São Paulo, segunda-feira, 05 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Empreendedor privado impulsiona uma nova corrida espacial


Estação espacial inflável surge no deserto de Nevada

Por KENNETH CHANG

NORTH LAS VEGAS, Nevada (EUA) - Na fábrica da Bigelow Aerospace, os modelos de estações espaciais em tamanho natural guardados no depósito parecem melancias brancas e inchadas. Os interiores dão uma ideia de como é levar uma vida cômoda no espaço.
"Todo astronauta que vem aqui diz 'uau'", contou Robert Bigelow, fundador da empresa.
A empresa planeja inaugurar, daqui a quatro anos, módulos reais para serem lançados e montados em órbita, de modo a se tornarem a primeira estação espacial privada. Clientes pagantes -a princípio, países sem dinheiro ou know-how para criar um programa espacial próprio- chegariam um ano depois.
Em 2016 viria uma segunda estação, ainda maior. As duas poderiam abrigar 36 pessoas por vez.
Se isso der certo -já há dois módulos de teste em órbita-, a Bigelow pagará 15 a 20 lançamentos de foguetes por ano a partir de 2017, gerando muitos negócios para as empresas privadas que o governo Obama gostaria de financiar para colocar astronautas em órbita.
As promessas otimistas do plano presidencial dependem dessa enigmática empresa de cem funcionários, localizada em 20 hectares de deserto, não muito longe dos cassinos e clubes de striptease, e da capacidade de Bigelow, um iconoclasta que fez fortuna com negócios imobiliários, de fazer seus sonhos decolarem.
Ele já gastou cerca de US$ 180 milhões do próprio dinheiro e se diz disposto a gastar até US$ 320 milhões mais.
Bigelow só ocasionalmente dá entrevistas, e seus funcionários quase nunca falam em público, com exceção de Michael Gold, chefe do escritório em Washington. A sede em Las Vegas é cercada com arame farpado e patrulhada por guardas armados.
Uma estadia de 30 dias na estação espacial da Bigelow, incluindo o transporte, está avaliada atualmente em pouco menos de US$ 25 milhões por pessoa. Isso é menos da metade dos mais de US$ 50 milhões por lugar que a Nasa paga apenas para levar um astronauta numa nave Soyuz à Estação Espacial Internacional.
Duplicar a permanência para 60 dias aumentaria o valor em apenas US$ 3,75 milhões.
"Você vê por que isso é atrativo para o mercado do cliente soberano", disse Gold.
A ideia de uma nave inflável remonta quase ao princípio da era espacial, pois resolveria um teimoso impasse no envio de cargas ao espaço. Os foguetes são altos, mas não particularmente largos.
Com uma estação inflável, a estrutura poderá ser empacotada no compartimento de carga e enchida de ar quando estiver em órbita. Os satélites Echo 1 e Echo 2, lançados em 1960 e 64, eram grandes balões de Mylar. A Nasa encomendou à Goodyear protótipos de uma estação espacial inflável, que parecia uma grande câmara pneumática.
As estações espaciais de borracha nunca voaram, em parte por causa de um óbvio ponto fraco no projeto: elas poderiam estourar se fossem atingidas por meteoroides.
A ideia continuou adormecida até a década de 1990, quando a Nasa começou a explorar como construir habitáculos para missões humanas a Marte. William Schneider, na época engenheiro-chefe do Centro Espacial Johnson, em Houston, retomou o design inflável.
Em vez de borracha, como no design da Goodyear na década de 1960, Schneider utilizou uma espécie de bexiga impermeável, cercada por tiras de Kevlar. "Ela joga sua pressão para as tiras", disse Schneider. "Esses dois [materiais] juntos compõem um design muito eficiente."
No entanto, em 2000, o Congresso dos EUA proibiu a Nasa de gastar mais dinheiro no módulo TransHab de Schneider.
Bigelow, 66, disse ter lido sobre o TransHab em 1998 e, sabendo do fim iminente do projeto, criou a Bigelow Aerospace em 1999 e adquiriu uma licença exclusiva para usar as patentes da Nasa.
Schneider virou consultor da Bigelow e disse que os projetos da empresa são muito parecidos com seu trabalho na Nasa, com algumas alterações como a substituição do Kevlar por Vectran, outro tecido resistente a impactos. Há também algumas melhorias notáveis, como a adição de escotilhas.
O maior furo nos seus planos, disse Bigelow, não está totalmente sob seu controle: como ir e vir das estações espaciais.
A Bigelow está colaborando com a Boeing, usando US$ 18 milhões que a Nasa forneceu para o projeto preliminar de uma cápsula tripulada comercial.
Quando a nave da Boeing estiver pronta, um módulo habitável chamado Sundancer, com um volume inflado de cerca de 1.950 metros cúbicos, será lançado. Outro foguete levará dois astronautas da Bigelow para montar residência no Sundancer, enquanto peças adicionais -um módulo maior, de cerca de 3.570 metros cúbicos, e uma conexão central -forem lançadas.
Suas estações espaciais não são o único interesse de Bigelow no espaço. "Sou um pesquisador e estudante dos óvnis há muitos e muitos anos", disse.


Texto Anterior: Empreendedor não tem chefe, mas acumula todos os problemas

Próximo Texto: Onde petroquímicos fomentam vida
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.