São Paulo, segunda-feira, 08 de novembro de 2010

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ENSAIO - DEBORAH TANNEN

Conversar com irmãs nos deixa felizes


Irmãs oferecem conversas mais íntimas e longas


"Ter uma irmã o torna mais feliz": esse era o título de um artigo recente sobre um estudo que concluiu que adolescentes que têm uma irmã apresentam menor probabilidade de relatar sentimentos como "estou infeliz, triste ou deprimido" e "sinto que ninguém me ama".
Outros estudos chegaram a conclusões semelhantes. Mas por que ter uma irmã nos faria mais felizes?
A resposta habitual -que as garotas e mulheres têm maior probabilidade que os rapazes e homens de falar sobre emoções- não é totalmente satisfatória. Grande parte do meu trabalho ao longo dos anos desenvolveu a premissa de que os estilos de amizade e conversa das mulheres não são inerentemente melhores que os dos homens, apenas diferentes.
Um homem certa vez me contou que havia passado o dia com um amigo que estava se divorciando. Quando ele voltou para casa, sua mulher lhe perguntou como seu amigo estava enfrentando a situação. Ele respondeu: "Não sei. Não falamos sobre isso".
Sua mulher o repreendeu. Evidentemente, ela disse, o amigo precisava falar sobre o que estava passando. Isso fez o homem se sentir mal. Então, ele ficou aliviado ao ler no meu livro "You Just Don't Understand" [você simplesmente não compreende] que fazer coisas juntos pode ser um conforto em si mesmo, outra maneira de demonstrar interesse. Perguntar sobre o divórcio poderia ter feito seu amigo sentir-se pior, já que pensaria naquilo.
Mas, se falar sobre problemas não é necessariamente um reconforto, ter irmãs não deveria tornar os homens mais felizes do que ter irmãos. Mas o estudo recente -da Universidade Brigham Young, em Utah- é corroborado por outros.
No ano passado, por exemplo, psicólogos britânicos descobriram que jovens que haviam crescido com pelo menos uma irmã tendiam a ser mais felizes e mais otimistas, especialmente se seus pais fossem divorciados. Outro pesquisador britânico encontrou um padrão semelhante entre adultos mais velhos.
Minha própria pesquisa recente sobre irmãs sugere uma dinâmica mais sutil. Entrevistei mais de cem mulheres sobre suas irmãs, mas se elas também tivessem irmãos eu lhes pedia para comparar. A maioria disse que conversava com suas irmãs com maior frequência, durante mais tempo e, sim, sobre assuntos mais pessoais. Isto, muitas vezes, significava que elas se sentiam mais próximas de suas irmãs, mas nem sempre.
Uma mulher disse que conversa durante horas por telefone com seus dois irmãos, assim como com suas duas irmãs. Mas os assuntos diferem. Ela conversa com as irmãs sobre suas vidas pessoais e com os irmãos sobre história, geografia e livros. Conversar cria e reforça conexões, tanto com irmãos quanto com irmãs, independentemente do assunto.
Uma aluna da minha classe contou uma situação que mostra como isso pode funcionar. Quando o cachorro da família morreu, todos os irmãos (um homem e três mulheres) telefonaram uns para os outros. As irmãs contaram às outras sobre como sentiam falta do cachorro e como estavam tristes. O irmão manifestou preocupação por todos da família, mas nada disse sobre como ele próprio se sentia.
Minha aluna não duvidava de que seu irmão sentisse a mesma coisa que suas irmãs; apenas ele não o dizia diretamente. E eu aposto que as conversas por telefone serviram para ele exatamente ao mesmo objetivo que as ligações das irmãs para elas: fornecer conforto diante de sua perda comum.


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