São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2010

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Pelo clima, Reino Unido limita voos


Coalizão prioriza ambiente em vez dos negócios

Por ELISABETH ROSENTHAL

O governo britânico se propôs a limitar o fenômeno que já foi descrito como "viagens aéreas descontroladas", recusando-se a construir novas pistas de pouso para receber mais aviões.
Em maio, dias após sua eleição, o premiê britânico David Cameron, citando os altos níveis de emissões de gases-estufa decorrentes das viagens aéreas, cancelou abruptamente os planos britânicos de longa data para a construção de uma terceira pista no aeroporto de Heathrow. Cameron disse que tampouco aprovará a construção de novas pistas nos aeroportos secundários de Londres, Gatwick e Stansted.
O Reino Unido está remando na contracorrente de uma tendência global. Na esperança de se manterem competitivas, cidades em toda a Ásia, Europa e América do Norte vêm construindo pistas novas ou ampliando seus terminais aéreos para poder receber o crescimento projetado de voos e transportes aéreos de carga.
Heathrow, um dos aeroportos mais movimentados do mundo e ponto vital de conexão para destinos em Europa, sul da Ásia e Oriente Médio, já é conhecido por suas filas intermináveis e os atrasos em seus voos. É o único aeroporto de seu tamanho a contar com apenas duas pistas.
Na recessão global atual, as preocupações comerciais geralmente têm prevalecido sobre preocupações climáticas. Os britânicos têm se acostumado a viagens aéreas frequentes e fáceis, e o país tornou-se centro de atuação de companhias aéreas de baixo custo.
A Lei de Mudanças Climáticas, promulgada em 2008, prevê que até 2020 o Reino Unido reduza suas emissões em pelo menos 34% em relação aos níveis de 1990.
A ministra dos Transportes, Teresa Villiers, disse que "as emissões foram um fator importante" na decisão de cancelar os planos de construir novas pistas.
Peter Jensen, especialista em transportes junto à Agência Europeia de Aviação, disse que, pelo que sabe, o Reino Unido é "o único país a ter tomado uma decisão consciente baseada em considerações climáticas". Muitos empresários e executivos ficaram chocados quando Cameron, depois de chegar ao poder em uma coalizão com os liberais-democratas, cancelou o plano de construção de novas pistas.
"Este é um governo novo que afirmava ser favorável às empresas", disse Steve Lott, porta-voz da Associação Internacional de Transportes Aéreos. "Estamos diante de uma decisão política míope que terá consequências econômicas lamentáveis."
Villiers disse que uma ferrovia de alta velocidade para substituir os voos de distâncias curtas seria uma maneira melhor de resolver os congestionamentos no aeroporto. "Reconhecemos que aumentar o número de passageiros e voos no sudeste do Reino Unido não justifica os custos ambientais", disse ela.
O governo britânico calcula que a aviação foi responsável por apenas 6% das emissões de dióxido de carbono do país em 2006. Mas, em relatório, previu que até 2030 o setor poderá contribuir para até 25% dessas emissões.
Para cidades interessadas em atrair negócios e turismo, a tentação de ampliar os aeroportos é grande. Hoje a maioria dos aeroportos da Europa é administrada por empresas privadas; quanto maior o tráfego, maior o lucro.
Críticos dizem que a posição assumida pelo Reino Unido não faz sentido, porque as companhias aéreas e os passageiros simplesmente voarão por um aeroporto diferente. Em lugar de as emissões serem reduzidas, afirmam, elas apenas serão transferidas.
Mas Leo Murray, porta-voz do grupo ambiental Plane Stupid, descreveu a decisão do governo como "ponto de virada para a aviação", acrescentando, contudo, que "é incômodo o fato de o tiro se misericórdia ter sido disparado pelo governo conservador".


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