São Paulo, segunda-feira, 05 de setembro de 2011

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Paquistão silencia separatistas balúchis

Por CARLOTTA GALL

GENEBRA - Com seu físico esguio metido num terno escuro, Brahumdagh Bugti, 30, poderia passar por um executivo de banco nas ruas desta cidade suíça. Mas na verdade ele é um líder exilado da resistência, envolvido num conflito separatista cada vez mais violento dentro do Paquistão.
Bugti está foragido desde 2006, quando escapou de uma operação militar que matou seu avô e dezenas de membros da sua tribo na província do Baluchistão, no sudoeste paquistanês.
Desde então, os esforços do governo para sufocar a rebelião da minoria étnica balúchi se intensificaram, segundo organizações de direitos humanos e políticos paquistaneses.
A insurgência balúchi, que ocorre de forma intermitente há décadas, é frequentemente chamada de "Guerra Suja do Paquistão", por causa do crescente número de pessoas mortas ou desaparecidas em ambos os lados. Mas o conflito recebe pouca atenção internacional, em parte porque a maioria dos olhos se volta para a luta contra o Taleban e a Al Qaeda nas áreas tribais do noroeste paquistanês.
Os nacionalistas balúchis nunca aceitaram fazer parte do Paquistão, e já se rebelaram cinco vezes desde a formação do país. Suas exigências variam de maior controle sobre o gás e os recursos naturais até a independência total.
Quando o Exército bombardeou a casa da sua família em Dera Bugti, em dezembro de 2005, Bugti se refugiou nas montanhas com seu avô, Nawab Akbar Khan Bugti, ex-líder da tribo Bugti. Em agosto de 2006, os militares os apanharam. "Eu escapei, mas ele não conseguiu", disse Bugti.
O único lugar para ir era o Afeganistão, que, no entanto, não era um porto seguro. Bugti relatou que ele e sua família se tornaram alvos de repetidos ataques cometidos pelo Taleban e a Al Qaeda, mas que acreditam ter sido ordenados por militares paquistaneses.
O governo do Paquistão não faz segredo sobre sua intenção de matar ou capturar Bugti. Membros da Otan pediram ao Afeganistão que transferisse Bugti para outro lugar, segundo diplomatas ocidentais e funcionários afegãos. Então, em outubro de 2010, ele e sua família mudaram-se para a Suíça.
Embora Bugti diga apoiar apenas o ativismo político pacifico, ele é partidário do separatismo balúchi. Logo depois da morte do avô, o rapaz fundou um partido que recebeu amplo apoio da classe média e dos movimentos estudantis balúchis. A reação do governo não demorou. Oito membros de seu partido no Baluchistão foram mortos, cinco integrantes do comitê central estão desaparecidos, e os principais líderes tiveram de se exilar.
Isso é parte da repressão governamental contra líderes estudantis e políticos nacionalistas na província, que vem se tornando cada vez mais letal nos últimos 18 meses, segundo políticos e entidades de direitos humanos. A Anistia Internacional descreve uma tática de "assassinar e desovar", pela qual a cada mês cerca de 20 ativistas, professores, jornalistas, advogados e até mesmo adolescentes vêm sendo detidos e têm seus corpos, crivados de balas, abandonados em estradas.
A ONG Human Rights Watch diz que centenas de pessoas desapareceram desde 2005 no Baluchistão, e que foram documentados 45 casos de torturas e desaparecimentos na província em 2009 e 2010, tendo as forças de segurança como responsáveis.
Bugti já pediu aos EUA que suspendam sua ajuda ao Exército paquistanês, que, segundo ele, estaria desviando para a repressão aos balúchis recursos que deveriam ser usados no combate ao terrorismo. "Se os EUA interrompessem a assistência militar e financeira, [os militares] não poderiam manter suas operações por muito tempo", afirmou.
O aumento da violência levou os balúchis a irem além das suas reivindicações originais por maior autonomia, desencadeando um movimento separatista armado.
"As pessoas estão indignadas e irão para o lado daqueles que usam a violência", disse Bugti.
"Se você acaba com todas as formas pacíficas de debate e sequestra ativistas políticos, e os tortura até a morte e atira seus corpos na beira das estradas, então definitivamente eles irão se juntar aos grupos de resistência armada."


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