São Paulo, segunda-feira, 08 de junho de 2009

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Teatro vienense de ópera exibe o novo desde 1801

Por MATTHEW GUREWITSCH

VIENA — Um grande teatro de ópera muitas vezes traz à memória as grandes obras que estrearam nele. O Theater an der Wien, em Viena, lembra uma que não estreou. A celestial “Flauta Mágica” de Mozart teve sua estreia no Theater auf der Wieden, há muito desaparecido. Foi em 1791, o último ano de Mozart, mas a moda da ópera continuou, depositando as bases para a nova casa, que abriu dez anos depois. Antes suburbano, o lugar hoje é central, ao lado das barracas de alimentos e dos restaurantes do popular Nachtsmarkt (Mercado Noturno).
Nos primeiros tempos, o Kapellmeister Beethoven dormiu lá durante mais de um ano de graça, enquanto servia de diretor. Com o passar dos anos, várias de suas sinfonias, dois de seus concertos, um oratório e “Fidelio”, sua única ópera, tiveram estreias lá. Assim como a confusão romântica “Rosamunde”, de Hermine von Chézy, lembrada apenas pela gloriosa música incidental de Schubert.
Diferentemente da Ópera Estatal de Viena, de renome internacional, e da menos prestigiosa Volksoper, que é subsidiada pelo governo austríaco, o Theater an der Wien é propriedade da cidade de Viena. Quando esta assumiu sua operação, em 1960, e durante algum tempo depois, as ofertas eram totalmente ecléticas.
Hoje o teatro adotou uma nova identidade como “nova ópera” de Viena. Roland Geyer, 56, diretor geral, não é dado a nostalgias. “Para os vienenses este é um lugar sagrado, exatamente porque respira tanta história”, disse Geyer recentemente. “Mas eu sou uma pessoa moderna que vive completamente no presente. Posso apreciar o passado, mas não quero idolatrá-lo.”
A nova ópera começou em 2006 com uma comemoração, durante um ano, dos 250 anos de Mozart. A escala é ideal para as óperas dele, que continuam sendo apresentadas ali e em outras companhias de ópera de Viena. Mas os pilares do repertório de Geyer são especialidades que outras instituições recusam: ópera barroca, obras de contemporâneos de Mozart e ópera do século 20 e posterior.
Um dos primeiros beneficiários da abertura e da curiosidade de Geyer foi o compositor americano Jake Heggie, cujo “Dead Man Walking” (O morto que anda) foi um sucesso no Theater an der Wien em uma encenação despojada de Nikolaus Lehnhoff. Heggie descreveu a experiência como simplesmente avassaladora: “O que estava um garoto de Ohio e da Califórnia (EUA) fazendo aqui neste incrível teatro histórico?”
Ele não será o último compositor contemporâneo a se perguntar isso. Geyer promete para este ano uma estreia encomendada, europeia ou mundial. A novidade para 2009-10 é “Die Bessenenen” (Os Possuídos), a adaptação por Johannes Kalitzke de um antigo thriller do experimentalista polonês do século 20 Witold Gombrowicz. Planejado para futuras temporadas estão “Postino” (Carteiro) de Daniel Catán, em coprodução com a ópera de Los Angeles, estrelada por Plácido Domingo; e “Harlot’s Progress”, baseado nos esboços de Hogarth, estrelada por Diana Damrau.
“Me orgulho muito disso”, disse Geyer. “Nesta temporada fizemos “The Rake’s Progress”, de Stravinsky, que também é inspirada em Hogarth. É um clássico moderno. Mas não quero parar aí. Esta sempre foi uma casa dedicada ao novo.”


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