São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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Nova Índia depende do financiamento externo

Por VIKAS BAJAJ
COIMBATORE, Índia - Uma fábrica têxtil abandonada foi demolida recentemente para dar lugar a uma outra, de tamanho gigantesco. As razões são evidentes em Coimbatore, uma cidade do sudeste indiano conhecida por ser a capital da indústria têxtil nacional.
A rúpia indiana está se valorizando -alta de 9% em relação ao dólar nos últimos 16 meses. Isso fez soar o alarme de emergência nas exportações, porque produtos como os têxteis ficaram mais caros no mercado internacional. E, quanto mais forte a rúpia se mostra, mais perigoso é o risco, a longo prazo, de aquecer demais a economia.
Mas, em vez de lutar contra a apreciação da moeda como o Brasil e outros países vêm fazendo, a Índia está deixando a rúpia se valorizar- pelo menos até agora.
O país está simplesmente faminto pelo capital estrangeiro, porque a entrada desse dinheiro está ajudando a desenvolver um modelo de economia moderno baseado no consumo.
A Alliance Mall está sendo construída por um empreendedor indiano com recursos da London-based Capital Shopping Centers e de uma empresa de investimentos da África do Sul.
Ao mesmo tempo, as montadoras estrangeiras Volkswagen e Nissan abriram suas primeiras revendedoras, esperando lucrar com o crescente nível de consumo de um mercado formado por 1,5 milhão de pessoas. O maior perdedor do novo padrão do câmbio indiano é a indústria de roupas. Apesar de representar somente 1% da economia nacional, é a segunda maior empregadora, atrás somente da agricultura.
"Todos os países estão protegendo seu câmbio. Por que não estamos?", disse Premal Udani, presidente do Conselho de Promoção da Exportação de Roupas da Índia.
Os formuladores da política indiana querem reduzir o estrago que o câmbio valorizado provoca em produtos de baixo valor agregado como as roupas. A exportação de outros artigos e serviços indianos, como software e farmacêuticos, não foram tão prejudicados, porque eles não são tão sensivos ao preço.
A entrada de capital contribui para que o índice de crescimento anual da economia fique perto de 9%. Esse dinheiro também está fazendo com que a Bolsa de Valores quebre seguidos recordes positivos. Um grande beneficiário do aumento do preço das ações tem sido o governo, porque está vendendo sua participação em estatais. A Coal India, a maior produtora de carvão do mundo, é um exemplo disso.
O governo, que amarga um deficit assustador, planeja levantar US$ 9 bilhões neste ano vindos da venda dessas participações para investir em empregos no campo para a população pobre, além de promover programas de bem-estar social. Uma rúpia forte reduz os gastos indianos com commodities, como o petróleo, produtos que precisa importar.
"Se a Índia está sustentando um crescimento de 8% ou 9%, o único responsável é o dinheiro", disse Nikhil Chaturvedi, diretor da Prozone, a empresa indiana que está construindo a fábrica. "A circulação livre do capital deveria ser permitida em todos os setores da economia".
Mas o deficit é um visível problema para os indianos. A Índia tem o quarto maior deficit entre as nações do G20, chegando a 3,1% do PIB. Tal desempenho coloca os indianos atrás dos EUA.
A longo prazo, a Índia precisa reduzir esse deficit, assim como sua dependência do capital estrangeiro, dinheiro esse que se mostra inconstante. Durante a recente crise financeira, por exemplo, investidores estrangeiros retiraram seus investimentos da Índia e de outros mercados emergentes, o que provocou momento de queda econômica.
Por volta de 55 quilômetros a leste de Coimbature, na cidade de Tiruppur, trabalhadores e proprietários de fábricas de roupa dizem que a rúpia fortalecida está provocando perda do mercado para países como China e Bangladesh que atrelam o valor de suas moedas ao dólar. As empresas dos concorrentes têm condições de oferecer roupas mais baratas para o Wal-Mart, H&M e outros compradores ocidentais.
Em um discurso recente, Duvvuri Subbarao, o presidente do Banco Central, revelou algumas referências para agir diante da valorização da moeda.
"Duas considerações estão guiando nosso comportamento", disse. "A primeira é que nossa política deve ser o mais estável possível, sem adotar movimentos bruscos. Segundo, nosso uso de mecanismos de controle deve ser prudente".


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