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Arte & Estilo

A nova onda de prodígios eletrônicos

POR BEN SISARIO

DENVER - O rugido de 10 mil fãs ecoou nos bastidores do Red Rocks Amphitheater, em Denver, numa noite de agosto, quando Skrillex, o príncipe de 24 anos de idade da música dance dubstep, deu um abraço fraternal em seu protegido Zedd, que estava abrindo o show.

Dois anos atrás, Zedd, cujo nome real é Anton Zaslavski, estava tocando na obscuridade na Alemanha. Hoje, percorrendo o caminho profissional acelerado do mundo da música dance, ele está gravando com Lady Gaga e Justin Bieber. A multidão no Red Rocks acompanhou atentamente cada comando de dança dele.

"É uma loucura", disse Zedd, 22. "Eu sempre fiz música. Mas de repente me vejo do outro lado do mundo, fazendo turnês com gente como Deadmau5 e Skrillex."

Esses nomes podem não significar grande coisa para a maioria das pessoas com mais de 30 anos. Mas a música eletrônica dançante, ou EDM (iniciais em inglês), é o som da América jovem. Festivais como o Ultra e o Electric Daisy Carnival atraem multidões de 100 mil pessoas ou mais, e o som dos ritmos dance lota clubes da moda na Las Vegas Strip. A revista "Forbes" recentemente publicou um ranking da receita anual dos maiores DJs do mundo, encabeçado por Tiesto, com US$ 22 milhões. A indústria musical está tomando nota, é claro.

"As gravadoras estão todas dizendo 'precisamos encontrar o próximo Skrillex'", comentou Gary Richards, o promoter musical responsável pela franquia de festivais Hard.

Além de Zedd, que foi cortejado por Jimmy Iovine, da Interscope Records, os competidores incluem Madeon, Porter Robinson e o grupo Krewella, de Chicago.

Mas a ascensão da EDM também reflete as mudanças ocorridas na indústria musical, na qual as grandes gravadoras deixaram de ser as principais responsáveis pelo sucesso de músicos, e uma geração jovem e hiperdigital de artistas está de olho em prêmios que garantem mais prestígio, como trilhas sonoras de filmes.

"Não estamos nos anos 1990. Temos a internet", disse Robinson, 20, que vive com seus pais em Chapel Hill, Carolina do Norte. As gravadoras não são tão importantes ou influentes quanto eram no passado. Elas têm menos possibilidades de manipular o cenário musical.

A ascensão de Zedd é típica dessa nova onda. Tendo crescido em Kaiserslautern, na Alemanha, ele estudou piano clássico e tocou bateria numa banda de rock antes de começar a mexer com música eletrônica e desenvolver uma variação complexa do estilo eletro-house. Ele começa a compor no piano e então traduz acordes e melodias nos zips computadorizados e no baixo pulsante que lotam pistas de dança.

"O que eu não gosto de ouvir na música é algo que não foi pensado, é um som que está ali por acaso", comentou ele. "Quero garantir que cada som que está em minha canção, por menor que seja, esteja ali porque precisa estar."

Em 2010, Zedd ganhou dois concursos de remixagem patrocinados pela loja de música digital Beatport -a iTunes da EDM- e, num gesto não planejado, enviou uma faixa a Skrillex. Este usou a faixa em seu show daquela noite como DJ e passou a promover Zedd. "Nós dois viemos de um passado com uma banda, onde muitas das canções são baseadas em riffs, e é possível ouvir isso na produção", falou Skrillex, cujo nome real é Sonny Moore.

Zedd carrega em sua mochila um laptop, drives avulsos de computador e um emaranhado de cabos -todos os equipamentos de que precisa para se apresentar. Na primavera americana deste ano, ele percorreu a Ásia em turnê com Lady Gaga, em maio, assinou contrato com a Interscope, e seu álbum de estreia, "Clarity", está previsto para chegar às lojas em 9 de outubro. Ele também vem gravando com Lady Gaga.

Porter Robinson e Madeon -este um DJ francês de 18 anos e dotado de habilidade extraordinária, também conhecido como Hugo Leclercq- também tiveram inícios que parecem super-rápidos. Um ano apenas depois de concluir o ensino médio, Robinson já viajou em turnê, fez todas as remixagens certas e se gaba de sua capacidade de lucrar em turnê (mas, perguntado especificamente sobre dinheiro, ele respondeu: "Acho que meu pai não gostaria que eu falasse disso em público").

A ascensão deles vem sendo alimentada por incubadoras on-line como a Beatport, onde, essencialmente, DJs vendem canções a outros DJs. Uma faixa nova com potencial, quer tenha sido criada por um produtor famoso ou um jovem de 16 anos munido de um laptop, pode aparecer em playlists em todo o mundo, ganhar força por meio da mídia social e então abrir caminho para Hollywood, a indústria publicitária e todos os olheiros da indústria musical.

"O mercado da música dance é um microcosmos do que vem acontecendo na mídia de modo geral", disse o presidente da Beatport, Matthew Adell. "Está virando algo menos localizado, mais móvel e mais global, na medida em que as pessoas aceitam arte, comércio e comunicação vindos de outras partes do planeta."

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