São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Ligação entre fator genético e mente criminosa fortalecida

Casamento pode afastar os homens de atos de violência

Por PATRICIA COHEN

A história maculada do uso da biologia para explicar o comportamento criminoso levou criminologistas a rejeitar ou ignorar a genética ou a concentrar-se sobre as causas sociais. Mas, agora que o genoma humano foi sequenciado, eles estão voltando ao tema. Um grupo pequeno de especialistas explora como os genes podem elevar o risco de se cometer um crime e a possibilidade de tal característica ser herdada.
"Hoje, as teorias modernas mais convincentes sobre o crime e a violência entrelaçam temas sociais e biológicos", disse Terrie E. Moffitt, especialista comportamental da Universidade Duke, em Durham, na Carolina do Norte.
Pesquisadores estimam que pelo menos cem estudos tenham demonstrado que os genes exercem um papel na criminalidade. "Avanços metodológicos muito bons levaram a uma ampla gama de estudos genéticos", disse John H. Laub, diretor do Instituto Nacional de Justiça, que, em junho, recebeu o Prêmio Estocolmo de Criminologia. Mas ele ressalta que os genes são regidos pelo ambiente, que pode amortecer ou agravar impulsos violentos.
O assunto suscita questões éticas e políticas espinhosas. Deve uma predisposição genética influir sobre a sentença de criminosos? Exames genéticos poderiam ser usados para adaptar programas de reabilitação a criminosos individuais? Deveriam ser identificados os adultos ou as crianças que tivessem marcadores biológicos de violência?
Os profissionais desse campo concordam que não existe "gene do crime". O que a maioria dos pesquisadores está procurando são características herdadas que sejam ligadas à agressividade e a comportamentos antissociais, que, por sua vez, podem levar à criminalidade violenta.
Steven Pinker, professor de psicologia na Universidade Harvard cujo livro a ser lançado em breve "The Better Angels of Our Nature" (os anjos melhores de nossa natureza) argumenta que os humanos vêm se tornando menos violentos, sugere que a maneira correta de pensar a genética e a criminalidade é começar pela natureza humana e, então, analisar o que leva o gatilho de uma característica particular a ser ligado ou desligado.
"Não se trata de afirmar de que modo John e Bill diferem, mas de afirmar algo sobre como todos os homens são iguais", disse ele. Compreender a genética da violência "pode nos revelar qual aspecto da violência deveríamos analisar".
Pinker mencionou um dos maiores fatores de risco que conduzem à criminalidade: permanecer solteiro. Esse vínculo foi trazido à tona por Laub e Robert J. Sampson, sociólogo de Harvard que foi ganhador do Prêmio Estocolmo. De acordo com Pinker, o casamento pode servir como gatilho que direciona as energias masculinas para o investimento na família, em lugar da competição com outros homens.
Kevin Beaver, professor associado da Faculdade de Criminologia e Justiça Criminal da Universidade Estadual da Flórida, disse que 50% do comportamento agressivo abrange centenas de milhares de genes que se expressam de maneiras distintas, dependendo do ambiente.
Depois de estudar gêmeos e irmãos, ele descobriu um resultado surpreendente: a genética não exerceu papel no comportamento violento de garotos não expostos a fatores de risco. Um ambiente positivo tinha impedido que fossem ativados os gatilhos genéticos que afetam a agressão. Mas, em garotos com oito ou mais fatores de risco, os genes explicavam 80% de sua violência.
Novas pesquisas vêm enfocando a indiferença ao sofrimento alheio e a falta de empatia, características envolvidas na decisão de cometer um crime. Como outros traços de personalidade, acredita-se que tenham componentes ambientes e genéticos.
Em descobertas feitas a partir de um estudo de mil bebês nascidos na Nova Zelândia em 1972, Moffitt e seus colegas relataram recentemente que, quanto menos autocontrole uma criança exibia aos três anos de idade, mais provável era que cometesse um crime 30 anos mais tarde.
Criminologistas e sociólogos têm tratado as causas genéticas da criminalidade com muito mais cautela do que psicólogos.
Mas os trabalhos recentes tendem a vir à tona fora dos fóruns principais de criminologia. Beaver, por exemplo, publicou um artigo no "Biological Psychiatry" em fevereiro em que conclui que filhos adotados cujos pais biológicos haviam infringido as leis "tiveram probabilidade significativamente maior de ser presos, sentenciados a liberdade condicional, encarcerados e detidos múltiplas vezes, em comparação com filhos adotados cujos pais biológicos não tinham sido presos".


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