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São Paulo, segunda-feira, 05 de outubro de 2009

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Ensaio

Alina Tugend


A diferença entre criticar e dar um "feedback"

Aprender a fazer e receber críticas é complicado. Se interpretarmos como ataque qualquer comentário que não seja positivo, descartaremos qualquer coisa útil que o crítico possa ter a nos dizer. Mas levar toda crítica a sério tampouco é benéfico.
"A maioria das pessoas diz que o 'feedback' é importante, mas que a mensagem oculta é 'enquanto ele for positivo'", disse Robert Brooks, professor de psicologia em Harvard.
Embora possa parecer mais fácil fazer críticas que ouvi-las, nem sempre é esse o caso, pelo menos se você quiser que suas críticas ajudem. O psicólogo clínico Leon F. Seltzer identifica diferenças entre crítica e "feedback". Em seu blog, ele observa que:
A crítica é acusatória e faz julgamentos. Ela pode envolver rotular, pregar sermões, dar aulas de moral e até ridicularizar. O "feedback" se concentra em oferecer informações concretas para motivar a pessoa que as recebe a rever seus comportamentos.
A crítica envolve fazer pressuposições negativas sobre as motivações da outra pessoa. O "feedback" não reage à intenção, mas ao resultado real do comportamento dela.
A crítica, se malfeita, frequentemente inclui ordens e ultimatos, fazendo com que a pessoa que a ouve fique na defensiva, o que solapa eventuais benefícios. Já o "feedback" não analisa tanto como a pessoa deve mudar, mas procura debater os benefícios da mudança.
Esse último ponto é um sobre o qual Darren Gurney, professor do ensino médio em New Rochelle (Nova York), já refletiu muito. Além de dar aula, Gurney é treinador de equipes de beisebol de colégios e faculdades. Ele descobriu que uma das maneiras mais eficazes de criticar um jogador não é lhe dizer o que ele fez de errado, mas pedir que analise o que pensa que poderia ter feito melhor.
"A habilidade de ouvir é pouco valorizada", disse Gurney. Quando está treinando atletas, ele pede que os jogadores identifiquem três coisas que deram errado naquele dia e apontem como melhorá-las. "O processo transcende os campos do esporte. Vira aquisição de habilidades para a vida."
E, embora isso possa parecer óbvio, disse Brooks, as pessoas aceitam críticas melhor se seu chefe (ou cônjuge, ou pai) não economizar no "feedback" positivo.
Shinobu Kitayama, professor de psicologia na Universidade do Michigan, identificou diferenças claras, por exemplo, nas reações a críticas manifestadas nas culturas americana e japonesa.
"Parece que, na cultura americana contemporânea, é muito difícil aceitar qualquer crítica", disse. "As críticas são vistas como ameaça ou ataque à autoestima. Na cultura japonesa a autoestima é importante, mas mais importante ainda é o autoaperfeiçoamento."
Em um grande estudo sobre atletas olímpicos japoneses e americanos, coescrito por Kitayama, os atletas e comentaristas japoneses demonstraram duas vezes mais probabilidade que os americanos de criticar sua performance ou fazer comentários negativos sobre ela.
"Os americanos fazem quatro comentários positivos para cada negativo; os japoneses tendem a um equilíbrio", disse Hazel R. Markus, coautora do estudo. Isso indica, segundo ela, que o "feedback" sobre fracassos é motivador para japoneses, enquanto o "feedback" sobre êxitos é motivador para americanos.
Especialistas dizem que, ao receber críticas, o importante é ouvir. Não fique na defensiva, mas não parta da premissa de que o crítico tem razão. Procure determinar qual informação é valiosa e relevante e qual não é. Embora seu instinto possa ser de contestar a crítica ou pedir desculpas, calmamente faça perguntas para lançar luz sobre a situação.

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