São Paulo, segunda-feira, 03 de maio de 2010

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Documentário de arte traz uma charada

Por MELINA RYZIK

O artista de rua britânico de pseudônimo Banksy construiu sua reputação sobre uma série de façanhas, como incluir seus trabalhos entre os de grandes mestres em museus, zombando do mercado no qual suas obras eram vendidas.
Mas, com seu projeto mais recente, o documentário "Exit Through the Gift Shop" (Saída pela loja de presentes), ele procura convencer o público de que está mostrando algo que não é um embuste.
O filme acompanha Thierry Guetta, um francês bem-humorado que vive em Los Angeles e filma tudo -ou, pelo menos, é o que nos é dito. Guetta e sua câmera acabam voltando-se ao mundo da arte de rua, captando grandes nomes desse cenário, como Shepard Fairey e Swoon, trabalhando em vielas e sobre telhados.
Parece ser um tema natural para um documentário. Mas as imagens filmadas por Guetta revelam ser, em sua maioria, impossíveis de se assistir. "Talvez ele fosse simplesmente alguém com problemas mentais que, por acaso, tinha uma câmera nas mãos", diz Banksy no filme.
Então, o próprio Banksy decide assumir o controle do material -ou, pelo menos, é isso que nos é dito. Enquanto isso, Guetta vira artista de rua, promovendo uma exposição inaugural em Los Angeles que o converte em sensação da noite para o dia, sendo tudo isso mostrado em "Exit Through the Gift Shop".
O próprio filme fez sensação no Festival de Cinema Sundance deste ano. A questão é que tanto Banksy quanto Guetta são narradores pouco confiáveis. O boato imediato foi que Guetta ou não existe, ou que estava trabalhando em segredo com Banksy, ou, ainda, que ele seria o próprio Banksy.
Mas todos os envolvidos no documentário atestam sua veracidade. "É claro que, quanto mais eu tento dizer que é tudo verdade, mais dou a impressão de estar de algum modo perpetuando uma conspiração", disse Fairey, que é amigo de Banksy.
Já Guetta não respondeu ao pedido de que desse declarações -mas parece que ele existe de fato e que é tão idiossincrático quanto se mostra no filme. "Não sei por que tantas pessoas foram induzidas a achar que este filme é uma mentira", escreveu em mensagem de e-mail Banksy ou alguém que se fez passar por ele.
"É uma história verídica mostrada com imagens reais. Me incomoda o fato de as pessoas não acreditarem. Eu nunca poderia ter escrito um roteiro tão engraçado quanto este."
Em última análise, é possível que indagar-se se "Exit Through the Gift Shop" é ou não real possa não vir ao caso. O filme propõe perguntas reais: sobre o que significa ser superestrela em uma subcultura baseada na fuga do "mainstream" e sobre como essa cultura avalia o talento e o monetariza.
Indagado sobre a possibilidade de um filme que critica a comercialização da arte de rua desvalorizar seu próprio trabalho, Banksy escreveu: "Pareceu apropriado que um filme que questiona o mundo da arte tenha sido pago com renda vinda diretamente do mundo da arte. Talvez seu título devesse ser 'Não Cuspa no Prato em que Você Comeu'".


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