São Paulo, segunda-feira, 02 de março de 2009

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NEGÓCIOS VERDES

Crédito fica escasso para a energia verde

Por KATE GALBRAITH

As energias solar e eólica vêm crescendo em ritmo intensivo nos últimos anos, e a expectativa era que esse crescimento se intensificasse sob o governo de Barack Obama nos EUA. Mas, em função da crise do crédito e da recessão econômica, está acontecendo o contrário: as instalações de energia do sol e dos ventos vêm diminuindo muito.
Fábricas que produzem componentes para essas indústrias anunciaram uma onda de demissões nas últimas semanas, e grupos comerciais estão prevendo retrações de 30% a 50% neste ano nas instalações de equipamentos novos, a não ser que o setor receba mais ajuda do governo.
Os preços de turbinas e painéis solares, que subiram muito quando o boom começou, alguns anos atrás, estão caindo. Comunidades que no ano passado comemoraram por terem atraído uma fábrica de equipamentos solares ou de vento agora enfrentam reduções na produção.
"Pensei que, se houvesse um setor à prova de problemas, seria esse", comentou Rich Mattern, prefeito de West Fargo, Dakota do Norte, onde a DMI Industries of Fargo opera uma fábrica que produz torres para turbinas de vento. Embora os Estados de Dakota, do Norte e do Sul, estejam entre os melhores lugares do mundo para usinas de energia eólica, graças a suas grandes extensões de terra plana, a DMI anunciou recentemente um corte de 20% de sua força de trabalho devido à queda nas vendas.
Boa parte do problema deve-se à crise do crédito. Houve época em que até 18 grandes bancos e instituições financeiras se dispunham a financiar a instalação de turbinas de vento e painéis solares, aproveitando generosos incentivos fiscais federais. Mas, com os bancos em dificuldades, hoje são apenas quatro que o fazem, segundo Keith Martin, especialista em impostos e financiamento de projetos junto à empresa de advocacia Chadbourne & Parke.
Empresários que desenvolvem equipamentos solares e eólicos estão sem recursos. "Está tudo totalmente congelado", disse Craig Mataczynski, presidente da Renewable Energy Systems America, que desenvolve equipamentos para uso de energia eólica. Ele prevê que sua empresa produza este ano um pouco menos da metade do que produziu no ano passado.
As duas indústrias têm a esperança de que o pacote de estímulo econômico de Obama ajude. Mas isso levará tempo, e, enquanto isso, elas traçam planos para um período de lentidão.
Empresas de energia solar como OptiSolar, Ausra, Heliovolt e SunPower, antes favoritas dos investidores, começam a demitir funcionários. E o mesmo acontece com algumas empresas do meio-oeste americano que produzem torres ou lâminas para turbinas de vento, entre elas a Clipper Windpower, a LM Glasfiber e a DMI.
Devido à necessidade de espaço para abrigar grandes turbinas de vento, as usinas de energia eólica dependem de financiamento bancário para cobrir até 50% dos custos de cada projeto. O JP Morgan, por exemplo, que segundo analistas é o banco mais ativo que ainda trabalha com o setor de energia renovável, investiu em 54 usinas de energia eólica e uma usina solar desde 2003, revelou John Eber, seu diretor administrativo de investimentos energéticos.
Na indústria solar, os efeitos da crise se estendem aos painéis que proprietários de casas colocam sobre seus telhados. O preço dos painéis solares caiu 25% em seis meses, segundo Rhone Resch, presidente da Associação das Indústrias de Energia Solar, que prevê uma queda adicional de 10% até meados do ano.
Após anos durante os quais os instaladores tinham que pressionar os fabricantes para garantir que recebessem painéis em número suficiente, a situação se inverteu. Bill Stewart, presidente da instaladora SolarCraft, da Califórnia, disse que hoje os fabricantes telefonam para perguntar: "Ei, vocês estão precisando de painéis neste mês?".
No setor da energia eólica, turbinas que antes precisavam ser encomendadas com muita antecedência de repente estão facilmente disponíveis.
"Pelo menos uma fabricante já disse que terá equipamentos para entregar em 2009, sendo que, nove meses atrás, ela não teria podido receber novos pedidos antes de 2011", escreveu por e-mail Mataczynski, da Renewable Energy Systems.
Empresas de energia eólica e solar pediram ao Congresso que adote medidas que possam ajudar a reanimar o mercado. Mas ninguém prevê uma retomada rápida.
"Nada no pacote de estímulo do Congresso poderá fazer o mercado voltar paraa onde estava em 2007 e 2008, antes da crise", disse Martin, advogado tributário da Chadbourne & Parke. "Mas ele pode ajudar pelas margens."


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