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Fluxo de refugiados sírios desafia a região

POR RICK GLADSTONE E DAMIEN CAVE

As agências humanitárias internacionais relataram em agosto um aumento alarmante no número de refugiados sírios, superando os cálculos da ONU e gerando temores de que a violência na Síria gere uma crise humanitária mais ampla, capaz de desestabilizar ainda mais o Oriente Médio.

Os relatos do Acnur (agência da ONU para refugiados) e de funcionários de campos de refugiados mostram que os esforços humanitários feitos até agora são inadequados e subestimam as necessidades da população de refugiados.

A Turquia está lutando para acomodar campos superlotados e declarou estar próxima do seu limite de 100 mil refugiados sírios. Os Exércitos libanês e jordaniano estão cada vez mais restringindo os refugiados a inóspitas zonas fronteiriças, com acomodações espartanas.

Escolas perto da fronteira com a Síria no Iraque, um país que ainda se recupera da guerra, estão transbordando de refugiados, enquanto as crianças locais se preparam para a volta às aulas.

Muitos refugiados são menores de 18 anos, incluindo crianças desacompanhadas. Saba Mobaslat, diretora da ONG Save the Children na Jordânia, descreveu uma área desértica e varrida pelos ventos perto da fronteira com a Síria como um "acampamento infantil".

Na semana de 19 de agosto, a cada noite o número de pessoas entrando na Jordânia quase quadruplicava em comparação à semana anterior, segundo ela.

Até 26 de agosto, segundo o Acnur, 214.120 refugiados haviam se registrado no Iraque, no Líbano, na Jordânia e na Turquia. A agência antes previa 185 mil refugiados registrados até o fim deste ano. Israel, tecnicamente em guerra com a Síria, não recebe esses refugiados.

"Já ultrapassamos onde estávamos em termos de planejamento", afirmou Adrian Edwards, porta-voz do Acnur. "Teremos de revisar para cima as cifras de planejamento e a correspondente quantia em dinheiro necessária para ajudá-los".

A agência havia orçado US$ 193 milhões para emergências e até agora recebeu um financiamento adequado, segundo Edwards.

Nadim Noury, diretor da Human Rights Watch para Oriente Médio e Norte da África, disse que o desafio para os vizinhos da Síria não é só financeiro. "É uma questão de absorção", disse ele. "Turquia, Líbano e Jordânia estão todas preocupadas com isso."

A questão é particularmente perturbadora para a Turquia, país que mais recebe refugiados sírios -pelo menos 78 mil já foram registrados.

O êxodo acelerado reflete a intensificação dos combates em Damasco e Aleppo, as maiores cidades sírias, e a intensa campanha do governo do presidente Bashar Assad para esmagar os insurgentes perto da fronteira com a Jordânia, ao redor de Deraa, onde a rebelião surgiu há 18 meses.

Mobaslat e outros funcionários na Jordânia dizem que refugiados sírios, muitos deles de Deraa, haviam sido alvejados, e que eles viajam à noite para evitar as forças governamentais sírias.

Mas essas forças também têm lançado panfletos estimulando as pessoas a fugirem, especialmente de Aleppo, num sinal de que Assad pode estar tentando usar os refugiados como punição contra seus vizinhos, especialmente a Turquia, ex-aliada de Assad que se voltou contra ele à medida que a repressão na Síria se agravou.

A maioria dos 51 mil refugiados sírios no Líbano se aglomera perto de duas passagens fronteiriças: a região do Bekaa, a leste de Beirute, e Wadi Khaled, ao norte. Nabil Halabi, diretor da ONG libanesa Vida pelos Direitos Humanos, que auxilia refugiados perto da fronteira do Bekaa, disse que, sem acampamentos organizados, muitas famílias de refugiados não receberão a ajuda necessária. "O número de refugiados está crescendo a cada dia, e o governo local não pode lidar sozinho com esse afluxo diário."

No que parece ser um esforço para desestimular os refugiados a se assentarem -o que encareceria aluguéis e geraria competição por empregos-, cercas foram postas em torno de alguns acampamentos improvisados na região fronteiriça do Líbano.

"Tenho medo de que prendam todos nós e nos mandem de volta", disse Ferhan al Kurdi, 40, em Rama, no Líbano. "Não nos sentimos protegidos."

Mobaslat, que trabalha no novo acampamento de Zaatri, na Jordânia, a cerca de 10 km da fronteira com a Síria, disse que o ritmo das chegadas em agosto saltou de 600 por noite para mais de 2.200, e que a maioria é de Deraa, incluindo muitas crianças desacompanhadas dos pais.

O terreno vigiado, disse ela, oferece pouca proteção contra o vento, mas quem chega não tem opção senão permanecer. "As pessoas estão fugindo de uma situação horrível para outra terrível."

Com reportagem de Rick Gladstone, de Nova York, e Damien Cave, de Beirute; Colaboraram Kareem Fahim, do Cairo; Hwaida Saad, de Beirute; Ranya Kadri, de Amã; e Isabel Kershner, de Jerusalém

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