São Paulo, segunda-feira, 08 de agosto de 2011

Texto Anterior | Índice | Comunicar Erros

O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.

No jazz, as vibrações vão além da norma

Por BEN RATLIFF

O som de um longo sustenido em um vibrafone, seja de uma nota ou de muitas, é uma das grandes criações da humanidade.
Esse é um instrumento que produz quase uma representação física do som; especialmente com o motor de vibrato ligado, quase se pode ver o acorde pairando no ar.
Por causa das propriedades do motor de vibrato, mecanismo rotativo sob as teclas que dá às notas esse efeito, os tocadores do instrumento podem parecer superficialmente iguais.
Mas dois álbuns do ano passado de jovens músicos de jazz americanos, ambos vibrafonistas, se destacam: "Sun Rooms", de Jason Adasiewicz, de Chicago, e "Waking Dreams", de Chris Dingman, de Nova York.
Eles produzem sons de vibrafone que não se escutam comumente. Dingman estudou música do sul da Índia e não tem dificuldades para interiorizar estruturas rítmicas incomuns, o tipo de coisa que ele toca nos conjuntos do saxofonista Steve Lehman. Em certas situações, ambos tocam muito alto: Adasiewicz com o trio de improvisações livres Starlicker e em duos recentes com o saxofonista Peter Brötzmann; Dingman em acordes precisos e metálicos com Lehman.
Ambos têm 30 e poucos anos e começaram como bateristas, como fazem muitos vibrafonistas. E ambos gostam de manter o pedal do sustenido apertado por muito tempo.
"Eu acho que as pessoas são ensinadas desde muito cedo a não fazer isso", disse Dingman. "Em certo sentido, está certo. Se você aperta o pedal, todas as notas tocam juntas, e você quer ouvir a linha melódica. Por isso, você precisa aprender a pedalar de maneira a impedir que as notas soem todas juntas."
Seu interesse por isso, e também pelo espaço entre as notas, distingue de maneira particular Dingman e Adasiewicz: eles parecem pensar no som pelo menos tanto quanto na técnica.
Em trechos de "Waking Dreams", que destaca baladas etéreas, escutam-se tons em movimento lento e quase ambiente ou o que Dingman chama de "sons lavados". Da mesma forma, "Sun Rooms", que deve muito mais a um tipo de jazz de meados dos anos 1960, é iluminado por acordes ricos, brilhantes e prolongados.
"Eu uso muito o pedal do sustenido e toco o instrumento com força", disse Adasiewicz. "Para mim, é como uma bateria."
Ultimamente, ele disse que começou a trabalhar com os sobretons que o instrumento produz. "O que nos prende é que essa coisa vai tocar quando você a atingir. Mesmo com a barra do abafador toda levantada, ainda vai tocar. Por isso, eu tenho criado coisas fazendo o instrumento tocar quase em distorção e, então, manipulo o que acontece. É isso que está começando a dominar minha execução hoje. As coisas não são silenciosas para mim."
Outra preocupação, ele disse, é pensar nas vibrações menos como um instrumento solo que recua no final de uma improvisação destacada.
Ele tenta manter o som na mistura o tempo todo, "como o baterista mantém o som de um prato de condução", ele explicou. "Não sei se já entendi realmente isso. Quero ficar lá e apenas mexer com a sessão de ritmos."
Algo inerente ao vibrafone é que ele promove flexibilidade. Os músicos de jazz que prosperam no momento são os que realmente podem tirar sentido do jazz dos últimos 75 anos, superando estrutura rígida ou frouxa, suavidade e dureza, seus blues e elementos de música clássica, seu swing e a falta dele. É, ao mesmo tempo, um instrumento de percussão e de cordas.
"Para mim, existe uma grande gama de expressão disponível no instrumento, ainda mais que no piano", disse Dingman.
"Bem, os pianistas podem tocar como uma orquestra inteira, não nesse sentido, mas, pelo menos, no sentido melódico, tocando frases. Quero dizer dinâmica, toque, som -a gama de expressão. É um instrumento em que se poderia tocar quase qualquer coisa, que não ficaria ruim."


Texto Anterior: A classe privilegiada criativa cubana faz suas 'panelinhas'
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.