São Paulo, segunda-feira, 06 de abril de 2009

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Palavrinhas de uma estrela (ou de seu assessor)

Por NOAM COHEN

O rapper 50 Cent está entre as muitas celebridades que recentemente aderiram ao Twitter para comunicar-se com fãs que querem ter acesso quase contínuo às suas vidas. Em 1° de março, ele compartilhou com mais de 200 “followers”, ou pessoas que acompanham seus posts: “Minha ambição me conduz por um túnel que nunca termina”.
As palavras são de 50 Cent, mas não foi exatamente ele quem "twittou" (postou comentário no Twitter). Na verdade foi Chris Romero, diretor do império do rapper na web, quem escreveu as palavras depois de lê-las numa entrevista. “Ele não usa realmente o Twitter”, Romero disse sobre 50 Cent, “mas a energia é toda dele”.
Em sua curta história, o Twitter —um tipo de microblog que só permite textos com no máximo 140 caracteres— se tornou uma ferramenta de marketing importante para celebridades, políticos e empresas.
Mas alguém tem que ter o trabalho de escrever, ainda que cada post mal chegue ao tamanho de uma frase. Em muitos casos, as celebridades e seus assessores recorrem a escritores de fora —ghost twittadores, pode-se dizer— que mantêm os fãs atualizados, em muitos casos fazendo-se passar pelas próprias celebridades. Mas como o Twitter serve de ligação íntima entre celebridades e fãs, muitos famosos evitam divulgar essa ajuda.
Britney Spears publicou, recentemente, um anúncio pedindo assessores para ajudá-la, entre outras coisas, a criar conteúdo para o Twitter e para o Facebook. O rapper Kanye West contou à revista “New York” que contratou duas pessoas para atualizar seu blog.
E não só celebridades montam um time para produzir comentários em tempo real sobre suas atividades diárias. Tanto quando era candidato quanto agora, como presidente, Barack Obama tem uma equipe responsável por relacionamentos sociais e que mantém seu Twitter atualizado.
Claro que famosos sempre recorreram a ghostwriters para redigir autobiografias e outras formas de autoengrandecimento. Mas a ideia de um terceiro escrever atualizações contínuas sobre a vida diária de alguém pode parecer um pouco absurda.
O jogador de basquete Shaquille O’Neal, por exemplo, é um twittador prolífico em sua página, "The Real Shaq" (“o verdadeiro Shaq”), onde compartilha notícias pessoais, piadas e comentários sobre adversários com quase 430 mil “followers”. “Quando digo alguma coisa, ela vem de mim mesmo”, ele disse. Quanto a contratar outros para escrever suas palavras, explicou: “São 140 caracteres —pouquíssimos. Se você precisa de um ghostwriter para isso, sinto pena de você”.
Nos últimos dois meses, o Twitter de Britney Spears mudou. Se antes parecia que todas as mensagens eram escritas pessoalmente pela cantora, ultimamente ele pode ser considerado um blog grupal, com alguns posts assinados por “Britney”, outros por “Adam Leber, assessor” e outros por “Lauren”. Esta seria Lauren Kozak, diretora de mídia do site britneyspears.com.
Muitos comentaristas on-line ficam horrorizados com a prática de recrutar ghost twittadores, mas Joseph Nejman, ex-assessor de Spears, disse que isso é hipocrisia. “Considera-se que 'twittar' para uma marca [empresarial] não tem problema, mas para uma celebridade, sim. Mas a verdade é que as celebridades também são marcas”.


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