São Paulo, segunda-feira, 01 de novembro de 2010

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LENTE - CARLOS CUNHA

Lucro sobre os que têm pouco dinheiro

Para fazer dinheiro, como em todas as coisas humanas, tendências misteriosamente vêm e vão. Franquias de varejo, desenvolvedores de software, empresas de informática revolucionárias -todas elas tiveram seu dia em que quase foram eliminadas pelo capitalismo. Qual é, então, a nova tendência no mundo empresarial?
Você acreditaria se a resposta fosse "pobreza"?
Os pobres do mundo aparentemente são o último El Dorado. Empresas livres encontraram um modo de extrair riqueza de onde é difícil perceber que exista, e a noção de fazer lucro, enquanto se faz o bem, se disseminou entre os maiores empresários do mundo, incluindo Jack Ma, uma personalidade chinesa do e-commerce, o comércio on-line. Quando perguntado, durante uma entrevista recente na televisão, qual ideia o atraía nesse momento, ele respondera surpreendentemente: serviço social.
Ma já colocou seu dinheiro onde pretende. Na China, há um ano, ajudou a criar uma espécie de Banco Grameen, que empresta valores pequenos aos milhões de pobres e, geralmente, recebe o pagamento desses empréstimos em dia, conforme o jornal "The New York Times" reportou.
É o fundador do Banco Grameen, Muhammad Yunus, que atua em Bangladesh, que recebeu o crédito por descobrir que lucro e pobreza podem se misturar para o benefício dos dois. Apesar de Yunus saudar para uma disciplina que alguns dizem ser tão dúbia quanto alquimia, não há economia vodu em microfinanças, e ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz em 2006.
Ma disse para seus colegas: "Se você tem dinheiro, mas não direcionou esses recursos para uma experiência a fim de elevar o nível de felicidade das pessoas, você tem simplesmente uma montanha de papel de várias cores".
Ma pensa que fazer coisas boas com o dinheiro pode ser um bom negócio, e mais dinheiro pode ser feito dessa maneira. Uma montanha de dinheiro, como Vinod Khosla, o fundador da Sun Microsystems, descobriu.
Khosla investiu seu dinheiro em um fundo de empréstimo para as mulheres pobres indianas, segundo o "Times", que hoje está valendo US$ 117 milhões, cerca de 37 vezes o que originalmente investiu nos anos de 2006 e 2007. Khosla está direcionando esses ganhos para outras empresas sociais que lucram por fazer o bem. Mas nem todos que lucram com a pobreza podem ser chamados de altruístas.
No seu livro "Broke USA", Gary Rivlin, que trabalhou no "Times", fala sobre uma indústria que cresce na exploração dos americanos pobres, um conglomerado que nomeou "Poverty Inc.".
Globalmente, Poverty Inc. é conhecida, por exemplo, por incluir o fenômeno do turismo da pobreza nas favelas do Brasil e nos cortiços da Índia. Muitos dizem que essa curiosidade está no gosto pela pobreza.
Mas os operadores insistem que estão tentando mostrar que esses cortiços ostensivos são, na verdade, tumores da economia global.
Além disso, esse turismo que atrai as pessoas para esse tipo de lugar poderia ser perfeitamente interpretado como encorajador, um sinal que, graças em parte a Yunus e seus amigos, a pobreza extrema é uma espécie em extinção, algo que você deseja ver enquanto ainda exista.
Seria certamente muito bom pensar desse jeito.


Envie comentários para nytweekly@nytimes.com.



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