São Paulo, segunda-feira, 06 de junho de 2011

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Ferrari opta por porta-malas

Uma empresa, para seu executivo-chefe, que 'vende sonhos'

Por LIZ ALDERMAN

MARANELLO, Itália - Os aficionados dizem que dirigir uma Ferrari é como "fazer sexo sobre rodas". Então, segure-se: a Ferrari está desenvolvendo porta-malas para seus carros. Luca Cordero di Montezemolo, o executivo-chefe da companhia, diz que o carro, conhecido como FF, é para o homem que deseja uma Ferrari, mas tem de carregar a cadeirinha do bebê.
Com um motor de 660 cavalos, seu preço inicial é de 260 mil euros ou US$ 370 mil.
"A Ferrari costumava ser um carro que você mantinha na garagem, retirava para polir e mostrar aos outros, e colocava novamente na garagem", disse, recentemente, Montezemolo, 63, no escritório da Ferrari na cidade de Maranello no norte do país. "Hoje em dia", ele disse, "as pessoas querem fazer mais com um carro".
O porta-malas é parte da estatégia de sobrevivência de Montezemolo para uma companhia cujo nome é sinônimo de poder, de vaidade e da própria Itália por mais de 60 anos. A ideia veio quando Sergio Marchionne, o executivo-chefe da Fiat, proprietário de 85% da Ferrari, pediu que a Ferrari e a Maserati passassem a ter como objetivo incrementar os lucros oferecendo um cardápio maior de carros.
Marchionne sugeriu até mesmo a realização de oferta pública inicial de ações, abrindo o capital da empresa, o que resultaria em muito dinheiro.
Mas a Ferrari é muito mais do que carros e lucro: sua venda se dá por causa do prestígio, do status e do chamado "sex appeal", com um preço que começa por volta dos 180 mil euros.
O segredo da Ferrari é o som do seu motor. Montezemolo se encontra com funcionários do alto escalão em uma fábrica secreta três anos antes do lançamento de qualquer modelo. Tudo para garantir a qualidade dos seus carros e checar se o barulho do motor é realmente aquele apaixonante.
O porta-malas da FF será utilizado em menos de 10% da produção total, mas, para alguns viciados na marca, a novidade é o exemplo de que a Ferrari está brincando com sua imagem.
Montezemolo prefere cultivar a exclusividade da Ferrari limitando sua produção e forçando, assim, uma longa lista de espera. Para fazer isso, a Ferrari vende apenas quatro modelos, incluindo o FF, e produz por volta de 6.500 carros por ano.
Montezemolo diz que sempre vai produzir menos do que a demanda. "Se eu fizer mais, eu destruiria a marca". Ele completa: "Nós não vendemos carros; nós vendemos sonhos". Todos os 800 FF agendados para produção em 2011 já foram vendidos.
Montezemolo cresceu junto com a Fiat, tornando-se executivo-chefe da empresa em 2004. Ele foi responsável por colocar a Ferrari na liderança também na corrida. O time de Fórmula 1 alimenta a imagem de mito da Ferrari ao elevar a marca com vitórias nas pistas e ações de merchandising, o que inclui o "Mundo Ferrari", um parque temático em Abu Dhabi. Por volta de 20% do lucro operacional da Ferrari vem de produtos vendidos com seu símbolo.
No ano passado, o lucro operacional avançou 23%, chegando a 302 milhões de euros, e as vendas cresceram 8%, para 1,9 bilhão de euro. No primeiro trimestre, as vendas foram de 491 milhões de euros, alta de 18% em relação ao mesmo período do ano passado.
Mas alguns analistas reclamam que o quadro financeiro da companhia não é transparente como deveria ser. Outra preocupação é se a Ferrari conseguirá seguir as regulações de emissão americanas e europeias, disse Eric Hauser, analista do Credit Suisse. Ele estima o valor da Ferrari em torno de 3 bilhões de euros. Montezemolo argumenta que a Ferrari vale 6 bilhões de euros, podendo chegar aos 7 bilhões de euros.
Críticos duvidam que a Ferrari possa valer tanto quanto Montezemolo acredita enquanto ele permanecer no comando da companhia. Alguns analistas dizem que Montezemolo não tem a perspicácia nos negócios necessária para fazer com que a Ferrari embarque em grandes resultados financeiros.
Seja como for, o fato de comandar a Ferrari faz com que ele seja considerado um herói na Itália. Ele costuma liderar pesquisas sobre quem os italianos gostariam de ver enfrentando o polêmico Silvio Berlusconi.
"Hoje, a maior indústria italiana é a política", Montezemolo diz. "Isso significa menos livre mercado e mais corrupção". Será que ele mesmo concorrerá a um cargo público? Montezemolo, que acabou de se reeleger para mais um mandato de três anos no comando da Ferrari, disse que não desconsidera essa possibilidade. Mas, ultimamente, ele disse, "estou casado com a Ferrari".


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