São Paulo, segunda-feira, 06 de dezembro de 2010

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Japão trabalha para cortar laços entre máfia e empresas

Sindicatos do crime são a "Goldman Sachs com armas"

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - Quando a mais alta torre de comunicações do mundo for inaugurada em Tóquio, no próximo ano, os gângsteres japoneses não comemorarão. A yakuza, como é conhecida a organização do submundo do crime, foi afastada da construção da torre de 634 m, segundo a incorporadora.
A proibição faz parte de um esforço nacional do governo e da comunidade empresarial do país para cortar os profundos laços existentes entre o crime organizado e o setor corporativo.
Como parte da repressão nacional, Kiyoshi Takayama, 63, importante chefe criminoso do maior sindicato do crime japonês, o Yamaguchi-gumi, foi detido sob a acusação de extorquir 40 milhões de ienes (US$ 480 mil) de uma construtora na cidade de Kioto, segundo autoridades.
"O crime organizado ameaça a economia japonesa", disse Kohei Kishi, diretor da divisão de crime organizado da Agência de Polícia Nacional do Japão. "Eles têm raízes profundas na construção."
O Ministério das Finanças instruiu os bancos para que aumentem as salvaguardas para impedir a lavagem de dinheiro, cortar empréstimos para empresas ligadas à máfia e negar contas bancárias para indivíduos com ligações conhecidas com gângsteres.
O grande alvo é a indústria da construção, que movimenta US$ 362 bilhões. Na década de 1990, no auge do envolvimento da yakuza com a construção, a polícia estima que gangues levaram de 2% a 3% dos gastos na construção.
Muitos especialistas dizem que a repressão chega muito atrasada. Os sindicatos do crime hoje operam com tal sofisticação que Jake Adelstein, conhecido por escrever sobre o crime organizado japonês, chama a yakuza de "Goldman Sachs com armas".
No Japão, cerca de 83 mil gângsteres operam em 22 sindicatos criminosos, segundo a polícia, o que contribui para uma economia controlada pela máfia no valor de US$ 242 bilhões ao ano.
Os chefes da yakuza pressionam as empreiteiras para pagar "proteção" para cobrir projetos de obras ou usam companhias de fachada para obter contratos lucrativos, diz a polícia.
Às vezes são as empreiteiras que procuram a yakuza -para ameaçar proprietários que relutam em vender seus terrenos. Em 2008, o presidente de uma companhia imobiliária, a Suruga, renunciou depois que a polícia prendeu membros de uma empresa de fachada que a Suruga tinha contratado para expulsar ocupantes de um edifício em Tóquio.
A iniciativa anti-yakuza do setor, que começou em 2008, deixou o antigo enfoque de perseguir os bandos. Hoje, a ênfase é para impor penalidades mais duras às empresas que façam negócios com a máfia.
Em abril, a Federação de Empreiteiras da Construção, um grupo setorial nacional, aconselhou seus membros a adotar uma cláusula em todos os contratos que removeria todas as obrigações se for descoberto que a empreiteira tem ligações com a yakuza.
A nova torre Tokyo Sky Tree tornou-se um símbolo proeminente da repressão legal. No final de 2008, as empresas que trabalhavam na obra uniram-se com firmas locais para fundar um comitê anti-yakuza. É um dos mais de cem comitês que foram formados no país nos últimos anos.
Toru Hironaka, o advogado da torre, diz que os movimentos de entrada e saída do canteiro de obras são monitorados de perto por seguranças e circuito fechado de vídeo. Os contratos são analisados para garantir que nenhum equipamento ou material venha de empresas ligadas à máfia.
Os governos locais, cujos projetos constituem o grosso dos gastos em construção no Japão, também aderiram à campanha para expulsar a yakuza do setor. Em dezembro, Tóquio deverá eliminar qualquer empresa ou indivíduo afiliado à yakuza dos contratos da prefeitura.
Morio Umeda, que dirige um centro de aconselhamento público anti-yakuza em Tóquio e organiza seminários para empresas sobre como lidar com a máfia, diz que as consultas estão aumentando conforme mais companhias tentam cortar os laços com o submundo.
Mas a máfia ameaça revidar. Em outubro, um tiro foi disparado no muro de uma obra da Takenaka Corporation, uma das maiores empreiteiras. Foi o quarto disparo contra obras em Tóquio este ano. Ninguém ficou ferido, mas os tiros repercutiram em um país onde é quase impossível uma pessoa conseguir armas, exceto os bandidos.
Os que estão mais próximos da yakuza chamam os ataques de sinal de desespero. "É a era do gelo para o crime organizado", disse Yukio Yamanouchi, um ex-assessor jurídico da Yamaguchi-gumi. "Eles procuraram novos lucros na economia dominante, mas isso provocou uma reação firme", disse Yamanouchi.


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