São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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"Círculo da democracia" faz contrapeso à China

Por MARK LANDLER, JIM YARDLEY e MICHAEL WINES
HANÓI, Vietnã - A expansão militar chinesa e a assertiva política comercial de Pequim geram nervosismo por toda a Ásia, fazendo com que muitos dos seus vizinhos criem ou reavivem alianças para melhor defender seus interesses contra a ascendente superpotência.
De Tóquio a Nova Déli, um turbilhão diplomático vem dando aos americanos a oportunidade de se reafirmarem numa região onde a possibilidade de o país ser eclipsado pela China parece inevitável.
Na viagem à Ásia que teria início na sexta-feira, a mais longa de seu mandato, o presidente Barack Obama deve passar pelas maiores democracias da região -Índia, Indonésia, Coreia do Sul e Japão-, mas não pela China. Esses países e outros vizinhos deram passos, ainda que com variados graus de sinceridade, para amainar a assertividade chinesa na região.
Obama e o primeiro-ministro Manmohan Singh, da Índia, devem assinar um importante acordo de aviação militar e discutir a possível venda de caças.
Japão e Índia estão cortejando o Sudeste Asiático com acordos comerciais e falando em um "círculo da democracia". E o Vietnã tem uma relação cada vez mais calorosa com seu antigo inimigo, os EUA, em grande parte porque sua velha amiga, a China, tem amplas reivindicações territoriais no mar do Sul da China, que banha o Vietnã.
Os acordos e alianças não se destinam a conter a China. Mas sugerem uma mudança palpável na paisagem diplomática, como ficou demonstrado quando líderes de 18 países, a maioria do Sudeste Asiático, se reuniram no final de outubro em Hanói para uma reunião assombrada pelas tensões entre a China e os seus vizinhos. A disputa entre China e Japão por ilhas no mar do Leste da China dominou o encontro, e a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, propôs negociação tripartite para resolver a questão.
Além disso, os grandes parceiros comerciais da China se queixam de que o país intervém com agressividade para manter sua moeda desvalorizada. Suas recentes restrições às exportações dos cruciais minerais terras-raras, primeiro para o Japão e depois para os EUA e a Europa, abriu a perspectiva de que Pequim poderia usar suas posições dominantes em setores econômicos como arma diplomática e política.
E a rápida expansão naval da China, combinada com uma defesa estridente das suas reivindicações por territórios bem afastados das suas costas, persuadiu Japão, Coreia do Sul, Vietnã e Cingapura a reafirmarem seu entusiasmo pelo guarda-chuva de segurança dos EUA.
"A coisa mais comum que os líderes asiáticos têm dito, nos últimos 20 meses, nas minhas viagens é: 'Obrigado, estamos muito felizes por vocês estarem tendo um papel ativo na Ásia novamente'", disse Clinton em 28 de outubro no Havaí, antes de iniciar uma viagem por sete países da Ásia, o que incluiu uma parada de última hora na China. "A maioria desses países veio até nós e disse: 'Estamos preocupados com a China'", disse Kenneth Lieberthal, que foi assessor do presidente Bill Clinton para a China e hoje atua na Brookings Institution.
Mas nada disso deve levar a um impasse ao estilo da Guerra Fria. A China está plenamente integrada à economia global, e todos os seus vizinhos estão ávidos por aprofundar suas relações com ela. A China não trava guerras desde uma escaramuça fronteiriça com o Vietnã há três décadas e sempre enfatiza não ter a intenção de projetar seu poder por meio do uso da força.
Apesar disso, a Índia continua se promovendo como um contrapeso à China; o Japão está resolvendo uma disputa com os EUA a respeito de uma base militar; os vietnamitas estão negociando um acordo para obter tecnologia nuclear civil americana; e Washington, que praticamente ignorou o resto da Ásia enquanto travava guerras no Afeganistão e Iraque, vê uma oportunidade para recuperar influência.
A ascensão da China como uma potência autoritária também reavivou a sensação de que as democracias precisam se unir. K. Subrahmanyam, um influente analista estratégico na Índia, lembrou que metade da população mundial vive em democracias, e que das seis maiores potências do mundo apenas a China não aceitou esse regime.
Lidar com a China parece ser uma preocupação constante dos líderes asiáticos. Numa recente visita ao Japão, Singh discutiu com seu homólogo Naoto Kan sobre a prosperidade econômica da China, sua expansão militar e sua crescente assertividade territorial.
"O primeiro-ministro Kan estava interessado em entender como a Índia se relaciona com a China", disse a secretária de Relações Exteriores da Índia, Nirupama Rao. "Nosso primeiro-ministro disse que isso exige desenvolver confiança, proximidade e muita paciência."
A viagem de Singh ao Japão e a outros países foi parte da sua política de "Olhar para o Oriente", sem relação, segundo ele, com quaisquer atritos com a China. Mas a China está preocupada. No final de outubro, o "Diário do Povo", órgão oficial do Partido Comunista, publicou um artigo perguntando: "Será que a política indiana de 'Olhar para o Oriente' não significa 'Olhar um jeito de cercar a China'?"
"Os chineses perceberam a reunião de Hanói como o ataque de uma gangue contra eles", disse Charles Freeman, especialista em política e economia chinesa do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais. "Não há dúvida de que calcularam mal a sua posição na região."


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