São Paulo, segunda-feira, 04 de outubro de 2010

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A manufatura ao alcance do mouse

Por ASHLEE VANCE
SAN FRANCISCO - As empresas no bairro South Park, em San Francisco, em geral vendem tecnologia para a web, ou então sanduíches e "burritos". A Bespoke Innovations pretende vender membros humanos sob encomenda.
A empresa está usando os avanços da chamada impressão 3D para criar coberturas para próteses usando couro bordado, metal reluzente ou o que o cliente desejar.
Scott Summit, um dos fundadores, e o seu sócio, cirurgião ortopédico, estão preparando a inauguração de um estúdio onde venderão as "peles" para as próteses e experimentarão a impressão de membros inteiros, que custarão um décimo de próteses comparáveis feitas com métodos tradicionais.
"Eu quis criar uma perna que tivesse um nível de humanidade", disse Summit. "É lamentável que as pessoas venham tendo um produto que é uma parte tão importante das suas vidas e que seja tão desprezado em termos de design."
Uma impressora 3D, que nada tem a ver com as impressoras de papel, cria um objeto amontoando uma camada de material -em geral plástico ou metal- sobre outra. A tecnologia já foi radicalmente transformada desde as suas origens, quando era uma ferramenta para indústrias e designers prepararem protótipos.
Hoje em dia seu uso está explodindo, dando origem a uma série de negócios antes impossíveis. Uma nova empresa da Califórnia está tentando até mesmo construir casas. Sua impressora, que caberia num caminhão tipo carreta, usaria padrões transmitidos por computador, espremeria camadas de um concreto especial e construiria paredes inteiras que poderiam ser conectadas para formar a base de um imóvel.
É a produção industrial ao alcance do mouse, em vez de martelos, pregos e, bem, trabalhadores.
Partidários da tecnologia dizem que, ao prescindir do trabalho manual, a impressão 3D poderá revolucionar a economia manufatureira e reavivar a indústria americana, já que a criatividade e o engenho substituirão os custos trabalhistas como a maior preocupação relacionada a diversos produtos. "Não há nada a ganhar em ir para o exterior, exceto maiores tarifas de frete", disse Summit.
Inúmeros softwares de design, desde aplicativos gratuitos até programas mais sofisticados de empresas como Alibre e Autodesk, permitem que uma pessoa conceba um produto em casa e envie o projeto para uma empresa como a Shapeways, que o imprime e manda entregar.
"Estamos permitindo que uma classe de pessoas comuns pegue suas ideias e as transforme em produtos físicos, reais", disse J. Paul Grayson, executivo-chefe da Alibre. Grayson disse que seus clientes já desenharam peças para carros antigos, ioiôs e até componentes para máquinas de análise de DNA.
Dependendo da sua finalidade, uma típica impressora 3D custa de US$ 10 mil a mais de US$ 100 mil. A Stratasys e a 3D Systems estão entre as líderes do setor. E a MakerBot Industries vende um kit para amadores por menos de US$ 1.000.
Levar a tecnologia para além da indústria implica desafios. Produtos customizados podem ser mais caros que os massificados, e demoram mais para serem feitos. Mesmo assim, o avanço e o barateamento das impressoras 3D e dos materiais usados nos produtos motivam toda uma safra de novas empresas.
A Freedom of Creation, de Amsterdã, projeta e imprime móveis exóticos e outros itens para hotéis e restaurantes. Ela também produz porta-iPhones para a Apple e frascos de cremes para os olhos da L'Oreal, além de bijuterias e bolsas para vender no seu site.
"A meta sempre foi levar isso aos consumidores, em vez de manter como um segredo na Nasa e nas grandes indústrias", disse Janne Kyttanen, 36, que fundou a Freedom of Creation há cerca de dez anos. "Todo mundo achou que eu era um lunático quando começamos."
Sua empresa pode assumir riscos com os projetos, já que só precisa imprimir um objeto quando ele for encomendado, disse Kyttanen.
A LGM, com sede em Minturn (Colorado), usa uma impressora 3D para construir maquetes para escritórios de arquitetura.
"Costumávamos levar dois meses para construir maquetes de US$ 100 mil", disse Charles Overy, fundador da LGM. "Bom, esse tipo de trabalho acabou, porque os incorporadores não estão mais colocando esse tipo de dinheiro."
Agora, contou Overy, produz maquetes por US$ 2.000, usando o projeto do arquiteto, além de software desenvolvido internamente para uso com impressora 3D. Ele pode entregar uma maquete de um dia para outro.
No futuro, a empresa pretende desenhar e imprimir maçanetas e outros acessórios para edifícios, criando itens únicos. "Estamos passando do artesanato manual para o artesanato digital", disse.


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