São Paulo, segunda-feira, 05 de janeiro de 2009

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Na recessão, consumo de luxo vira 'clandestino'

Por RUTH LA FERLA

Para satisfazer seu desejo urgente por luvas de cetim ou sandálias de pele de cobra, um ano atrás, Maggie Buckley poderia ter dado uma saída rápida a uma loja de departamentos de luxo, como Bergdorf Goodman. Mas hoje, em tempos de recessão, ela tende a evitar essas saídas públicas às compras.
“Neste momento, fazer compras é algo um pouco vulgar, quase embaraçoso”, disse Buckley, editora da revista “Allure”. Sem querer ser vista com sacolas enormes no porta-malas de um táxi, ela passou a fazer suas compras em reuniões discretas promovidas nas casas de suas amigas.
Buckley é uma das que está dando as costas ao consumo visível, mas que nem por isso deixou de procurar tesouros. A diferença é que agora o faz em eventos de compras limitados a convidados e realizados em quartos de hotéis, showrooms particulares ou nas salas de estar elegantes de seus pares. “As pessoas não querem mais comprar artigos de luxo tão publicamente”, disse Robert Burke, consultor de varejo de luxo em Nova York. “É uma maneira de comprar que faz a pessoa sentir-se bem, e este é um momento para produtos que geram bem-estar.”
Compras às escondidas são feitas há muito tempo por pessoas ricas, que podem pagar cifras de seis algarismos por um broche de diamantes e safiras ou um xale de visom —sem falar no privilégio da exclusividade. No clima econômico atual, porém, o consumo às escondidas ganhou novo apelo e acontece em reuniões reservadas.
“Somos como um segredinho que as pessoas querem compartilhar, mas não com qualquer um”, disse Eve Goldberg, proprietária da revendedora de diamantes William Goldberg, de Manhattan. Recentemente sua empresa abriu um salão onde recebe clientes que preferem comprar com discrição.
Os revendedores particulares, muitos deles diletantes que recebem seus produtos de estilistas ou designers amigos, em feiras especializadas e de revendedores e artesões em lugares exóticos, são o flagelo dos varejistas de alto padrão, prejudicados pela recessão. Mas as festas de compras reservadas oferecem aos ricos uma oportunidade de consumir sem que um censor interno os repreenda por suas atitudes perdulárias.
“Gastar abertamente nesta economia é algo que carrega um certo estigma”, disse Eric Spangenberg, psicólogo do consumo e reitor da escola de administração da Universidade Washington State. “As pessoas não querem aparentar indiferença aos problemas da economia. Mas tampouco querem parar de comprar.”
A oportunidade de praticar algum altruísmo pode ter aliviado as consciências dos 250 convidados à festa International Fashion, evento aberto apenas a convidados promovido recentemente no Clift Hotel, em San Francisco, em benefício da Rebekah Children’s Services, que ajuda crianças com problemas emocionais e comportamentais. Brincos de diamantes e colares de filigrana foram oferecidos ao lado de uma estante de casacos de pele fornecidos pela Saks Quinta Avenida. Os preços variam entre US$ 100 e US$ 10 mil —ou seja, excetuando as peles, cerca de 10% acima do custo ao atacado. ”
Outros consumidores secretos fazem suas operações na internet. “Parece inesperado, mas o fato é que os produtos mais caros estão tendo grande saída”, revelou Ricky Serbin, da Ricky’s Exceptional Treasures, loja de revendas de luxo na eBay. Serbin disse que em uma semana em novembro vendeu três vestidos Oscar de la Renta por cerca de US$ 3.000 cada.
O que mudou? “Acho que as pessoas gostam do anonimato da web”, disse Serbin.

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