São Paulo, segunda-feira, 08 de março de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Este robô está pronto para anotar seu pedido

Máquinas tentam conquistar humanos servindo comida

Por IAN DALY

PITTSBURGH - Na Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh, o professor Paul Rybski e alguns alunos de graduação exibiram sua mais avançada criação.
O ápice de dois anos de pesquisas e da perícia coletiva de 17 professores, subgraduados e alunos de doutorado no Grupo de Interação Humanos-Robôs é um robô equipado com um sistema de navegação a laser de US$ 20 mil, sensores de sonar e uma câmera Point Grey Bumblebee 2 estéreo que funciona como olhos da engenhoca.
Enquanto Rybski olhava como um pai orgulhoso, um aluno digitava em um laptop, e o robô rodava para a frente para cumprir sua função básica: entregar uma embalagem de barra de cereais.
"Olá, sou Snackbot", ele disse com uma voz não muito diferente da do HAL 9000 do filme "2001, Uma Odisseia no Espaço". "Vim entregar lanches para Ian. Ian está aqui?"
Respondi afirmativamente. "Oh, olá, Ian", ele disse. "Aqui está seu pedido. Acho que foi uma barra de cereal, certo?" Sim, foi. "Está bem, coma seu lanche. Tenho certeza de que está bom, mas não sei. Prefiro um lanche de eletricidade."
Desenhado para coletar informações sobre como os robôs interagem com pessoas, o Snackbot foi considerado para ter abordabilidade máxima em todos os detalhes, de sua altura à cor. "Imaginamos que a melhor maneira de fazer as pessoas interagirem com um robô é ter uma coisa que ofereça comida", disse Rybski.
O Snackbot é apenas um soldado em um verdadeiro exército de novos robôs projetados para servir e cozinhar alimentos e, durante o processo, atuar como embaixadores de boa vontade e vendedores de um futuro mais automatizado.
Em 2006, a empresa chinesa Fanxing Science and Technology revelou o que foi chamado de "o primeiro robô cozinheiro do mundo" -AIC-AI Cooking Robot-, que podia fritar, assar, ferver e cozinhar a vapor milhares de pratos chineses de pelo menos três regiões culinárias.
Em 2008, os cientistas do Laboratório de Algoritmos e Sistemas de Aprendizado de Lausanne, Suíça, apresentaram o Chief Cook Robot, que faz omeletes (as primeiras foram de presunto e Gruyère).
Em junho passado, na Exposição Internacional de Máquinas e Tecnologia de Alimentos em Tóquio, um robô com espátulas em vez de braços, Motoman SDA-10, preparou okonomiyaki (panquecas) para os participantes; outro robô segurava sushis com uma mão de aparência bastante realista.
E, um mês depois, em Nagoya, Japão, o restaurante Famen foi inaugurado com dois gigantescos braços robóticos que preparam até 800 tigelas de macarrão ramen por dia. Quando o movimento está fraco, os robôs apresentam um número cômico e uma luta com facas.
Em meio à recessão e a crescentes índices de desemprego em alguns países, a própria ideia de um chef-robô poderia parecer descuidada, no melhor dos casos -e ofensiva, no pior. No entanto, esses robôs não deverão dirigir as cozinhas tão cedo -e a economia ruim talvez seja parte do motivo. A US$ 100 mil o par, seu custo é "alto demais para fazer macarrão", disse o dono do Famen, Kenji Nagaya.
Mas eles poderão valer o preço em outro local de trabalho de Nagaya, a empresa de robótica Aisei, da qual ele é presidente. "Eu fiz e programei robôs industriais em nossa empresa durante muito tempo", disse. "Pensei que abrir uma loja de ramen com robôs teria um enorme impacto para promover nossos negócios."
Enquanto cozinhar certamente é uma maneira mais universal de exibir as habilidades de um robô do que, por exemplo, fazer solda a laser, também é única em sua capacidade de abordar algo mais profundo: ou seja, a irritação pública contra um futuro povoado por máquinas humanóides vingativas.
"Como se pode mudar essa ideia de que os robôs ficarão inteligentes demais e nos destruirão?", questiona Heather Knight, roboticista do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia. "Uma das maneiras mais rápidas de atingir o coração das pessoas é pela comida, certo?"
Na verdade, Aude Billard, cuja equipe projetou o Chief Cook Robot, disse que decidiu fazer omeletes porque "foi o primeiro prato que meu parceiro cozinhou para mim". Fazer omeletes deveria mostrar como um robô poderia ser "ensinado" a realizar tarefas complexas.
Enquanto os robôs podem ser desenvolvidos para essas tarefas, algumas artes culinárias são tão delicadas e antigas que nem mesmo os criadores dessas máquinas as confiariam a mãos mecânicas.
"Você gostaria que uma mão de robô fizesse seu sushi?", disse Mikio Shimizu, presidente da Squse, empresa responsável pela mão que segura os sushis. "Um robô nunca poderá ir além da habilidade ou da inteligência humanas."


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