São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2010

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Novo Aquino tenta ocupar lugar do pai

Por NORIMITSU ONISHI
QUEZON CITY, Filipinas - Filho único do casal, ele nunca demonstrara a ambição política acirrada de seu pai, nem seu sentimento de ocupar um lugar predestinado na história filipina. Mais como sua mãe, ele ocupara o papel público de perfil baixo esperado dele, até que as circunstâncias o obrigaram a agir.
Apesar de ser o filho único de dois ícones da democracia filipina, Benigno S. Aquino 3? teve uma carreira tranquila e pouco notável como parlamentar, ficando à sombra dos inúmeros políticos de sua geração. Ele próprio admite que nunca se imaginou liderando o país. Mas, agora, se vê como candidato favorito na eleição presidencial de 10 de maio.
A reação emotiva do país à morte de sua mãe, a ex-presidente Corazón Aquino, em agosto passado, levou a chamados por sua candidatura. Após alguma indecisão pública, Aquino, conhecido como Nonoy, aceitou ser candidato -mas não antes de passar meio dia dentro de um convento, procurando orientação espiritual. "Havia vozes demais dizendo 'seja candidato', 'não seja', me dizendo como ser candidato e por qual partido", contou. "Aquilo [a orientação] teve um efeito tranquilizador sobre mim. Ajudou-me a ordenar meus pensamentos."
Um quarto de século antes, também sua mãe fez uma visita a um convento antes de concordar em candidatar-se contra Ferdinando Marcos, o autocrata apoiado pelos EUA cujos soldados tinham abatido a tiros seu marido, o líder oposicionista Benigno S. Aquino Jr. (conhecido como Ninoy), no aeroporto de Manila. Quando Marcos tentou fraudar a eleição, Corazón Aquino foi levada à Presidência graças ao "poder do povo", um protesto não violento de grande escala na capital.
Indagado se tem dúvidas quanto a ser candidato, Aquino, que é solteiro, respondeu: "Meus amigos que se casaram me disseram que tinham resolvido inúmeras dúvidas antes de chegar ao altar. Mas, quando estavam diante do próprio altar, ainda havia dúvidas passando por suas cabeças".
Contudo, faltando menos de dois meses para o dia da eleição, a emoção popular suscitada pela morte de sua mãe perdeu parte de sua intensidade, e, possivelmente em decorrência disso, a vantagem de Aquino nas sondagens está começando a diminuir. As críticas segundo as quais ele tem pouco a oferecer além de sua ascendência foram aguçadas pelo fato de seu rival mais próximo, o senador Manuel Villar, ter ascendido da pobreza para virar um dos empresários mais ricos das Filipinas.
Em uma manhã recente, numa sala de estar dominada por retratos de seus pais, Aquino falou em canalizar o movimento de poder do povo de sua mãe para alcançar a vitória. Ele prometeu romper com a cultura política corrupta das Filipinas, tentando capitalizar sobre o sentimento amplo de desilusão com a impopular presidente Gloria Macapagal Arroyo, que está impedida de candidatar-se novamente devido aos limites impostos aos mandatos.
"Acreditamos que, se é a campanha do povo, nossos patrões estão muito claramente definidos", disse Aquino em voz rouca devido aos discursos de campanha e ao fumo. Mas sua dependência do legado de seus pais e seu histórico modesto no Legislativo vêm atraindo críticas crescentes.
Críticos dizem que, a exemplo de sua mãe, Aquino não conseguirá implementar políticas, como a reforma agrária, que contrariam os interesses de sua família extensa. "Ele não poderá depender para sempre de seu sobrenome", disse Bobby Tuazon, diretor do Centro de Empoderamento do Povo na Governança, da Universidade das Filipinas.


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