São Paulo, segunda-feira, 06 de setembro de 2010

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Retorno artístico em caixa alta

Ressurgimento global de slogans culturais em letras gigantes

Por DOROTHY SPEARS
EAST HAMPTON, Nova York - Percorrendo a exposição de Barbara Kruger no museu Guild Hall, em East Hampton, é difícil não enxergar uma crítica a seu público provável de veranistas ricos. Intitulada "Plenty" (Fartura), a exposição é centrada numa galeria envolta do piso ao teto em letras que formam a frase "Dinheiro gera dinheiro, e as piadas de um homem rico são sempre engraçadas". No teto, quatro linhas de tipos apertados transmitem ao espectador: "Você quer/Você precisa/Você compra/Você esquece".
Mas Kruger observou que "o desejo que está por trás do querer e do comprar não se limita à elite poderosa" e que estamos cada vez mais sob o domínio da cultura do consumo.
O olhar cada vez mais global de Kruger pode guardar alguma relação com o ressurgimento do interesse por seu trabalho.
Ela recebeu do Museu Whitney de Arte Americana, em Nova York, a encomenda de instalar um trabalho de arte monumental, que será inaugurado em 10 de setembro, no local onde o museu pretende erguer sua nova filial, no Meatpacking District de Manhattan. Os textos e as imagens de Kruger enfeitaram a fachada da Galeria de Arte de Ontario, em Toronto, neste verão canadense, e o Museu temporário Stedelijk, em Amsterdã, abriu em 28 de agosto com uma instalação dela exposta com destaque. Desde 3 de setembro, a Galeria Sprüth Magers, em Berlim, fará uma exposição de seus trabalhos em vídeo.
Boa parte do trabalho recente de Kruger é semelhante ao que a tornou famosa 30 anos atrás, erguido em torno de textos aforísticos ao mesmo tempo irônicos e distantes. Mas as ideias por trás deles mudaram, acompanhando uma cultura que Barbara Kruger, hoje com 65 anos, monitora como faria uma antropóloga. No projeto do Whitney, seus slogans farão alusão à transformação das paisagens urbanas.
Em toda Manhattan e em cidades em todo o mundo, "temos assistido ao êxodo da classe trabalhadora e dos artistas", disse. Kruger insistiu que não é saudosista. "É apenas uma observação." Na visão dela, as palavras que vão saudar as pessoas que verão o trabalho no Whitney -desde frases simples mas pontuais ("Você pertence a este lugar") até referências à história da área ("Do sangue à carne, ao couro, à carne, à seda")- não são tanto de condenação, mas de reflexão.
É uma abordagem mais nuançada, pode-se dizer, do que a que a artista usou em trabalhos dos anos 1980 que fizeram seu nome, como "Compro, Logo Sou", ou um poster de divulgação de uma manifestação em Washington em favor dos direitos reprodutivos das mulheres, com a frase "Seu corpo é um campo de batalha". Naquela época, as palavras dela pareciam estar em toda parte.
Então o mundo das artes seguiu adiante. O interesse renovado por Kruger parece a ela ser "arbitrário, em certo nível". O mundo das artes, acrescentou, "tem todo o tititi e as fofocas da bolsa de valores".
Nascida em Newark, Nova Jersey, em 1945, Kruger estudou com a fotógrafa Diane Airbus antes de trabalhar como diagramadora de páginas da "Mademoiselle". Sem condições financeiras para fazer prints coloridos, ela convertia em preto e branco imagens que tirava de revistas.
Hoje suas instalações geralmente são transmitidas para gráficas e fabricantes por meio de arquivos digitais. Mas a mudança mais dramática em seu trabalho tem sido no front cultural. "Não precisamos mais de espelhos", observou. "Nós nos olhamos no YouTube. Nos olhamos no Twitter. É 'é isto que estou fazendo agora'. Eu olho para isso e crio trabalhos sobre."


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