São Paulo, segunda-feira, 02 de agosto de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Evolução humana segue seu curso


Genes se adaptam a novos ambientes ou á dieta das pessoas

Por NICHOLAS WADE

Muitos especialistas acreditavam que os seres humanos tivessem deixado de evoluir num passado distante, talvez quando as pessoas aprenderam pela primeira vez a se proteger do frio, da fome e de outros agentes agressivos da seleção natural.
Mas os biólogos que examinam as sequências do genoma humano, hoje disponíveis do mundo inteiro, encontraram evidências crescentes da seleção natural em ação nos últimos milhares de anos, levando muitos a supor que a evolução humana continua em progresso.
Cientistas do Instituto de Genômica de Pequim, por exemplo, descobriram entre os tibetanos um conjunto de genes que evoluiu para enfrentar os baixos níveis de oxigênio apenas 3.000 anos atrás. Se isso for confirmado, seria o caso mais recente conhecido de evolução humana.
"Não acho que haja motivos para supor que o ritmo baixou ou diminuiu", diz o geneticista populacional Mark Stoneking.
A seleção natural hoje pode ser avaliada em todo o genoma humano. Isso se tornou possível por meio de dados extraídos principalmente do Hap Map, um projeto do governo dos EUA. Ele contém amostras de 11 populações de todo o mundo e consiste em leituras de DNA nos locais ao longo do genoma onde as variações são comuns.
Uma das assinaturas da seleção natural é que ela perturba o crescimento de mutações que se acumulam ao longo do genoma.
Conforme uma versão preferida de um gene se torna mais comum em uma população, os genomas serão cada vez mais parecidos entre si perto desse gene. Como a variação é afastada, a ascensão em popularidade do gene preferido é chamada de sweep, ou "varredura". Os geneticistas desenvolveram vários métodos estatísticos para detectar varreduras e, portanto, a seleção natural em ação.
Vinte e um rastreamentos do genoma para seleção natural foram concluídos em 2009, dando evidências de que 4.243 genes -23% do total humano- estavam sofrendo a seleção natural. É uma proporção surpreendentemente alta.
Uma nova abordagem foi desenvolvida por Anna Di Rienzo, da Universidade de Chicago. Ela começou com genes que teriam probabilidade de mudar conforme as pessoas adotassem ambientes e dietas diferentes e, então, verificou como diferentes populações haviam reagido.
Ela encontrou sinais fortes de seleção em populações que vivem nas regiões polares, em pessoas que vivem de caça e coleta e pessoas cujas dietas são ricas em raízes e tubérculos, conforme relatou com seus colegas em maio na revista "Proceedings of the National Academy of Sciences".
Os menores sinais de seleção foram encontrados entre pessoas que vivem nos trópicos úmidos, onde evoluiu a população humana ancestral. "Poderíamos argumentar que estamos adaptados a isso e que a maioria dos sinais é vista em lugares onde as pessoas se adaptam a novos ambientes", disse Di Rienzo.
Em uma adaptação, descobriu-se que a maioria dos asiáticos do leste tem uma forma especial de um gene conhecido como ABCC11, que faz as células do ouvido produzirem cera seca. Mas a maioria dos africanos e dos europeus possui uma forma ancestral do gene, que faz cera de ouvido úmida.
A versão asiática do gene pode ter sido selecionada por alguma propriedade, como fazer as pessoas suarem menos, diz uma equipe liderada por Kohichiro Yoshiura, da Universidade de Nagasaki.
Os casos de seleção natural que foram rastreados até agora assumem a forma de varreduras substanciais, com uma nova versão de um gene presente em uma grande porcentagem da população.
Essas varreduras bruscas, como muitas vezes se supõe, partem de uma nova mutação. Mas poderia levar até 300 mil gerações para ocorrerem, segundo cálculo do geneticista Jonathan Pritchard, da Universidade de Chicago.
Mas a nova evidência de que os humanos se adaptaram rápida e extensamente sugere que a seleção natural deve ter outras opções para modificar uma característica. Em "Current Biology", Pritchard sugere que a seleção natural pode ocorrer por meio do que ele chamou de varreduras suaves.
Suponha que haja cem genes que afetam a altura. Cada gene existe em uma versão que reforça a altura e em outra que não. A pessoa média poderia herdar a versão de aumento da altura de 50 desses genes e, consequentemente, ter uma altura mediana.
Suponha que essa população migre para uma região onde é vantajoso ser muito alto. A seleção só precisaria tornar as versões de aumento da altura desses cem genes apenas um pouco mais comuns na população, e agora a pessoa média provavelmente herdaria 55 deles, digamos, em vez de 50, e, consequentemente, seria mais alta.
Como as versões dos genes para altura maior já existem, a seleção natural pode agir imediatamente, e a população pode se adaptar com rapidez ao seu novo lar.


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