São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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Políticas búlgaras crescem com apoio de líder durão

Por DAN BILEFSKY

SÓFIA, Bulgária - O premiê búlgaro Boiko Borisov, um ex-instrutor de caratê, guarda-costas e antes disso bombeiro, pode parecer um feminista improvável. Mas o político machão promoveu uma legião de mulheres nos últimos meses, anunciando o que alguns consideram uma revolução na política desse país machista dos Bálcãs.
"As mulheres são mais diligentes que os homens e não demoram no almoço ou vão ao bar", insistiu Borisov, ex-prefeito da capital Sófia que citou sua mãe e a chanceler (premiê) alemã, Angela Merkel, como seus modelos.
"As mulheres têm personalidades mais fortes que os homens, porque quando dizem não é não, e são menos corruptíveis", ele disse em 2009, ao inaugurar a ala feminina de seu partido de centro-direita.
Enquanto alguns críticos consideram o elogio de Borisov às mulheres como pouco mais que uma trama cínica, destinada a dar a esse país pobre e notoriamente corrupto uma imagem mais moderna, poucos discutem que a potencialização das mulheres na vida pública búlgara está atingindo novas alturas. Mulheres em cargos elevados incluem a ministra da Justiça, a prefeita de Sófia, a presidente do Parlamento, a indicada para liderar a ajuda humanitária da União Europeia e a chefe do gabinete do primeiro-ministro.
Irina Bokova, 57, diplomata búlgara que recentemente derrotou o ministro da Cultura egípcio para chefiar a Unesco (braço da ONU para cultura e educação), é mãe e perita em controle de armas. Nas eleições de 2009 para o Parlamento Europeu, 60% dos candidatos apresentados pelo partido de Borisov eram mulheres. E, depois das eleições nacionais, em julho, 34 dos 116 assentos do Parlamento búlgaro foram ocupados por mulheres.
Se seu lugar de destaque será permanente, é discutível. Do outro lado da fronteira, na Romênia, Monica Macovei, importante advogada de direitos humanos e combatente da corrupção, virou ministra da Justiça em 2004. Depois que a Romênia entrou para a UE, ela foi demitida e hoje está relegada à obscuridade no Parlamento Europeu.
Kamen Sildniski, vice-promotor-chefe, notou que não havia casos criminais de corrupção contra uma mulher na Bulgária e que as mulheres que se candidatavam ao Ministério Público constantemente superavam os homens em testes no detector de mentiras.
"É difícil admitir, mas as mulheres são menos corruptíveis que os homens, porque são mais avessas a riscos", disse.
Em círculos desenvolvimentistas, muitos preferem enfatizar a igualdade que vem com a promoção das mulheres, mais que a suposição de incorruptibilidade. Alguns afirmam que elas são educadas para ser mais éticas, e outros retrucam que as mulheres são igualmente corruptíveis, mas menos testadas.
No caso da Bulgária, sociólogos dizem que a recente ascensão das mulheres na política, instigada pelo mentor de Borisov, o ex-rei e premiê Simeon Saxe-Coburg-Gotha, pode ser localizada na era comunista, quando a ideologia socialista deu poder às mulheres para serem iguais aos homens.
Tatyana Kmetova, diretora-executiva do Centro de Estudos e Políticas Femininos, notou que, sob o comunismo, esperava-se que as mulheres trabalhassem, e muitas vezes recebiam salários iguais aos dos homens. "Nunca tivemos um movimento feminista neste país", ela disse, notando que, no final da década de 1970, a Bulgária tinha a maior porcentagem de mulheres trabalhadoras do mundo.
"Durante o comunismo, as mulheres na Bulgária participavam de quase todos os setores da vida, de gerentes de fábricas a médicas."
Yordanka Fandakova, a primeira mulher a ser prefeita de Sófia, que é mãe, avó e ex-diretora de escola, disse que enfrentou discriminação durante sua campanha para a prefeitura, quando adversários a chamaram de lacaia de Borisov. Antes das eleições, a principal firma de pesquisas de mercado do país publicou uma enquete que mostrava as qualidades que os moradores de Sófia procuravam em seu prefeito. Ser um homem estava no topo da lista.
Fandakova ganhou de forma arrasadora em novembro, de qualquer modo, e muitos atribuíram isso ao apoio de Borisov. "Durante a eleição meus adversários me chamavam de 'uma das boas meninas' de Borisov", ela disse. "A mídia tentou me tratar como fraca. Mas não perco tempo diferenciando entre homens e mulheres. Resultados são resultados."


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