São Paulo, segunda-feira, 02 de maio de 2011

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Uísque canadense quer imagem mais suave

Por ROBERT SIMONSON

O uísque canadense tem um problema de imagem. Enquanto, por um lado, o scotch e o bourbon passaram a ser vistos como tragos cultos e elitizados, o uísque americano de centeio ressuscitou, e as bebidas irlandesas e japonesas angariaram respeito e popularidade, por outro, o Canadá continuou sendo o nada glamoroso pau para toda obra no mundo do uísque, produzindo marcas híbridas, leves e bebíveis, mas ironizadas pelos conhecedores como sendo uma "vodka marrom".
Para piorar, o tradicional domínio das destilarias canadenses nos EUA diminuiu nos últimos anos devido à estagnação nas vendas. Mas o uísque canadense tem dado passos para sair das sombras. Novas garrafas proclamam ser de "lotes pequenos" ou "barril único" e apresentam maior teor alcoólico e tratamento com madeiras incomuns. A mudança era necessária. "A categoria do uísque canadense, há dez anos, vinha rapidamente perdendo terreno para o bourbon, o uísque de centeio e o uísque do Tennessee", disse Chris Morris, mestre-destilador do conglomerado Brown-Forman. A Brown-Forman, assim como seus pares no setor, tem interesse nos destinos da bebida canadense. Ela é dona da marca Canadian Mist, assim como a Diageo possui a Crown Royal, e a Beam Global Spirits tem o Canadian Club.
Para o produtor independente John Hall, essa participação estrangeira é parte do problema.
"No final da década de 1980, a rapaziada do scotch começou a trazer os 'single malts', e a rapaziada do bourbon fazia bourbons de pequenos lotes", disse ele. "Achei que precisávamos tentar devolver uma herança ao uísque canadense."
Hall fundou uma destilaria em 1992, com uma abordagem inovadora para a sua primeira marca, o Forty Creek Barrel Select. "Eu não uso um 'mash bill'", disse ele, referindo-se à receita de grãos fermentados que determina o caráter de muitos uísques. Em vez disso, ele destila e envelhece cada grão (milho, centeio, cevada maltada) em barris separados e, após uma espera de seis a dez anos (a lei canadense exige apenas três anos), os combina. Em 2002, ele lançou o Forty Creek (US$ 23), um destilado bem mais rico e profundo do que em geral se associa aos uísques do Canadá.
O Confederation Oak Reserve do ano passado, envelhecido em barris de carvalho canadense, e não nos tonéis americanos, custa US$ 70. A edição, de caráter limitado, está quase esgotada.
Agora, as empresas americanas Sazerac e Brown-Forman lançaram novos uísques canadenses "premium". A Sazerac, com sede em Nova Orleans, sem dúvida levava vantagem por causa do seu "master blender", Drew Mayville. Canadense, com anos de experiência no conglomerado Diageo, Mayville sabia o que estava errado e tinha uma ideia sobre como consertar.
O uísque canadense, segundo ele, "era o que seu pai bebia, (e) as pessoas estão ficando entediadas com ele". Em outras palavras, elas querem bourbon, scotch e uísque de centeio.
Resultado: os lançamentos, no ano passado, do Caribou Crossing Single Barrel e do Royal Canadian Small Batch. "Para o Caribou, eu queria uísques mais envelhecidos, que surpreendessem as pessoas", disse Mayville. "O Crown Royal foi pensado para ser rico e muito suave". Ele também está trabalhando em quatro novos produtos canadenses.
Morris também queria criar "rica expressão do uísque canadense, com paladar completo". Mas sabia que precisaria de um equilíbrio para atrair novos bebedores de uísque sem alienar os devotos do estilo canadense. Ele chegou ao Collingwood, suave e triplamente destilado, ao deixar o uísque concluído repousar com madeira de bordo tostada.
As novas marcas não são a única mudança lá no norte. No ano passado, a Canadian Mist lançou o Canadian Mist Black Diamond, com forte presença de centeio, e a líder de mercado Crown Royal apareceu com novas versões, como o Crown Royal Black, com maior teor alcoólico do que a lei exige. "Eu acredito que [as novas marcas] elevaram o nível da categoria", afirmou Hall. "A concorrência é boa. Significa apenas que há mais bons uísques."
E talvez os bebedores canadenses notem. "Como a maioria das coisas canadenses -artistas, atores-, eles são reconhecidos antes nos EUA", brincou Hall. "Aí o Canadá diz: 'Ah, então deve ser bom'."


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