São Paulo, segunda-feira, 03 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DINHEIRO & NEGÓCIOS

Amazon e eBay se encontram em rota de colisão

Dois gigantes da internet copiam as melhores idéias um do outro

Por BRAD STONE

Quando o gigante do comércio online eBay emergiu da última recessão há sete anos com uma aura de invencibilidade, sua executiva-chefe, Meg Whitman, vangloriou-se de que "o eBay é até certo ponto à prova de recessão".
Enquanto os lucros e o preço das ações do site de leilões continuavam sua escalada, um de seus principais rivais, Amazon.com, sofria para manter o passo. Os tempos mudaram.
Whitman, agora uma das líderes da campanha presidencial de John McCain, se aposentou do eBay no início deste ano, quando a companhia sofria com a estagnação. A Amazon, por sua vez, emergia de maneira vibrante.
Num sinal de que as empresas da internet estão expostas à tempestade econômica que está se formando, o sucessor de Whitman, John J. Donahoe, dispensou 10% dos 16 mil funcionários do eBay no mês passado.
Que a crise econômica tenha chegado ao vale do Silício não é surpresa. Nos últimos três meses, investidores puniram empresas de tecnologia como Google, Microsoft e Apple, reduzindo seus valores de mercado entre 20% e 50%.
O comércio online, porém, era visto como a salvo das tempestades econômicas. As pessoas que não vão às compras poderiam se sentir mais tentadas a comprar online e caçar por bons negócios, se pensava.
Mas os analistas estão revendo essa hipótese. Muitos consumidores dizem que vão manter as carteiras fechadas neste fim de ano: 48% dos entrevistados recentemente pela eBilme, um serviço de pagamento online, disseram que planejam adiar as compras.
Lojas tradicionais sofreram com recuos de dois dígitos nas vendas em setembro e estão caminhando para um pálido Natal. Não se sabe ao certo em que grau as cadeias online sofrerão o mesmo efeito, até porque os vendedores digitais nunca passaram antes por uma crise econômica profunda.
"Ainda estamos bastante otimistas quanto a este ano, mas preocupados com os próximos", diz Brian J. Pitz, analista do Bank of America Securities. "Será que as pessoas vão continuar gastando, se não puderem ter linhas de crédito imobiliárias, estudantis ou para comprar um automóvel?", indaga.
Para o eBay e a Amazon, os gigantes gêmeos do comércio online, a crise chegou em um momento crucial.
A Amazon acelerou seu assédio a pequenos vendedores online, permitindo que eles vendam em seu site _se tornando mais parecida com o eBay. E o eBay decidiu enfatizar vendas tradicionais, com preço fixo, de mercadorias novas e usadas _se tornando mais parecido com a Amazon.
Na internet, o tamanho é importante. Companhias maiores podem coletar mais informação sobre os consumidores, negociar melhores negócios com os parceiros e usar isso para se expandir.
"Este é um Natal crucial para o eBay", diz Jeffey Lindsay, analista do Bernstein Research. "O que eles temem é que a Amazon, basicamente, está construindo uma base de vendas maior que a do eBay e vá usar esse conhecimento para vender às pessoas mais e mais daquilo que elas querem comprar online."
De fato, a balança de poder do e-comércio parece estar pendendo para outro lado. Há três anos, o eBay tinha 30% a mais de acessos do que a Amazon. Hoje, seus 84,5 milhões de usuários acima superam por pouco os 81 milhões da Amazon.
E a Amazon passou o eBay em outros quesitos. Em 2005, o valor de mercado do eBay era três vezes maior que o da Amazon. Wall Street amava o fato de que o eBay não tivesse inventário e gerasse lucros imensos.
Hoje, as ações do eBay se desvalorizaram em mais de 50%, e, em julho, o valor da Amazon superou o do concorrente pela primeira vez.
Em várias entrevistas, Donahoe admitiu que o eBay não se adaptou imediatamente à mudança de ventos no comércio online. Ele agora prega uma mudança de mentalidade e está redirecionando o site para atingir compradores que não querem perder tempo em leilões online.
Enquanto isso, o executivo-chefe da Amazon, Jeff Bezos, diz que após anos de tentativas frustradas, vendedores terceirizados _a pedra sobre a qual foi construído o eBay_ agora respondem por 29% das vendas da Amazon.
No ano passado, a Amazon impressionou os investidores com seu crescimento acelerado, e o preço de suas ações voltou às alturas dos tempos da bolha da internet, antes que a passagem da euforia ao pessimismo apagasse mais da metade daqueles ganhos neste ano. Bezos destaca a tolerância da Amazon por apostas caras e arriscadas.
"Nossa disposição a sermos mal-compreendidos, nosso foco no longo prazo e nossa disposição de errar repetidamente são três partes da nossa cultura que tornam possível esse tipo de coisa", diz.
"O eBay poderia ter fechado a porta à Amazon lá atrás, quando ela era só uma plataforma para vender livros e música", diz Scott Devitt, analista do banco de investimento Stifel, Nicolaus & Company. "Mas naquele momento o ebay escolheu deixar o mercado se autocontrolar. E isso acabou sendo o ponto negativo em relação a outras empresas que tiveram mais sucesso."
Mais de uma dúzia de atuais e antigos executivos do eBay dizem que o site evitou mudar seu modelo de leilão porque temia abalar um lucrativo equilíbrio entre compradores e vendedores.

Texto Anterior: Inteligência/Roger Cohen: Caça às Bruxas em Nova York
Próximo Texto: Como a insanidade dos mercados atrai as massas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.