São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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Tendências mundiais

Chifres de marfim atraem ladrões

Por SARAH LYALL
IPSWICH, REINO UNIDO

O Museu de Ipswich contém muitas peças interessantes e potencialmente dignas de roubo, incluindo uma máscara mortuária egípcia folheada a ouro de 2 mil anos de idade, e um raro manto havaiano com plumas de um extinto pássaro.
Mas os dois ladrões que arrombaram o museu depois da meia-noite de 28 de julho buscavam algo totalmente diferente.
Não importa que seu alvo, um grande chifre de rinoceronte, ainda estivesse preso a seu dono, que está no museu desde 1907.
"Eles simplesmente o quebraram", disse Bryony Rudkin, membro do conselho municipal de Ipswich encarregada de cultura. Furtos semelhantes, que chegam a 30 apenas este ano, foram relatados em museus, galerias, lojas de antiguidades, casas de leilão e residências de toda a Europa.
Os criminosos tentam suprir a demanda crescente na China e em outros países asiáticos, onde se acredita que remédios feitos de chifre de rinoceronte seriam afrodisíacos e curariam doenças.
A Europol diz que os furtos seriam obra de um grupo criminoso organizado conhecido como viajantes irlandeses, que também está envolvido em tráfico de drogas e lavagem de dinheiro. Desde janeiro os ladrões de chifres atacaram um castelo tcheco, museus na Bélgica, Alemanha, França e Itália e outros alvos em Portugal e na Suécia.
"Fiquei muito surpreso, devo admitir", disse Ian Lawson, um detetive do Serviço de Polícia Metropolitana de Londres. "Levou um bocado de tempo para todos despertarem para o fato de que é um crime recorrente em toda a Europa e eles vão atacar qualquer lugar que tenha um chifre de rinoceronte."
Lawson disse que galerias e museus estão sendo instruídos a retirar imagens de rinocerontes de seus sites na web e a trancar os chifres ou, como fez o Museu de História Natural de Londres, substituí-los por peças falsas.
Enquanto os chifres são vendidos por mais de US$ 200 mil, o artigo moído em pó, segundo Lawson, valeria cerca de US$ 97.500 o quilo no mercado negro -mais que ouro, heroína ou cocaína.
Leis mais rígidas que regem a venda de chifres de rinoceronte usados, do tipo encontrado nos animais mortos por caçadores e empalhados há muito tempo, também tiveram influência.
Este ano o Reino Unido e outros países europeus endureceram seus regulamentos, tornando virtualmente impossível exportar a maioria dos chifres de rinoceronte da União Europeia, assim aumentando o valor dos roubados.
Essa repressão ameaçou as iniciativas de grupos conservacionistas para preservar os rinocerontes selvagens na África, pois os ladrões recorreram a caçadores ilegais para arrancar os chifres de animais vivos, muitas vezes deixando-os sangrar até a morte, disse Cathy Dean, diretora do grupo Save the Rhino, no Reino Unido.
Neste ano já houve 260 mortes de rinocerontes devido à caça ilegal, somente na África do Sul, comparadas com um total no ano passado de 333, ela acrescentou. O tema foi assuntos de reunião em Genebra da Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas.
Especialistas em rinocerontes se esforçam para refutar as alegações de que os chifres têm valor medicinal.
O doutor Raj Amin, pesquisador da Sociedade Zoológica de Londres, disse recentemente em entrevista na televisão americana que ingerir chifre de rinoceronte seria tão saudável quanto "comer as próprias unhas".
Os moradores de Ipswich estão sentindo muito a perda de seu chifre de rinoceronte. O animal, adquirido do Museu de História Natural em 1907 por 16 libras, e que documentos da época chamavam de "uma espécie rara de porco", era tido como mascote da cidade. Um livro de condolências foi colocado junto ao rinoceronte, chamado de Rosie.
Autoridades do museu disseram que discutiram se deixariam Rosie sem chifre, mas decidiram substituir a parte desaparecida por uma falsa.
"Colocaremos uma placa dizendo 'Isto é falso'", disse Rudkin. "Não é verdadeiro. Por isso não venham roubá-lo."


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