São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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JORNAL COTONOU

Sacerdote vodu busca renovar seu rebanho

No Benin, religião tradicional de dia; à noite, o oculto

Por ADAM NOSSITER
COTONOU, Benin - Não se trata de murmurar rezas misteriosas na calada da noite, nem de uma coisa para malucos excêntricos, explica Dah Aligbonon Akpochihala, um respeitado sacerdote do vodu, que ocupa as ondas do rádio para pregar mensagens de fé, fidelidade e obediência integral à sua religião. Trata-se de trazer uma nova geração para o culto.
"O vodu é sabotado, demonizado, como se não tivesse nada de bom", disse Aligbonon, que mantém um modesto templo feito de blocos de cimento numa movimentada rua desta fervilhante cidade do Benin.
O templo oferece consultas espirituais e cerimônias para Mami Watá (uma divindade das águas), além de serviços de fotocópia, encadernação e venda de CDs com os programas de rádio e televisão de Aligbonon, em idioma fon.
O Benin reivindica ser a origem da religião vodu. E, por baixo da superfície cristã e islâmica, a velha fé no vodu persiste para muita gente, conforme observados pelos especialistas.
Visitas noturnas aos "féticheurs" (sacerdotes) depois de assistir a uma missa católica ou rezar nas mesquitas, digamos, não são incomuns, afirma o historiador Félix Iroko, da Universidade d'Abomey-Calavi.
"A prática dupla persiste, mesmo entre universitários", diz Iroko.
Um estigma injustificável ainda está ligado ao vodu, afirmou Aligbonon. "O vodu não é o diabo, e muito menos Satã", escreve enfaticamente em um dos panfletos à venda na sua loja, um guia detalhado sobre as principais divindades da religião.
O vodu, diz, "se baseia na lei natural", e existia antes de Buda, Cristo ou Maomé.
Fragmentos da filosofia -"Se você respeitar a natureza, a natureza lhe protegerá", mas "se eu fizer o mal contra alguém, isso diminui minha força"- são brindados nas transmissões de Aligbonon.
A meta, como ele diz, é tirar o vodu e seus ensinamentos do armário, e modernizá-los.
"Quando Aligbonon aparece no rádio, ninguém dorme", disse. "As pessoas estão famintas por meus programas. Sempre que apareço, recebo centenas de telefonemas depois. As pessoas têm me dito que sou um despertador de consciências."
Iroko disse que Aligbonon, com sua fala tranquila, tem mais seguidores do que qualquer outro sacerdote do vodu.
Ele é capaz de se expressar facilmente em francês, o que, segundo Iroko, lhe ajuda a transitar entre os dois mundos -o dos praticantes tradicionais e o dos acadêmicos.
Aligbonon também pertence à classe da alta aristocracia do Benin. É descendente direto da princesa Aligbonon, que viveu no século 13.
Segundo a lenda, casou-se com uma pantera para fundar um clã histórico que está na origem de um dos grandes reinos africanos, o de Dannhomè -que mais tarde virou a colônia francesa de Daomé, como o país foi chamado até que teve seu nome mudado para Benin em 1975, pela ditadura militar.
"No Benin, não existe rei que esteja acima de mim", disse Aligbonon, calmamente. "Até padres da Itália vêm me ver."


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