvão coque, essencial na indústria siderúrgica. Os dois principais candidatos são a estatal chinesa Shenhua Energy e a americana Peabody Energy, que possui filial em Brisbane, na Austrália. Um consórcio russo-mongol e empresas do Japão e da Coréia do Sul também demonstraram interesse.

Washington, importante doador e aliado diplomático, faz lobby pela Peabody, e observadores dizem que o futuro das relações entre EUA e Mongólia depende em grande parte desse contrato. A China também está intensificando a pressão diplomática. Mas disputas internas na democracia mongol perturbam a definição de um acordo sobre Tavan Tolgoi.

"Somos um país pequeno ensanduichado entre dois elefantes", disse Puntsag Tsagaan, assessor presidencial para assuntos de mineração. "Não podemos ir à guerra e lutar, então temos de assegurar nosso crescimento econômico pela diplomacia."

Mas os nacionalistas mongóis estão cada vez mais poderosos e inflamados. E eles têm muito do que se queixar. Suspeitas de corrupção pairam sob todos os contratos do governo com multinacionais e com potências estrangeiras. A imprensa mongol narra histórias terríveis sobre pastos estragados pela mineração. A maioria dos mongóis pouco se beneficia das riquezas tiradas da sua terra.

Muitos estão insatisfeitos com um acordo de 2009 que cedeu à canadense Ivanhoe Mines 66% de Oyu Tolgoi, maior jazida inexplorada de cobre e ouro no mundo. A Ivanhoe, que tem como maior acionista a australiana Rio Tinto, está gastando US$ 4 bilhões para desenvolver a mina.

O Parlamento aprovou neste ano, após longa tramitação, uma lei que proíbe empresas estrangeiras de adquir participação majoritária em setores "estratégicos" sem aval do governo. Na campanha para a eleição parlamentar de 28 de junho, muitos candidatos prometeram mais dividendos para a Mongólia.Porém, as minas podem seguir inexploradas se não houver mais ajuda externa.

Analistas dizem que os mongóis precisam aceitar um preço 30% inferior ao atual nas suas commodities. "Se a China fechasse as fronteiras, morreríamos de fome", disse Zolboo Bataa, 34, gerente de contas de uma multinacional em Ulan Bator, a capital.

"Estamos tentando fazer um acordo com as potências mundiais que esteja alinhado com nosso interesse nacional", disse o presidente da Mongólia, Tsakhia Elbegdorj. "Chegar a um consenso é complicado."

Contra o domínio chinês, a Mongólia iniciou obras de US$ 7 bilhões para ampliar sua rede ferroviária com a Rússia, dando ao país acesso direto a mais clientes.

"A Mongólia está sem dúvida obtendo mais respeito das potências mundiais", disse John Johnson, executivo da consultoria de mineração CRU em Pequim. "Porque ela tem algo de que todos necessitam."

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